Pelo menos 35 pessoas ficaram feridas, entre elas o deputado opositor Carlos Paparoni, durante uma manifestação opositora que aconteceu nesta sexta-feira (26) em Caracas e que foi dispersada pela polícia, informaram autoridades e fontes médicas.
Desde 1º de abril, a Venezuela vive uma onda de protestos. Muitos deles acabaram em violência e tais atos já deixaram 57 mortes e 1.000 feridos, de acordo com o Ministério Público. Os protestos se multiplicam em meio a uma severa crise econômica, com uma inflação descontrolada - estimada em 720% pelo FMI para 2017 - e uma escassez de alimentos básicos e medicamentos.
A Prefeitura de Baruta informou no Twitter que o município atendeu "35 pessoas durante a manifestação de hoje". O diretor do Serviço de Saúde de Baruta, Enrique Montbrun, explicou à emissora "Unión Radio" que foram atendidas hoje "pessoas atingidas por bombas de gás lacrimogêneo, pedras e outros objetos contundentes", enquanto outros sofreram com os efeitos da fumaça.
Já o deputado opositor Tomás Guanipa indicou a essa mesma emissora que o parlamentar Carlos Paparoni foi atingido em uma perna por uma bola de gude supostamente disparada pela Guarda Nacional Bolivariana. Paparoni foi levado para um hospital na zona leste da cidade para ser atendido.
Em vídeo postado em sua conta no Twitter, ele disse estar bem e que os médicos conseguiram remover os estilhaços de vidro que ficaram no ferimento.
A oposição venezuelana tentou sem sucesso fazer uma passeata até a Praça Los Próceres, em Caracas, perto do Forte Tiuna, o principal do país. A marcha, que, segundo a oposição, tinha sido convocada para exigir das Forças Armadas o cumprimento da Constituição, foi dispersada pela Polícia.
No outro extremo da cidade, uma maré vermelha de chavistas com cartazes com dizeres como "Sim à Constituinte" se dirigia ao Palácio Presidencial de Miraflores, em apoio ao projeto convocado pelo presidente Maduro.
Assembleia Constituinte
À oposição somou-se um grupo de militares reformados, que denunciaram os "atropelos" de seus colegas da ativa contra manifestantes e expressaram seu repúdio à Assembleia Constituinte proposta por Maduro, que quer introduzir "um regime comunista".
O governo responsabiliza os opositores, alguns armados com pedras e coquetéis molotov, de confrontos fora de controle. Mas seus adversários afirmam que têm que se defender das bombas de gás lacrimogêneo, das balas de borracha e, inclusive, de munição letal.
Esta semana, o governo ativou o projeto - cuja votação está prevista para o fim de julho. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) inclusive convidou os candidatos a se inscreverem na quinta e na sexta-feira da próxima semana.
A iniciativa é rejeitada pela oposição, alegando que com este projeto o único que Maduro quer é se perpetuar no poder. A oposição e vários analistas advertem, ainda, que o sistema de eleição da Constituinte - ao qual chamam de fraudulento - nega o voto universal e envolverá apenas as bases setoriais fiéis ao chavismo.
Maduro esclareceu que serão eleitos 540 constituintes, 364 por municípios e 176 em votações por setores sociais como trabalhadores, indígenas e camponeses. Mas cada candidato deve receber luz verde do CNE, acusado de servir ao governo.
Cobertura limitada
Dois funcionários da rede de TV de notícias Globovisión disseram nesta sexta à agência Reuters que a emissora transmitida 24 horas, recebe alertas habituais da reguladora estatal de telecomunicações, Conatel, contra exibição de imagens ao vivo de confrontos entre manifestantes antigoverno e forças da segurança, ou transmissão de termos como “ditadura” e “repressão”.
“É uma ameaça diária”, disse um dos funcionários, citando informações de diretores da emissora e pedindo para não ser identificado por temores de represálias. “A Conatel está tomando decisões sobre a cobertura.”
Segundo as fontes, duas autoridades do governo muitas vezes vigiam as antenas da rede de TV nas montanhas acima de Caracas, preparados para tirá-la do ar caso reguladores desaprovem a cobertura de protestos antigoverno.
Em contraste com ondas antigas de agitação na Venezuela, especialmente durante o governo Hugo Chávez, de 1999 a 2013, as três principais redes de TV privadas do país forneceram cobertura ao vivo mínima das mais recentes manifestações antigoverno. As emissoras raramente exibem mais de alguns minutos de imagens em tempo real de manifestações.
Fonte: G1