Durante uma reunião da Comissão de Educação da Câmara Municipal de Natal, nesta segunda-feira (10), o vereador Cícero Martins (PTB) foi enganado por uma notícia falsa sobre uma suposta aprovação de cota para homossexuais em concursos públicos e, ainda por cima, acabou tecendo comentários preconceituosos. Disse ele: “Não estou conseguindo conviver com esse tipo de coisa". E acrescentou: "Não vou admitir que isso é uma coisa normal da cabeça humana”.
Procurado pelo G1, Cícero Martins disse que é contra qualquer tipo de cota, que não tem nenhum tipo de preconceito contra homossexuais e completou: “Não acho que fui irresponsável. Não posso sair apurando tudo que eu vejo nos sites que confio”.
Notícia falsa
A notícia sobre a suposta aprovação das cotas para gays em concursos públicos é falsa. O texto diz que o autor do projeto é o deputado Marquinhos Freire (PT-BA), que ele será votado ainda neste mês e que já conta com o apoio de 254 deputados federais -- o que corresponde a quase metade da Casa. A notícia também menciona uma entidade, chamada Federação Brasileira dos Bissexuais, dizendo que ela está descontente com a não inclusão de pessoas com essa orientação sexual.
Não há nenhum projeto semelhante tramitando no Congresso. Uma simples busca por palavra-chave no site da Câmara já é capaz de atestar a não veracidade da notícia. O texto, aliás, não cita o número do projeto de lei. Além disso, o deputado também não existe. A liderança do PT na Câmara diz que não há nenhum parlamentar com esse nome na atual legislatura nem em anteriores. Para completar, não há nenhuma referência a uma entidade batizada de Federação Brasileira dos Bissexuais no país.
Cícero Martins afirmou que não recebeu a notícia em nenhuma rede social, achou durante pesquisas cotidianas e ficou sabendo que era falsa após a reunião, já á noite. “Não me baseio em qualquer conteúdo. Encarei o tema como eu acho que a grande maioria do Brasil fez”, explicou.
O vereador disse que independente da veracidade da notícia, mantém a mesma opinião sobre as cotas. “Eu tenho preconceito contra cotas. Joaquim Barbosa chegou onde está sem auxílio de cotas, por exemplo. Sou contra”, ressaltou.
O vereador disse que sabe da importância de desconfiar das coisas que vê na internet, mas que achou a notícia em um grande site. “Era a manchete de um veículo que dou muita credibilidade. Não sou jornalista, não posso sair apurando tudo o que vejo na internet. Eu confiei”, explicou.
"Não sou jornalista, não posso sair apurando tudo o que vejo na internet. Eu confiei"
Declarações homofóbicas
Questionado sobre as declarações homofóbicas, Cícero Martins disse que preconceito não faz parte da vida dele. “Eu e minha esposa temos homossexuais trabalhando conosco há anos. Como poderíamos ser homofóbicos?”, ressaltou.
"É uma visão científica"
Durante o discurso, o vereador falou também sobre gêneros. “Existe XY e XX (referindo-se aos códigos genéticos masculinos e femininos). Só vou contra isso quando eu vir um homem engravidando ou menstruando”, disse. Ao G1, Cícero disse que essa é a sua opinião como professor de biologia. “É uma visão científica”, explicou.
Outra polêmica
No final de março, Cícero Martins foi envolvido em outra polêmica. Ele foi chamado de machista durante uma sessão da Câmara, quando mandou uma vereadora calar a boca e, em um outro momento, disse que a Câmara era “lugar de homem”.
O vereador se defendeu. “Fui tachado de uma forma agressiva e violenta, mas não sou de forma alguma uma pessoa machista”, disse.
Cícero afirmou que apenas usou um vício de linguagem, e foi mal interpretado. “Semana passada eu fui chamado de machista, ontem de homofóbico. Eu não sei o que serei na próxima semana”, ressaltou.
Fonte: G1
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