As sedes das torcidas organizadas Pavilhão 9 e Gaviões da Fiel, do Corinthians, foram fechadas com blocos de concreto e tijolos em São Paulo na tarde desta sexta-feira
(15). O "emparedamento" ocorreu após a Polícia Civil prender 26 pessoas e apreender mais de R$ 62 mil em dinheiro, além de armas, durante a “Operação Cartão Vermelho”.
Segundo o secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, as duas sedes das torcidas corintianas na capital não possuem Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), segundo declarou o secretário da SSP, Alexandre de Moraes. "O Corpo de Bombeiros constatou que elas não possuem o AVCB. Por esse motivo, a prefeitura deverá lacrar essas sedes", disse Moraes. "As duas sedes da Mancha, tanto na capital quanto no litoral, têm o AVCB".
O G1 procurou o advogado da Gaviões da Fiel, mas ele não atendeu as ligações. A equipe de reportagem não localizou representantes da Pavilhão 9 para comentar o fechamento de sua sede.
Em nota, a subprefeitura da Sé informou que atendeu a um pedido direto do secretário estadual da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, e emparedou a sede da Gaviões da Fiel, no Bom Retiro, na manhã desta sexta. A alegação oficial era de que a Polícia Civil estava cumprindo mandados de busca e prisão no local. A subprefeitura de Itaquera informou que o mesmo ocorreu na sede da Pavilhão Nove, naquele bairro.
Ainda de acordo com nota, com relação à ação desenvolvida pela Polícia Civil em Itaquera, a subprefeitura já tomou providências para desativar o bloqueio, uma vez que se tratava de moradia regular. Sobre a ação no Bom Retiro, a subprefeitura da Sé vai fazer uma avaliação com as autoridades da segurança pública para verificar a possibilidade de levantar o bloqueio.
Operação
Deflagrada nesta sexta-feira (15), a ação ocorreu em oito cidades para combater torcedores corintianos e palmeirenses envolvidos em brigas e agressões no estado. Os detidos são membros de torcidas organizadas acusados de participar de confrontos entre os rivais, no dia 3 de abril, que deixou um pedestre baleado e morto na capital.
“A gota d´água para nós foi o homicídio que ocorreu dia 3 abril na Zona Leste. Hoje estamos vivendo caos social muito profundo no qual pessoas não se toleram e não se respeitam. Em razão disso foi desencadeado todo esse trabalho”, declarou a delegada Elisabete Sato, diretora do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), durante coletiva na sede da Secretaria da Segurança Pública (SSP), na capital.
Além do DHPP, outros órgãos da SSP, como Bombeiros, por exemplo, participaram da operação, que teve o acompanhamento do Ministério Público (MP) e a Secretaria da Fazenda.
Bloco de concreto é colocado na entrada da sede da torcida Pavilhão 9 (Foto: TV Globo/Reprodução)
O promotor Paulo Castilho, da Promotoria Especial Criminal (Jecrim), informou que já ofereceu denúncia à Justiça contra os torcedores presos. "Alguns vão responder por associação criminosa, lesão corporal e dano ao patrimônio", disse. "Outros por lesão corporal, dano ao Metrô e porte de explosivo".
A Justiça expediu 37 mandados de prisão e 32 mandados de busca e apreensão para serem cumpridos por mais de 200 policias em cem viaturas na capital, Ribeirão Pires, Taboão da Serra, Osasco, Santos, Praia Grande e Indaiatuba, todas no estado de São Paulo, e Uberaba, em Minas Gerais.
Outra organizada que teve a presença da polícia foi uma ligada ao São Paulo, por suspeita de que os membros poderiam estar combinando brigas pelas redes sociais.
Procurada, a defesa da Gaviões disse que vai tomar providências. “Estamos providenciando um habeas corpus. Para que eles sejam colocados em liberdade e corra o devido processo legal, em liberdade”, disse o advogado Davi Gebara Neto.
O G1 não conseguiu localizar os responsáveis pela Pavilhão e Mancha para comentarem o assunto. A equipe de reportagem também não encontrou os advogados dos torcedores detidos.
Protesto
Na noite desta sexta, a Gaviões da Fiel estava concentrada no Vale do Anhangabaú, Centro da capital. É um protesto que foi marcado bem antes da operação policial e que é contra a decisão da Federação Paulista de Futebol (FPF) de realizar jogos com uma única torcida nos clássicos. Outras reivindicações são reduzir a violência e pedira a prisão dos envolvidos na máfia da merenda no estado.
A Gaviões alega que é vítima de perseguição política e defende medidas preventivas para acabar com a violência. Os manifestantes pedem, ainda, transparência nas contas da Arena Corinthians e ingressos mais baratos. Nem a polícia nem os organizadores informaram o número de pessoas nesse ato.
