O executivo do grupo J&F Ricardo Saud ficou em silêncio durante depoimento à Polícia Federal na tarde desta quarta-feira (10), em um inquérito que investiga lavagem de dinheiro e corrupção na edição de um decreto do presidente Michel Temer que beneficiou empresas do setor de portos.
De acordo com a PF, Saud ficou em silêncio durante as cerca de três horas de questionamentos. O depoimento foi autorizado pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). O executivo, que chegou por volta das 14h30, deixou a sede da PF em Brasília pouco depois das 18h.
A investigação sobre o decreto tem como alvos Temer, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, além de Antônio Celso Grecco e Ricardo Conrado Mesquita, executivos da Rodrimar, empresa concessionária no porto de Santos. A suspeita é de que Temer recebeu propina pela edição do decreto que teria beneficiado a Rodrimar.
Nesse contexto, no ano passado, em delação premiada, o executivo do grupo controlador do frigorífico JBS afirmou que Temer indicou um endereço no qual Saud deveria entregar R$ 1 milhão.
Esse dinheiro, segundo o delator, foi entregue na campanha de 2014 a João Batista Lima Filho, conhecido como coronel Lima, suposto intermediário de Temer.
Em depoimento ao Ministério Público, o executivo narrou a solicitação que teria sido feita por Temer:
Saud: O Temer me deu um papelzinho e falou: ‘Olha Ricardo, tem R$ 1 milhão que eu quero que você entregue em dinheiro nesse endereço aqui’. Me deu o endereço.
Procurador: O Temer falou isso?
Saud: O Temer falou isso, na porta do escritório dele, na calçada, só eu e ele na rua.
Procurador: Na Praça Panamericana?
Saud: Na Praça Panamericana. Eu peguei e mandei o Florisvaldo lá. Falei: ‘Florisvaldo, vai lá saber o que que é isso’. E lá funciona uma empresa que já foi investigada na Lava Jato, que é a tal de Argeplan.
Em setembro de 2017, o ministro Luís Roberto Barroso autorizou a abertura de inquérito para investigar o caso.
Barroso afirma que “os elementos colhidos revelam que Rocha Loures, homem sabidamente de confiança do presidente Temer, menciona pessoas que poderiam ser intermediárias de repasses ilícitos para o próprio presidente, em troca da edição de ato normativo de específico interesse da Rodrimar”.
A defesa de Michel Temer nega as acusações e diz que a assinatura do decreto dos portos foi precedida de amplo e público debate com o setor.
Os advogados de Temer declararam também que o nome do presidente foi mais uma vez envolvido em alegações "falaciosas e descabidas" e que as informações do inquérito estão "contaminadas por inverdades e distorções maliciosas da realidade".
O decreto foi assinado por Temer em maio do ano passado e aumentou o prazo dos contratos de concessão de áreas portuárias de 25 anos para 35 anos, podendo ser prorrogado até 70 anos, beneficiando as atuais empresas concessionárias.
Perguntas a Temer
Na quarta-feira passada (3), o STF enviou ao Palácio do Planalto uma lista com 50 perguntas elaboradas pela PF para serem respondidas pelo presidente Michel Temer dentro desse inquérito.
As perguntas foram elaboradas pelo delegado da Cleyber Malta Lopes, responsável pelo inquérito que apura suspeitas de que um decreto presidencial foi feito sob medida para atender aos interesses do setor portuário. O STF deu prazo de 15 dias para o presidente responder às perguntas.
Segundo a revista “Época”, as perguntas revelam suspeitas de recebimento de propina por Michel Temer e seus principais aliados. Entre eles, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, famoso por ter sido flagrado em uma corridinha com a mala de R$ 500 mil entregue pelo frigorífico JBS.
Escutas telefônicas divulgadas pelo STF mostram Rocha Loures defendendo interesses de empresas que atuam nos portos brasileiros.
Na gravação, Rocha Loures insiste com Gustavo Rocha, chefe para assuntos jurídicos da Casa Civil, em uma mudança no decreto sobre portos para beneficiar também quem conseguiu concessões antes de 1993, caso da Rodrimar, que atua no porto de Santos.
Segundo Ricardo Saud, Rocha Loures indicou Ricardo Mesquita, da Rodrimar, para intermediar o pagamento de uma propina semanal.
A indicação ocorreu no encontro em que o ex-assessor especial de Temer recebeu a mala com os R$ 500 mil.
Fonte: G1
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