A Nasa está se preparando para lançar na próxima quinta-feira (8) sua primeira sonda capaz de recolher amostras de um asteroide. E não falta emoção à missão —o alvo escolhido tem um risco não
negligenciável de colidir com a Terra na segunda metade do século 22.
Antes que alguém fique excessivamente preocupado, o risco de impacto é de apenas 1 em 2.700 –baixo, mas não suficientemente confortável para os cientistas. E, considerando que se trata de um pedregulho de cerca de 500 metros de diâmetro, é melhor não se arriscar demais.
O bólido celeste foi batizado de Bennu, uma ave mitológica egípcia, para combinar com o nome da missão: Osiris-rex. A referência óbvia é à divindade egípcia que governava o mundo dos mortos, Osíris. Mas se tem uma coisa que os cientistas adoram são acrônimos engraçadinhos.
Então, Osiris-rex na verdade é: Origins, Spectral Interpretation, Resource Identification, Security, Regolith Explorer. Em português: Origens, Interpretação Espectral, Identificação de Recursos, Segurança e Explorador de Regolito. Certo.
Apesar da óbvia forçada de barra, o nome resume tudo que a sonda Osiris-rex irá fazer: investigar a origem do Sistema Solar ao estudar um asteroide que remonta à formação dos planetas; verificar sua composição por meio de espectroscopia e, com isso, identificar possíveis recursos naturais interessantes para futuras investidas de mineração espacial; se certificar de que o asteroide não vá bater com a Terra, assegurando assim a segurança do nosso planeta; e recolher uma amostra da fina poeira que o recobre –chamada de regolito.
O Bennu tem uma órbita muito similar à da Terra, que o coloca ora mais perto do Sol, ora mais longe —ocasionalmente cruzando o nosso caminho. Até onde os cientistas podem determinar, não haverá nenhum ponto nas próximas centenas de anos em que os dois corpos celestes —a Terra e ele— estarão no mesmo lugar ao mesmo tempo, o que naturalmente seria uma má notícia. Contudo, haverá diversos "quases", sobretudo na segunda metade do século 22.
E, o que dá o tempero ao problema, é impossível determinar com precisão absoluta a órbita de um asteroide com muitas décadas de antecedência. Isso porque, embora a gravidade seja a principal força a comandar sua trajetória, todos os corpos influenciam-se mutuamente no espaço, em maior ou menor grau, o que gera uma certa dose de incerteza.
É mais complicado: o asteroide reflete a luz solar, processo que transfere um pouco de energia de movimento das partículas luminosas, os fótons, para o bólido celeste, como se ele fosse uma tosca vela solar. É o chamado efeito Yarkovsky, que pode mudar de forma significativa a trajetória de um corpo celeste pequeno como um asteroide com o passar de décadas. Somente mapeando detalhadamente sua superfície é possível calculá-lo com precisão e, então, afastar definitivamente um risco de colisão.
Se a conclusão dos cientistas for a de que o astro vai bater em nosso planeta, teremos de bolar uma estratégia de defesa, possivelmente tentando desviá-lo.
E para isso é fundamental sabermos de que o Bennu é feito. As estratégias possíveis mudariam bastante entre um asteroide carbonáceo (como é o caso) e um metálico, por exemplo. De todo modo, com ou sem colisão, os benefícios da missão serão grandes. Essa será a maior coleta de amostras de um objeto celeste já feita desde as missões Apollo, que levaram astronautas à Lua entre 1969 e 1972.
Até dois quilos do Bennu poderão ser trazidos à Terra, numa manobra que Christina Richey, da Nasa, descreveu como um "'high-five' muito seguro e suave".
Se tudo correr conforme o planejado, a sonda chegará ao asteroide em 2020 e fará a coleta de amostra, apenas encostando suavemente um braço robótico na superfície e disparando um jato de gás que fará partículas se erguerem da superfície e entrarem em um receptáculo.
Depois, o braço robótico colocará as amostras numa cápsula, e a sonda iniciará o caminho de volta à Terra, que terminará com a recuperação do material no deserto de Utah, em 2023.
Espera-se que essas amostras revelem alguns dos segredos da formação do Sistema Solar e do surgimento de química complexa, precursora da vida, uma vez que sua superfície deve ser rica em compostos de carbono.
A Osiris-rex é a segunda missão de retorno de amostras de asteroide já realizada. Antes dela, a sonda japonesa Hayabusa foi até o asteroide Itokawa, onde recolheu amostras em 2005 e trouxe de volta em 2010. No momento os japoneses estão tocando a missão Hayabusa 2, lançada em 2014 e que deve trazer uma amostra do asteroide Ryugu em 2020.
Fonte: Folha de São Paulo
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