Um agente penitenciário do Centro de Detenção Provisória do Potengi, unidade localizada na Zona Norte de Natal, está sendo investigado
suspeito de ter facilitado a fuga do detento Daniel da Silva Flor. Considerado pela direção como sendo um 'preso de confiança', ele escapou pulando o muro do CDP na noite desta quarta-feira (18). A Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) prefere manter o nome do agente em sigilo até o fim da investigação.
Segundo o secretário Wallber Virgolino, o servidor será afastado por 60 dias. “Ele já foi denunciado à Polícia Civil e também vai responder criminalmente pelo ocorrido”, afirmou.
Quanto à suposta facilitação, a Sejuc repassou ao G1 um vídeo que mostra o momento em que o agente deixa o preso sair da unidade. O agente se defende dizendo que deixou o detento sair para comprar refrigerante. Pelas imagens, gravadas pouco depois das 19h50, é possível ver que o preso sai, atravessa a rua e depois volta para falar com o agente. Na sequência, o preso volta a atravessar a rua e o agente entra na unidade. O agente retorna para a calçada e em pouco tempo volta a entrar no CDP. O tempo passa e o preso volta para a frente do CDP e entrega alguma coisa para o agente, que recebe o objeto e coloca no bolso. Em seguida, o preso novamente atravessa a rua e passa mais um bom tempo do outro lado da rua, onde o agente afirma existir uma pequena mercearia. Passa mais algum tempo e o preso volta em definitivo para dentro da unidade. A filmagem não mostra, mas depois de retornar para o CDP o preso pula o muro da cadeia e foge. Ele teria escapado em um 'ponto cego', ou seja, em um canto do muro no qual a câmera de segurança não alcança.
“O comportamento do agente é muito estranho e merece ser investigado. Por isso afastamos o agente das suas funções enquanto apuramos o que aconteceu. O fato é que o preso jamais poderia ter saído da unidade. E, naquele horário, inclusive, deveria estar recolhido à carceragem", ressaltou Virgolino.
A decisão de afastar o agente, ainda de acordo com o secretário, precisa ser encarada como necessária para servir de exemplo. “Tanto para os presos como para os próprios agentes. Sabemos que 99% dos agentes são homens de bem, dignos, profissionais honestos e que honram o trabalho que executam. Mas, o 1% que sobra precisa entender que não seremos coniventes com a corrupção”, ressaltou.
O agente afastado tem 35 anos de idade e quatro de carreira. Ele já foi comunicado do afastamento.
Sistema em calamidade
O sistema penitenciário potiguar não passa por um bom momento. E faz tempo. Em março de 2015, após uma série de rebeliões em várias unidades prisionais, o governo decretou estado de calamidade pública e pediu ajuda à Força Nacional. Para a recuperação de 14 presídios, todos depredados durante os motins, foram gastos mais de R$ 7 milhões. No entanto, o sistema permanece em crise. Seis meses depois, o decreto de calamidade foi prorrogado por mais 180 dias e a permanência da Força Nacional também renovada.
Já no dia 17 de março deste ano, o governo do Rio Grande do Norte voltou a renovar o decreto de calamidade no sistema prisional potiguar e mais uma vez pediu socorro à Força Nacional. A renovação da calamidade, por mais seis meses, foi assinada pelo governador Robinson Faria. O documento diz que a renovação tem por objetivo "legitimar a adoção e execução de medidas emergenciais que se mostrarem necessárias ao restabelecimento do seu normal funcionamento".
Além das unidades depredadas e da superlotação, as fugas também se tornaram um problema constante para o Estado. Somente este ano, 206 detentos já escaparam do sistema prisional potiguar. Alguns já foram recapturados, mas nem a Secretaria de Justiça (Sejuc) nem a Secretaria de Segurança Pública (Sesed) sabem precisar a quantidade de fugitivos que retornaram aos presídios. A média é de 11 fugitivos por semana.
Fugas em 2016
- Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta: 69 fugitivos em 11 fugas (19 e 21 de janeiro, 21 e 24 de fevereiro, 10 e 13 de março, 10, 16, 18 e 23 de abril e 2 de maio);
- Cadeia Pública de Natal, em Natal: 46 fugitivos em 1 fuga (12 de janeiro);
- Centro de Detenção Provisória da Ribeira, em Natal: 29 fugitivos em 4 fugas (12 de fevereiro, 7 de março, 25 de abril e 9 de maio);
- Penitenciária Agrícola Dr. Mário Negócio, em Mossoró: 24 fugitivos em 6 fugas (1º, 22, 29 e 30 de janeiro, 8 de março e 22 de abril);
- Cadeia Pública de Caraúbas, em Caraúbas: 11 fugitivos em 1 fuga (5 de março);
- Presídio Rogério Coutinho Madruga, em Nísia Floresta: 7 fugitivos em 1 fuga (27 de março);
- Cadeia Pública de Mossoró, em Mossoró: 6 fugitivos em 2 fugas (1º de março e 11 de abril);
- Centro de Detenção Provisória de Macau, em Macau: 4 fugitivos em 1 fuga (14 de janeiro);
- Centro de Detenção Provisória de Patu, em Patu: 4 fugitivos em 1 fuga (4 de abril);
- Centro de Detenção Provisória de Ceará-Mirim, em Ceará-Mirim: 2 fugitivos em 1 fuga (24 de janeiro);
- Centro de Detenção Provisória do Potengi, em Natal: 3 fugitivos em 2 fugas (17 de janeiro e 18 de maio);
- Centro de Detenção Provisória de Parnamirim, em Parnamirim: 1 fugitivo em 1 fuga (25 de março);
Total: 206 fugitivos
Fonte: G1
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