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sexta-feira, junho 16, 2017

Despedida a Wilma vai do caderno ao caixão


Separam a frente do altar da porta central da Catedral Metropolitana de Natal 70 peças de cerâmica verde-musgo. Próximo às 11h desta sexta-feira, as peças começaram se ocupar por quem foi dar o último adeus a ex-governadora Wilma de Faria. Quando finalmente a fila se estendia da porta ao caixão, “O Caderno”, de Toquinho, começou a reverberar na igreja, na voz de padre Fábio de Melo. A canção segue pontuada em itálico ao longo do texto.

Tanto mais se avançam em direção ao caixão, mais as pessoas se consternam.  Sou eu que vou seguir você do primeiro rabisco até o bê-a-bá.

“Eu tinha que vir. Ela fez tanto por nós”, desabafou Mara Celine de Gouveia, 54, para quem Wilma representava exemplo de persistência. Sou eu que vou ser seu colega, seus problemas ajudar a resolver, te acompanhar nas provas bimestrais, você vai ver.

À cabeceira do caixão, os dois filhos mais famosos de Wilma contrastam claramente. A deputada Márcia Maia é como uma fortificação intransponível. Ao invés de receber as condolências, é ela quem consola quem já chega aos prantos após atravessar as 70 peças de cerâmica. Serei, de você, confidente fiel se seu pranto molhar meu papel.

Lauro Maia, por outro lado, está aterrado. Alterna entre sentar e levantar para executar a mesma tarefa: fitar a mãe no caixão. Ele balbucia coisas inaudíveis, antes de se ancorar em alguém e chorar. Não quis dar entrevistas. O que está escrito em mim, comigo ficará guardado se lhe dá prazer. A vida segue sempre em frente. O que se há de fazer.

Presidente do Conselho De Segurança Comunitário, Fábio Nascimento foi se aproximando do caixão com um objeto retangular sob o braço esquerdo. Só quando alcançou a corda de isolamento dentro da qual jaz Wilma encerrada no ataúde, o objeto do homem se revelou um quadro, erguido para Márcia Maia.

“Veja, aqui, em 2006, ela tirou esse momento para a gente. Sua mãe tinha disso, dona Márcia. Tinha disso”, repetiu Nascimento, sem conseguir concluir sua mensagem. A imagem parece ter desestabilizado Márcia, que recebeu chorando a pessoa seguinte. A reportagem foi atrás do homem e do quadro.

A imagem já até está desbotada. Nela, Wilma se cerca do que parecem ser escoteiros. Nascimento explica. “Essa foto no desfile de 7 de setembro de 2006. Nesse dia, ela me disse que não tinha luta onde não pudéssemos combater”, disse com a voz embargada.

Então, como que procurando um alívio para um dor repentina, elevou a mão ao peito antes de concluir: “Jamais me esquecerei dela”.

Só peço a você um favor, se puder, não me esqueça num canto qualquer.

Fonte: Portal no Ar

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