O patrimônio da ex-primeira-dama do Rio Adriana Ancelmo multiplicou-se por dez após os dois mandatos do marido, Sérgio Cabral (PMDB), à frente do Estado. O
crescimento coincide com o aumento da receita de seu escritório de advocacia, com muitos clientes com relações com o Estado.
O Ministério Público Federal do Rio suspeita que o escritório de Ancelmo tenha sido usado para ocultar o pagamento de propina para a organização criminosa comandada por Cabral. Ele foi preso na quinta (17), sob suspeita de lavagem de dinheiro e corrupção.
A procuradoria chegou a pedir a prisão temporária da ex-primeira-dama. O juiz Marcelo Bretas, contudo, autorizou apenas a condução coercitiva da advogada. O MPF recorre da decisão.
A relação entre o escritório Ancelmo Advogados e empresas com relações com o Estado é conhecida desde 2010, quando foi revelada pelo jornal "O Estado de S. Paulo". Fazem ou já fizeram parte do rol de clientes da banca a concessionária Metrô-Rio, Telemar, EBX e Fecomércio –esta última responsável pelo repasse de R$ 13 milhões.
À época, o escritório afirmou não vislumbrar "qualquer impedimento ético ou jurídico na conduta adotada". Procurada após a operação, a banca não se manifestou.
Na eleição de 2010, Cabral fora criticado por isso e defendeu a atuação da esposa. "Ela não advoga contra o Estado. Ela já era uma profissional brilhante antes", afirmou em sabatina Folha/UOL.
Dados da Receita Federal feitos a pedido da Operação Calicute, contudo, mostram que o sucesso do escritório coincide com a entrada do peemedebista no governo. E, pela primeira vez, é possível ver o que de fato se integrou ao patrimônio do casal.
Em 2005, a receita bruta do escritório era de R$ 1,8 milhão. Ela teve crescimento modesto até 2007, quando atingiu R$ 2,6 milhões. No ano seguinte, quase triplicou o faturamento, tendo recebido R$ 7,9 milhões. O auge veio em 2014, quando entraram nos cofres R$ 14,7 milhões.
O patrimônio de Ancelmo cresceu no mesmo período. Em 2005, a primeira-dama declarou em imposto de renda R$ 1,9 milhão em bens, patamar semelhante até 2007. Em 2008, subiu para R$ 2,5 milhões. O maior salto ocorreu em 2014, quando chegou a R$ 13,5 milhões. No ano passado, eram R$ 21,7 milhões.
Cabral manteve o mesmo patrimônio até 2011 —cerca de R$ 800 mil. No ano seguinte, cresceu para R$ 3,3 milhões, com a venda de uma casa no condomínio Portobello, em Mangaratiba, mas reduziria para R$ 1,9 milhão em 2015.
A Receita não identificou irregularidades fiscais no crescimento patrimonial do casal. No caso da advogada, ele ocorreu proporcionalmente à distribuição de dividendos do escritório aos seus sócios.
Mas a procuradoria classificou o desempenho como um "crescimento vertiginoso durante os dois mandatos" de Cabral. Há a suspeita de ocultação de propina.
Duas empresas sob suspeita fizeram depósitos para o escritório. A Reginaves (Rica Alimentos) pagou R$ 1,1 milhão e o hotel Portobello, R$ 844 mil.
Fonte: Folha de São Paulo
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