Estatísticas do FBI sugerem que dezembro seria o mês mais movimentado para as vendas de armas. Mas por quê?
Em uma manhã fria de dezembro em Chantilly, no estado americano da Virgínia, a Blue Ridge Arsenal vibra como qualquer loja movimentada em fim de ano.
O ambiente é familiar: há música, uma árvore pisca, clientes se desejam Feliz Natal. Mas há algo de diferente.
As luzes da árvore são feitas de cápsulas de balas. Quase não se escuta o rádio – o bangue-bangue das pistas de tiros, no fundo da loja, abafa qualquer som.
Os clientes da loja já sabem: para comprar armas em um revendedor oficial, é preciso passar por verificações de antecedentes.
Desde o início deste sistema, em 2008, dezembro se tornou o mês mais movimentado nas lojas de armamento.
Mark Warner, o representante de vendas da loja, diz que a razão é óbvia. "São os presentes de fim de ano."
Dar uma arma a alguém de presente de Natal pode parecer estranho para quem não nasceu nos Estados Unidos.
"Aqui, é o equivalente a dar diamantes", reage Mark.
"Tenho clientes que são marido e mulher. Ela ganha bolsas Louis Vuitton, ele ganha armas de fogo", diz. "É assim que se presenteiam."
Crianças
Patrick Hudgens, por exemplo, planeja comprar um fuzil de caça de Natal para seu filho de 16 anos.
Ele quer um fuzil 357 que custa US$ 525 (ou R$ 1730, aproximadamente). Se a compra se concretizar, esta será a "quarta ou quinta vez" em que presenteia o filho com armas no Natal ou aniversários.
Quando o filho tinha 6 anos, Patrick o ensinou a atirar com armas de pressão. Quando "aprendeu os princípios do uso seguro de armas", a criança evoluiu para modelos mais poderosos.
"É como engatinhar, depois andar, depois correr", diz o pai.
Agora ele "sempre vai atirar" com o filho para competir ou caçar. Para Patrick, esta é uma "clássica atividade de pais e filhos".
"Isso significou crescer durante a minha infância, e na infância do meu pai, e do pai dele", ele explica. "É uma tradição na nossa família. É divertido e agregador."
É como uma tradição na família.
"Quando fiz 11 anos, minha primeira arma foi uma grande questão para o meu pai. Ele não queria me dar qualquer lixo - era algo que precisava se tornar uma herança, algo a transferir para meus filhos um dia."
Análise de antecedentes- Antes da venda, o comerciante licenciado checa os antecedentes do comprador com o FBI por telefone ou pelo computador.
As checagens acontecem normalmente em alguns minutos.
Clientes podem ser reprovados por alguns motivos - por exemplo, se tiverem sido presos no passado.
Mais de 275 milhões de verificações foram feitas desde novembro de 1998 - mais de um milhão de pessoas foram reprovadas
Escola
Como Patrick, Mark, o representante de vendas, comemora que suas filhas – duas gêmeas de 17 anos - usem armas. Elas podem atirar se suas notas na escola forem boas.
"Eu cresci cercado de tiros", conta Mark.
"Em vez de me pedir para ficar em casa jogando videogames, minha mãe dizia para eu sair, voltar para casa antes de anoitecer e não me sujar muito."
"Isso significava pescar, nadar, disparar contra alvos, caçar um pouco. As armas foram uma parte muito importante do meu crescimento."
O vendedor continua: "No estacionamento da minha escola, sempre havia caminhões com armas. As pessoas iam caçar depois da aula."
"Mas nós não disparamos contra nós mesmos. Não havia violência na escola. Nós respeitamos uns aos outros e respeitamos também as armas."
Segundo Mark, a arma mais comprada por pais para filhos é o fuzil.
"Principalmente calibre 22. Barata e divertida para atirar", diz. "Em 99% dos casos, é para a prática de tiro ao alvo. É uma emoção enorme ver uma criança jovem conseguir atingir o centro do alvo, e de novo, e de novo, com aquele brilho no rosto."
A reportagem pergunta se não há nada de estranho em embrulhar uma arma e deixá-la debaixo da árvore.
"Espero que me deem uma de presente de Natal", ele diz, rindo. "Assim, não vou precisar comprar uma para mim."
Passado
Para se presentear alguém com armas nos EUA é preciso seguir algumas regras.
Primeiro, é crime comprar uma arma para alguém que não tem permissão de porte - ou seja, alguém reprovado na análise de antecedentes.
Se você quiser dar uma arma a alguém de um estado diferente, é preciso fazê-lo por meio de um revendedor licenciado, para que o destinatário seja verificado.
Mas na Virginia, por exemplo, você pode dar uma arma para familiares ou amigos sem que eles sejam verificados. Mas a loja toma cuidado.
"Digamos que John queira comprar uma arma para sua esposa.", diz Mark. "Nós o estimulamos a pagar pela arma, deixá-la aqui, e vir com ela para buscá-la. Assim, aproveitamos para verificar a pessoa presenteada."
É comum que Mark desista de uma venda, se não estiver seguro.
"Fazemos muitas perguntas", diz. "Se eles escorregarem ou disserem algo que não me deixa confortável, eles não levam e ponto."
Acontece muito?
"Sim, um pouco", diz Mark, que trabalha na loja há quase 20 anos. "Os donos nos apoiam 100%."
Fonte: G1
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