O Curdistão iraquiano realizou nesta segunda-feira (25) um referendo de independência. Muitos moradores da região saíram para a rua em celebração e, na cidade de Kirkuk, o jornalista neo-zelandês Campbell MacDiarmid encontrou até alguns homens com uma bandeira brasileira em meio aos festejos.
"Estávamos dirigindo no trânsito em uma área curda onde havia muita comemoração. Entre esses carros e pessoas acenando bandeiras curdas, vi esses caras na parte de trás de uma caminhonete que acenavam com uma bandeira brasileira", contou MacDiarmid ao G1.
"Pedi ao amigo que estava comigo para gritar pela janela e perguntar por que eles tinham essa bandeira. O cara respondeu 'acabaram as bandeiras curdas, então eu trouxe isso'. Ele disse isso em curdo e meu amigo traduziu para mim. Não tenho certeza se o cara estava brincando ou não, mas não sei nenhuma outra razão pela qual ele estaria acenando com uma bandeira do Brasil", completou.
Referendo
As seções eleitorais no Curdistão iraquiano fecharam nesta segunda-feira às 19h locais (16h em Brasília), uma hora após o previsto, no referendo que decide sobre a independência da região autônoma do Iraque.
A Alta Comissão Eleitoral não deu detalhes de quando serão divulgados os resultados, mas observadores disseram à Agência Efe que a contagem dos votos pode durar entre 24 e 48 horas.
O Curdistão iraquiano é uma área rica em petróleo e que se tornou aliada da coalizão internacional antiterrorista. Fica na região montanhosa do norte do Iraque e tem 4,5 milhões de habitantes, o que equivale a entre 15% e 20% da população iraquiana.
As línguas oficiais são o curdo e o árabe, e a religião majoritária é o islamismo sunita.
O Curdistão é composto de três províncias: Dohuk, Erbil e Solimania, mas os curdos iraquianos reclamam outros territórios a Bagdá, especialmente a província multiétnica e petroleira de Kirkuk.
Queda do petróleo
A região enfrenta uma complicada situação econômica, causada sobretudo pela queda dos preços do petróleo, sua principal fonte de renda. Os gastos com militantes para lutar contra os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) também têm consequências sobre seu orçamento.
As forças curdas são um aliado-chave da coalizão liderada pelos Estados Unidos, com cuja ajuda conseguiram expulsar os extremistas das zonas fronteiriças do Curdistão.
Os combatentes curdos, chamados peshmergas, participaram da batalha na província de Nínive (ao norte), cuja capital, Mossul, foi reconquistada no dia 10 de julho passado pelas forças iraquianas.
A região autônoma acolheu, mesmo assim, centenas de milhares de deslocados que tinham fugido dos terroristas e dos combates.
Autônomo desde 1991
O Curdistão iraquiano, cuja capital é Erbil, tornou-se uma região autônoma por causa da Constituição do Iraque de 2005, que instaurou uma república federal.
A região já gozava de autonomia desde a Guerra do Golfo de 1991. Após a derrota iraquiana, os curdos se revoltaram, mas a repressão provocou um êxodo e forçou os Estados Unidos e seus aliados a instaurarem uma zona de exclusão aérea para proteger seus moradores.
Em 1992, os curdos iraquianos elegeram um Parlamento e formaram um governo. Mas essas instituições ficaram paralisadas entre 1994 e 1998 por causa dos violentos confrontos entre o Partido Democrático do Curdistão (PDC) e seu rival da União Patriótica do Curdistão (UPC).
Em 2003, os curdos se uniram à coalizão internacional para derrubar Saddam Hussein e, no começo de 2016, estabeleceram uma administração unificada.
Masud Barzani, eleito presidente do Curdistão em 2005, chegou ao fim do seu mandato em agosto de 2015, mas o líder do PDC permaneceu no poder, apesar das críticas da oposição. O Parlamento da região foi suspenso em 2015.
Em 3 de fevereiro de 2016, Barzani afirmou que "chegou a hora" de os curdos do Iraque se pronunciarem por referendo sobre a criação de um estado.
"Esse referendo não vai levar obrigatoriamente à criação imediata de um Estado (curdo), mas vai permitir conhecer a vontade e a opinião do povo do Curdistão sobre seu futuro", declarou.
Em 7 de junho de 2017, o Curdistão anunciou a realização da consulta em 25 de setembro. O primeiro-ministro iraquiano Haider al Abadi disse entender o desejo dos curdos, mas pediu respeito à Constituição.
Muitos países estrangeiros se opõem ao referendo, entre eles os vizinhos Irã e Turquia, que também têm minorias curdas.
Em 12 de setembro de 2017, o Parlamento federal votou contra a consulta e, dois dias depois, retirou o governador de Kirkuk que tinha decidido organizar o referendo em sua região.
Fonte: G1
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