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terça-feira, dezembro 12, 2017

Esquema de propina de Cabral pagava 13º e 14º salários, diz delator

A pontado pela Operação Lava Jato como gerente do esquema de propinas da organização criminosa comandada pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), Carlos Miranda detalhou os valores dos pagamentos que ele e os ex-secretários Wilson Carlos e Régis Fichtner recebiam.
As informações foram dadas nesta segunda-feira (11), durante depoimento na 7ª Vara Criminal Federal do Rio. Quase ao fim da audiência, Miranda afirmou que o esquema de propina funcionou até 2016, às vésperas da prisão de Cabral.
"Tirávamos cerca de R$ 150 mil por mês. Também havia prêmios no fim do ano, como uma espécie de 13º ou 14º salários. Tudo era pago em dinheiro", completou Miranda.
Segundo ele, a organização era controlada por Cabral. Já Wilson Carlos era o responsável pelos contatos com as empresas, e Fichtner cuidava do andamento do esquema dentro da estrutura do governo. Questionado se saberia dizer quanto a organização teria movimentado, Miranda estimou que os valores se aproximariam de meio bilhão de reais, desde a década de 90.
No entanto, o delator foi, em seguida, rebatido por um procurador. O representante do MPF ressaltou que, apenas no exterior, a Lava Jato encontrou R$ 300 milhões que seriam da quadrilha. Miranda assentiu e explicou que era apenas uma estimativa.
Toda a movimentação do pagamento de propina era registrada em uma planilha que permanecia em poder de Miranda. Esta era dividida em duas partes armazenadas no e-mail de Miranda, e as senhas de acesso eram trocadas com frequência. Ao verificar o avanço das investigações da Lava Jato sobre o grupo comandado por Cabral, Miranda decidiu destruir o documento.
O depoimento de Miranda é considerado fundamental para esclarecer o funcionamento do esquema. De todos os colaboradores, Miranda é apontado como um dos mais próximos ao ex-governador Cabral, cuidando, inclusive, de sua declaração do Imposto de Renda.

"Eu cuidava das despesas pessoais do governador, inclusive da movimentação em suas contas", admitiu Miranda em seu depoimento.
Transportes
O ex-assessor da Secretaria de Estado de Transportes Luiz Carlos Velloso também prestou depoimento nesta segunda e afirmou que o deputado federal Júlio Lopes (PP-RJ) - que foi secretário de Transportes - teve uma conta em uma corretora na qual acumulou R$ 3,5 milhões referentes à colaboração de campanha eleitoral.
Velloso disse, no entanto, que desse total, R$ 1,5 milhão teria sido usado para o pagamento de despesas pessoais dele próprio e de Lopes.
Em nota, Julio Lopes alegou que "as supostas afirmações de Luiz Carlos Velloso, em audiência na data de hoje são inverídicas e caluniosas".
"Acaso confirmada a existência da delação, não será, lamentavelmente, o primeiro caso, na história recente de nosso país, em que uma pessoa mente para sair da prisão. O deputado Julio Lopes confia no Poder Judiciário e no Ministério Público Federal e tem convicção de que a verdade prevalecerá ao final de uma investigação isenta", informa o texto.
Agência de comunicação
Ainda durante o depoimento, Miranda afirmou que a Carioca Engenharia - uma das empresas que participou do esquema de pagamento de propinas à organização - pagou uma conta de cerca de R$ 200 mil à agência de comunicação FSB.
Segundo ele, tratava-se do pagamento de trabalho feito pela empresa durante a campanha de reeleição do governador. Esse valor, afirmou Miranda, foi abatido do total de propina que a Carioca pagava à organização.
Em nota, a FSB negou as declarações de Miranda. "Não conhecemos Carlos Miranda, nunca tivemos contato com ele e ficamos absolutamente surpresos com suas declarações pela total falta de fundamento. A FSB tem 38 anos de história no mercado e pautamos nossa atuação por um código de conduta e ética baseado em normas rígidas de compliance", declarou a empresa no texto.

Na quarta-feira (6), Miranda prestou depoimento pela primeira vez em juízo como delator no processo que apura crimes da operação Ratatouille. Ele confirmou que o anel comprado por Fernando Cavendish foi uma forma de propina para Cabral.
"A joia comprada por Fernando Cavendish foi uma forma de propina. O valor foi descontado do valor de propina que Cavendish pagava para a organização [de Cabral]", disse Miranda.
No dia anteior, Cabral havia classificado a doação da joia de mais de 200 mil euros para sua mulher, em 2009, como "presente de puxa-saco" de Cavendish.
Também em nota, a defesa de Régis Fichtner declarou:
"Trata-se de uma afirmação mentirosa. Regis Fichtner nunca recebeu vantagem financeira indevida. Acrescente-se que seu nome não foi mencionado em acordos de leniência de empresas que prestaram serviços ao ooverno do Estado do Rio de Janeiro. A defesa não pode deixar de sublinhar a recorrência de denúncias tão logo o cliente recuperou sua liberdade, em processos dos quais não participa, sem amparo em documentos comprobatórios e com o direito de defesa flagrantemente cerceado."
Cabral também nega o uso de propina e, em outros depoimentos, disse que os valores se tratavam de sobras de campanha.

Fonte: G1

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