O ator Umberto Magnani morreu nesta quarta-feira, 27, aos 75 anos, após ter sofrido um AVC – Acidente Vascular Cerebral. Ele estava internado no Hospital Vitória, na
Barra da Tijuca, zona oeste da cidade, desde segunda-feira, 25, dia de seu aniversário e quando se preparava para gravação de cenas da novela ‘Velho Chico’, da Globo, na qual interpretava Padre Romão.
O padre Romão que vinha orando por nós pela voz de Umberto Magnani representava o retorno do ator à Rede Globo, após dez anos longe da emissora. Em 2006, fez Páginas da Vida (era seu sétimo personagem criado por Manoel Carlos, autor de maior incidência em sua biografia) e foi para o SBT, fazer a novela Amigas e Rivais. Já havia passado pela TV de Silvio Santos em duas ocasiões anteriores: no remake de Éramos Seis (1994), primeira novela da melhor safra de folhetins realizada pelo SBT, quando viveu Alonso, e Razão de Viver, não o folhetim homônimo, de 1996, mas um anterior, de 1983.
De Amigas e Rivais, foi para a Record. Fez Chamas da Vida, Ribeirão do Tempo, Máscaras, Balacobaco, Milagres de Jesus e a boa série Conselho Tutelar.
De Benedito Ruy Barbosa, já tinha feito Cabocla, em 2004. Na apresentação do elenco e do processo de preparação para a novela Velho Chico, no galpão comandado pelo diretor Luiz Fernando Carvalho nos Estúdios Globo, no Rio, Magnani foi chamado a falar algo sobre a história e resumiu seu desejo na seguinte frase: “Se as pessoas discutirem em casa 10% do que vão ver e ouvir na novela, já será uma vitória para o nosso País”. Os colegas presentes, praticamente todo o elenco de todas as fases da novela, o aplaudiram efusivamente. A ocasião foi marcada por muita comoção dos atores, todos muito afinados com o enredo de Benedito Ruy Barbosa, com evidente envolvimento de Magnani na história que ainda seria contada na faixa das 21h da Globo.
Mas foi Manoel Carlos quem mais criou personas para o ator. Foi Ataxerxes em Felicidade (1991), Mauro Moretti em História de Amor (1996), Antenor Andrade em Por Amor (1997), Eládio em Laços de Família (2000, atualmente no ar pelo canal Viva), Eugênio em Presença de Anita (2001), Argemiro Batista em Mulheres Apaixonadas (2003) e Zé Ribeiro em Páginas da Vida.
Esteve ainda em Alma Gêmea (2005), de Walcyr Carrasco, como Elias, e em dois marcos da televisão brasileira no quesito minissérie: Anarquistas Graças a Deus (1984), de Zélia Gattai, como Tio Guerrando, e Grande Sertão: Veredas (1985), de Guimarães Rosa, como Borromeu. O extenso currículo na TV teve um de seus primeiros trabalhos consumados na versão original de Mulheres de Areia (1976), de Ivani Ribeiro, com Eva Wilma nos papéis de Ruth e Raquel.
No cinema, esteve em Chão Bruno (1976), Jogo Duro (1985), A Hora da Estrela (1985), Kuarup (1989), Cronicamente Inviável (2000), Crstina QWuer Casar (2003) e Quanto Vale Ou é por Quilo? (2005).
Padre Romão estava longe de ser apenas um elemento decorativo em Velho Chico. Daí a substituição imediata, assim que o acidente vascular cerebral interrompeu a celebração de seu 75º aniversário. Ele havia acabado de gravar mais uma sequência de cenas com Gésio Amadeu, o Chico Criatura, dono do bar, que percebeu seu mal estar e chamou por socorro. O sacerdote era peça chave na torcida pela família oprimida da saga de Benedito, liderada, a princípio, pelo Capitão Rosa (Rodrigo Lombardi), depois por Belmiro (Chico Diaz) e agora por Santo (Domingos Montagner). Franciscano, incentivava, dentro do seu alcance, o trabalho com justiça buscado na cooperativa fundada pelo mocinho da história. Era, ao lado do próprio Chico Criatura, uma das poucas figuras capazes de se comunicar com as duas famílias rivais. E, junto com Gésio e Selma Egrei, formava o restrito grupo de atores presentes em todas as fases da novela.
Para justificar sua saída de cena, o autor fará com que Romão receba um chamado urgente informando que um cargo de padre emérito aguarda por ele em outra paróquia. Para ocupar sua função na trama, entra Carlos Vereza, chamado Padre Benício, descrito como “valoroso pregador do Evangelho, assim como Romão, seguidor da filosofia de São Francisco de Assis”.
Se assim quis o destino, resta encontrar eco em algumas das tantas frases emblemáticas proferidas por Magnani ao longo desses dois meses de novela. Não houve um só diálogo de Romão que fosse em vão, jogado às traças, para encher linguiça, como se diz. E, para um ator, melhor despedida que partir em cena, não há.
Fonte: Estadão
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