"Tudo isso que estamos passando é resultado de anos de descaso, de falta de atenção e de investimentos em segurança pública. Chegamos ao fundo do poço e agora, aos
poucos, estamos começando a sair dele". É assim que o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Rio Grande do Norte (Sesed) define a onda de ataques criminosos que atingiu o Estado na última semana.
A instalação de bloqueadores de celular na Penitenciária de Parnamirim, na Grande Natal, é considerada pelo governo a motivação para os atentados. Segundo a própria Sesed, o RN foi alvo de 107 ataques em 37 cidades entre a tarde da sexta-feira (29) e a manhã da quinta (4) - quando o último caso foi contabilizado. Ao todo, 108 pessoas foram presas suspeitas de participação direta ou envolvimento nos atos criminosos.
General da reserva do Exército Brasileiro, Lundgren está há menos de quatro meses à frente da Sesed. "É bom frisar que essa onda de ataques só começou porque o Estado, enfim, decidiu retomar o controle dos presídios". Ele explicou como foi planejada essa retomada: "Em junho, por ordem do governador Robinson Faria, em uma reunião aqui mesmo na Secretária de Segurança, decidimos, eu e o secretário Wallber [Virgolino, titular da Secretaria de Justiça e Cidadania], que era hora de fazer isso. Sabemos que os cabeças de facções, mesmo presos, comandavam o crime aqui fora. Tínhamos que instalar os bloqueadores para poder controlar a situação".
O secretário disse que, por mais de dois meses, foi elaborado um "plano estratégico" para conter a reação dos criminosos à instalação de bloqueadores de celular. "O Estado começou pela Penitenciária Estadual de Parnamirim (PEP), na quinta-feira (28), a eliminar os escritórios do crime. Já nesse mesmo dia, ficamos de prontidão. Na sexta, assim que soube do ataque a um micro-ônibus em Macaíba, determinei que fosse iniciada a Operação Guardião. Essa ação, que envolve todos os órgãos de segurança pública que atuam no Rio Grande do Norte, tem por objetivo minimizar a reação dos criminosos. Avalio, após esse período, que nosso planejamento foi suficiente".
Ataque ao cajueiro
Ronaldo Lundgren ressaltou que os chefes da facção que reivindica os ataques criminosos tentaram, por meio de atos de terrorismo, provocar pânico na população potiguar. "Digo que foram atos de terrorismo porque o objetivo deles era causar pavor, pânico nas pessoas. Por isso atacaram ônibus, prédios públicos, pontos turísticos. Com isso, tentaram fazer com que a população ficasse contra o Estado, nos obrigando a desistir do plano de instalação de bloqueadores de celular nos presídios. Houve mais de 100 ataques, mas muitos outros foram identificados pelo nosso setor de inteligência e evitados pela polícia". O secretário citou como exemplo disso um ataque que seria feito ao Cajueiro de Pirangi, um dos principais cartões-postais do Rio Grande do Norte. Esse ataque não foi consumado e algumas pessoas acabaram detidas.
Ônibus foram incendiados em Governador Dix-Sept Rosado na quarta (3) (Foto: PM/Divulgação)
Segundo o secretário de Segurança, os ataques foram cometidos ou tentados por 'soldados do crime'. "São pessoas que têm dívidas de droga ou que realizaram ou tentaram fazer ataques em troca de R$ 50, R$ 100. Tudo isso a mando de chefes que estavam dentro de presídios. Para comprovar, todos eles tiveram que filmar o momento do ataque. Isso agora nos serve como prova contra eles".
Calamidade pública
Mesmo diante de mais de uma centena de ataques, o secretário disse que o Estado ainda não estuda a possibilidade de decretação de calamidade pública na segurança potiguar. "Isso foi feito recentemente pelo Estado do Rio de Janeiro, mas foi por causa da Olimpíada e possibilitou mais investimentos sem uma série de trâmites burocráticos. Creio que, pelo menos por enquanto, ainda não haja essa necessidade no Rio Grande do Norte".
Lundgren disse que a Operação Guardião vai ser mantida até que os bloqueadores de celular sejam instalados nas unidades prisionais. Paralelamente, pelo menos até o dia 16 de agosto, as forças de segurança estaduais e as Forças Armadas seguem com a Operação Potiguar, iniciada na quinta-feira (4). Essa ação conta com 1.200 homens do Exército, da Marinha e da Força Aérea. Os militares ocupam os corredores de ônibus, principais avenidas, corredores bancários, acesso ao aeroporto e as entradas de Natal.
Próximos passos
Ronaldo Lundgren disse que o Rio Grande do Norte tem a chance, após essa onda de ataques criminosos, de restabelecer a paz. "Demos o primeiro passo, que foi instalar o bloqueador no PEP. Vamos continuar em outros presídios. Mas outras medidas de segurança pública também serão tomadas. Temos que criar mais vagas no sistema penitenciário, temos que investir na capacitação e promoção de nossos policiais, temos que fazer concursos públicos para as Polícias Militar e Civil. Vamos lançar o plano estadual de redução de homicídios e ampliar nossa política de polícia de aproximação. Digo que temos essa oportunidade porque a população do Rio Grande do Norte está do nosso lado, apoiando o combate à criminalidade".
Fonte: G1
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