Presos
Até o início desta tarde, dezoito corintianos da Gaviões haviam sido presos preventivamente; um da Pavilhão e seis da Mancha foram detidos temporariamente. Além disso, ocorreu uma prisão em flagrante, provavelmente de um dirigente da torcida palmeirense. A prisão preventiva determina que o acusado fique detido até um eventual julgamento. A temporária pode deter uma pessoa por um tempo determinado, por exemplo, cinco dias ou mais.
Entre os detidos, há torcedores do Corinthians suspeitos de agredir uma família de palmeirenses na esquina da Avenida Doutor Arnaldo com a Rua Cardeal Arcoverde, perto do estádio do Pacaembu.
De acordo com a TV Globo, outro preso é o corintiano Helder Alves Martins, suspeito de participação na morte do boliviano Kevin Spada, em 2013. Na época, o corintiano tinha 17 anos. Os detidos na Grande São Paulo foram levados para o DHPP, no centro da capital paulista. A polícia não informou se Helder constituiu advogado para defendê-lo.
"Não é possível. Não é razoável, não é aceitável que um torcedor - e digo ele porque obviamente ele é o símbolo da impunidade”, disse o secretário da Segurança, Alexandre de Moraes, sobre Helder. "Um torcedor que se envolve em problemas e assume a autoria na Bolívia, depois se envolve em problemas de novo em Brasília. E esse mesmo torcedor, ele saiu de um veículo VUC na Doutor Arnaldo, com a Gaviões. Descem mais de 20 pessoas e começam a agredir um pai, com um filho, que estavam no jogo por serem palmeirenses. Alguém que acha que pode ir colecionando agressões." Na noite desta sexta, o Tribunal de Justiça negou pedido de liberdade de Helder.
"Ou as torcidas expulsam os criminosos ou elas vão acabar", sentenciou o secretário da pasta da Segurança sobre o papel que as torcidas devem ter, no entendimento dele. "Auxiliam a expulsar os torcedores criminosos e prendê-los, indicando provas, ou elas vão optar por estar do lado dos torcedores criminosos. E aí elas vão ser tratadas como organizações criminosas".
A polícia também encontrou "caixões" com os nomes de Fernando Capez, presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo; Andres Sanchez, ex-presidente do Corinthians; a Federação Paulista de Futebol e a Rede Globo.
A operação ainda apreendeu R$ 62 mil em dinheiro num cofre e uma bolsa com facas na sede da Gaviões. Os policiais apreenderam também celulares de palmeirenses com mensagens de celular via WhatsApp em que admitem ter participado de confronto antes do clássico entre Palmeiras e Corinthians, no último dia 3, no estádio do Pacaembu, na cidade de São Paulo, pelo Campeonato Paulista.
Naquela ocasião, os times jogaram e o Palmeiras venceu o Corinthians por 1 a 0. As duas equipes entraram no estádio unidas e de mãos dadas em protesto contra a violência.
No total, ocorreram quatro brigas entre corintianos e palmeirenses naquele dia, sendo três na capital e uma em Guarulhos.
Dois torcedores da Mancha foram presos no litoral de São Paulo. Eles são acusados de participar do confronto que deixou um pedestre morto em São Miguel Paulista, na Zona Leste de São Paulo.
Na sede da Mancha na capital, um torcedor foi preso acusado de participar de atos de vandalismo na Estação Brás do Metrô, antes do clássico do dia 3. Segundo a TV Globo, a polícia prendeu Cristian Araújo Benedito estava na confusão. Durante essa operação, o presidente da torcida, Nando Nigro, também foi preso. Segundo a polícia, ele tentou atrapalhar a ação policial.
Na sede da Gaviões da Fiel, os policiais apreenderam ainda documentos e computadores. A Secretaria da Fazenda está auxiliando a operação com equipes de fiscalização contábil nas sedes das torcidas para saber a origem do dinheiro, se é lícita ou ilícita.
Quando ocorreram os quatro confrontos entre torcedores rivais no dia 3, mais de 60 pessoas chegaram a ser detidas pela polícia, mas foram liberadas à época após prestarem depoimento, e também foram apreendidos pedaços de paus e ferro. Parte daqueles detidos voltou a ser presa nesta sexta, no entanto.
Antes da coletiva desta sexta, o secretário da SSP chegou a afirmar que 43 torcedores envolvidos na confusão entre as torcidas foram identificados. Segundo Moraes, os torcedores seriam encaminhados para a FPF para que fossem banidos dos estádios.
Fonte: G1
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