Com a decisão da população do Reino Unido de deixar a União Europeia, temos de imediato um saldo de vencedores e perdedores
locais.
O estrago já começou e deve ser enorme para o status quo do Parlamento. Desmoralizado com a derrota, o primeiro-ministro, o conservador David Cameron, anunciou sua renúncia. Um desastre político para quem foi reeleito há pouco mais de um ano.
O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, é outro sob pressão. Como chefe da oposição, não conseguiu convencer seu país a manter a aliança com a UE. Contestado dentro do próprio partido, terá dificuldades em permanecer no posto.
Perde também, ao menos no curto prazo, a moeda local, a libra esterlina, que deve se desvalorizar fortemente nos próximos dias diante da incerteza econômica de um país rompido com o bloco europeu.
Quem comemora e se fortalece como nunca é o exótico ex-prefeito de Londres Boris Johnson, o político do Partido Conservador que liderou a campanha de separação, num antagonismo a Cameron.
Membro do Parlamento, Johnson é o favorito para se mudar para Downing Street.
Celebra também Nigel Farage, o líder do Ukip, partido de extrema-direita que cresceu com discurso intolerante e radical anti-imigração, pelo fechamento de fronteiras e ruptura com a Europa.
Na eleição geral de 2015, o Ukip obteve 13% dos votos. Já havia sido bem sucedido um ano antes na eleição do Parlamento Europeu, conquistando 24 das 73 cadeiras britânicas. Agora, com a vitória nas urnas de sua grande bandeira –a separação da UE–, tem tudo para crescer muito mais.
Adversários no Parlamento, David Cameron e Jeremy Corbyn empunharam a bandeira da campanha do "Remain", o voto para permanecer no bloco europeu. E a derrota, para Cameron, tem um agravante por ter viabilizado a votação, no cumprimento de promessa feita na campanha que o reelegeu no ano passado.
Com uma popularidade oscilante e uma economia em recuperação, o premiê não tinha alternativa: prometia realizar a consulta ou não teria apoio eleitoral de parte do seu partido e de grande parcela da população local anti-UE.
A primeira jogada deu certo. Os conservadores conseguiram maioria no Parlamento e Cameron se manteve em Downing Street.
A segunda deu errado. O premiê não teve força para convencer a população da importância em continuar como membro do bloco europeu. Agora foi cobrado a sair.
Soma-se a esse caos político a expectativa de que a Escócia, que votou em sua maioria a favor da Europa, busque um novo plebiscito para tentar se separar do Reino Unido e reverter decisão de setembro de 2014, quando os escoceses votaram contra a independência. Sinais de movimento semelhante já foram dados na Irlanda do Norte desde a madrugada.
O plano de transição para o Reino Unido sair de vez da UE vai levar cerca de dois anos, estimam especialistas. Até lá, os britânicos terão de juntar os cacos de um país rachado e encarar a fúria política de uma Europa desprezada.
Sorte da rainha Elizabeth 2ª, que sabiamente não se meteu na confusão.
Fonte: Folha de São Paulo
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