A Polícia Civil realiza na manhã desta terça-feira (25) a Operação Deu Zebra, que tem como alvos duas organizações criminosas que coordenam apostas no jogo de bicho em diversas cidades do Rio Grande do Sul. Até o começo da tarde, 21 pessoas já haviam sido presas, algumas em flagrante.
A ação da polícia ocorre simultaneamente em 14 municípios: Bagé, São Gabriel, Pelotas, Santana do Livramento, Rosário do Sul, Cacequi, Quaraí, Dom Pedrito, São Sepé, Caçapava do Sul, Santa Rosa, Santo Ângelo, Taquara e Porto Alegre. No entanto, de acordo com a investigação, foram identificadas mais de 70 cidades onde os grupos atuam.
São cumpridos 14 mandados de prisão preventiva, 67 de busca e apreensão e sete conduções coercitivas. Entre os alvos estão funcionários públicos, como agentes de prefeituras e policiais, suspeitos de corrupção.
Foi autorizada pela Justiça ainda a apreensão de 57 veículos e 19 imóveis, além de 67 contas bancárias, que serão analisadas para futuro bloqueio de valores.
"Nós temos aí, em movimentação financeira identificada até o momento, 521 milhões de reais nos últimos quatro anos", destaca a delegada regional da Polícia Civil em Santana do Livramento, Ana Tarouco, que coordena a operação.
Um dos chefes das bancas de apostas coordena os jogos em Bagé, o outro fica em São Gabriel. Em Pelotas, os policiais buscam um técnico em informática que presta serviços às quadrilhas.
Em Taquara e Porto Alegre, a polícia cumpre mandado em uma empresa de tecnologia e em um local onde estão servidores que armazenam dados.
“Nosso foco, além de combater a contravenção de jogos de azar, é prender os grupos por lavagem de dinheiro e associação criminosa. Nossa investigação durou um ano e dois meses, e nesse período foi possível ter noção da grande quantidade de dinheiro que é lavada pelos bicheiros. Dinheiro que não sabemos pra onde vai, que pode financiar outros crimes”, explica a delegada.
Tecnologia
A quadrilha se especializou em comprar máquinas de cobrança de cartão de crédito e transformá-las em máquinas de apostas, por meio do sistema M2M (Máquina à Máquina), que possibilita a conexão e troca de informação em tempo real de dispositivos e aparelhos pela internet, e sem fio.
Os bicheiros compravam os aparelhos e o técnico de informática, que fica em Pelotas, trocava os softwares (programas). As máquinas enviam as apostas por meio dos chips de telefonia móvel, e todos os dados eram armazenados em servidores de uma empresa especializada, em Porto Alegre. Em apenas uma das cidades, a polícia identificou mais de 200 máquinas de apostas.
“O contraventor está sentado na sua sala, no seu escritório, e o apontador está a 700 km de distância. Eles estão, através desse sistema informatizado, gerenciando todo esse processo. Isso facilita muito, permite que eles abram pontos de jogos em qualquer lugar, porque isso é remoto, não existe dificuldade, não tem problema de deslocamento, e então facilitou muito”, complementa a delegada.
Durante a investigação, a polícia interceptou áudios em que os bicheiros conversam sobre como guardar o dinheiro. Um dos suspeitos fala que não usa bancos para guardar dinheiro porque precisa girar o recurso de forma rápida, para o pagamento dos prêmio. Ele fala ainda que, quando usa as instituições financeiras, faz isso em nome de terceiros, conhecidos como laranjas.
Em um segundo trecho do mesmo áudio, o contraventor afirma que pode se desfazer de suas agências lotéricas, mas não de suas bancas de bicho. “Nem se oferecessem R$ 10 milhões”.
Conexão com outros estados
Os bicheiros gaúchos trabalhavam ainda em consórcios com bancas do Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás. Essas conexões são consideradas estratégicas para pagamentos de grandes quantias e garantir que as bancas do Rio Grande do Sul não quebrassem.
Um exemplo ocorreu no fim do ano passado, quando um apostador ganhou, sozinho, R$ 1,2 milhão. A alta quantia foi paga com a ajuda de bancas maiores do Centro e do Sudeste do país. Em contrapartida, essa bancas de fora do estado ficaram autorizadas a terem máquinas de apostas nas cidades coordenadas pelos bicheiros gaúchos.
Durante a investigação, a polícia identificou que a quadrilha movimentou grandes quantidades de dinheiro nos últimos quatro anos pelos chefes das organizações.
Fonte: G1
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