A saída de Fabiano Silveira do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle foi apontada como um simbolismo das
debilidades do governo interino de Michel Temer em reportagens da imprensa estrangeira nesta terça-feira (31).
Os jornais destacam que o homem à frente da pasta encarregada de combater a corrupção foi gravado em conversas que sugeriam seu envolvimento em manobras para obstruir as investigações da Operação Lava Jato.
A queda de Silveira "desferiu outro golpe contra um governo que parece estar mancando de um escândalo a outro", diz o jornal norte-americano "New York Times".
O jornal relata a "atmosfera cada vez mais paranoica na capital, Brasília", em que "membros das elites políticas e econômicas estão gravando secretamente uns aos outros para fazer acordos de delação premiada".
Em tom crítico, o jornal britânico "Guardian" afirma que "a reputação do novo governo interino deslizou de frágil para burlesca" após o episódio.
"A renúncia de Silveira eleva a pressão sobre o governo de Michel Temer, que encontra dificuldades de sacudir as acusações de que tomou o poder da presidente suspensa Dilma Rousseff com o objetivo de obstruir a maior investigação de corrupção na história do país."
Para o argentino "La Nación", "o desgaste político do governo interino se acelera a um ritmo vertiginoso".
A reportagem lembra a "indignação" que as conversas entre Silveira e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro - subsidiária de logística da Petrobras - geraram "em amplos setores da sociedade brasileira e inclusive em organismos internacionais anticorrupção".
Na segunda-feira, chefes regionais do ministério em pelo menos 21 Estados entregaram seus cargos ou deixaram-nos à disposição exigindo a saída do ainda ministro.
Imagens dos funcionários do Ministério "limpando" o edifício em Brasília foram transmitidas em emissoras de TV estrangeiras, incluindo a BBC.
A conversa com Silveira e o presidente do Senado, Renan Calheiros, foi gravada por Machado, novo delator da Lava Jato, em 24 de fevereiro.
Nela, Silveira critica a condução da Operação Lava Jato pela Procuradoria-Geral da República e dá conselhos a investigados.
Na segunda-feira, a ONG Transparência Internacional elevou a pressão sobre o ministro, afirmando que suspendia sua cooperação com o Ministério.
A cooperação envolvia três frentes de trabalho, uma das quais a participação na elaboração de propostas para a iniciativa internacional Parceria para Governo Aberto.
"Não deve haver impunidade para os corruptos e nem acordos a portas fechadas. É decepcionante que o ministro encarregado da transparência esteja agora sob suspeita, como parte de uma operação abafa", disse - antes da renúncia - o diretor para as Américas da organização, Alejandro Salas.
Fonte: Uol
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