A Polinésia Francesa revelou que também teve casos de má-formação cerebral em fetos e recém-nascidos após a epidemia de zika que atingiu o território entre
2013 e 2014.
Relatório divulgado por autoridades locais nesta quarta-feira (25) mostrou que pelo menos 17 casos de má-formação do sistema nervoso central foram registrados entre 2014 e este ano, de acordo com o Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês).
Não houve, até o momento, registro de casos suspeitos de microcefalia – no Brasil, já foram notificados 739 casos, o que levou o Ministério da Saúde a decretar situação de emergência e recomendar cautela a mulheres que pretendem engravidar.
Mas, desde que surgiu a suspeita no Brasil, acreditava-se que outros países que tinham registrado epidemias de zika não haviam tido problemas com gestantes.
Assim como o Brasil, a Polinésia Francesa ainda investiga se há relação direta entre os casos de má-formação e o vírus zika.
"Eles notaram isso retrospectivamente. Então fizeram exames e descartaram outras infecções que poderiam estar causando este problema. E aí houve a hipótese do zika", diz Herve Zeller, do ECDC.
De acordo com ele, pesquisadores da Polinésia Francesa começaram a investigar os casos de problemas congênitos em fetos e bebês no início do ano, antes de a epidemia atingir o Brasil, mas só agora revelaram os resultados.
Antes do Brasil, só a Polinésia Francesa e a Micronésia, ambos na Oceania, haviam tido epidemias de zika.
Para Usha Kini, especialista em microcefalia de Oxford, a descoberta de casos de má-formação congênita na Polinésia Francesa pode ajudar a entender o que está acontecendo no Brasil.
"Era uma das primeiras coisas que deveríamos pensar, procurar registros em outros locais."
Ela destaca que não conhece outros casos como este e que ainda é preciso fazer mais estudos e obter evidências científicas da relação.
Se confirmada, a ligação entre o vírus zika e a má-formação pode dar dicas sobre a evolução do vírus no Brasil.
"Ainda sabemos muito pouco sobre o vírus, então seria preciso isolá-lo em sua situação anterior para saber se houve algum tipo de mutação", afirma Zeller.
De acordo com o ECDC, na Polinésia Francesa houve casos de má-formação cerebral e lesões cerebrais em fetos, e cinco crianças tiveram outros problemas, como dificuldade de engolir.
Nenhuma das mulheres grávidas disse ter sentido sintomas de zika durante a gravidez, mas as quatro que foram testadas apresentaram resultados positivos para flavivírus – família de vírus a qual o zika pertence. Isso indica, de acordo com o relatório, que elas podem ter tido casos assintomáticos.
Microcefalia
O Brasil sofre uma epidemia de zika, uma doença "prima da dengue", desde o meio do ano.
A doença, também transmitida pelo mosquito aedes aegypti, provoca sintomas parecidos, mas mais brandos que a dengue: febre, dor de cabeça e no corpo, manchas avermelhadas.
Os casos suspeitos de microcefalia no Brasil passaram de cerca de 150 por ano para 739 este ano. Há notificações em 160 municípios de nove Estados, principalmente no Nordeste. O Estado mais afetado é Pernambuco.
"Acho que nunca foi registrado nenhum aumento tão grande, em tão pouco tempo, em casos de microcefalia", disse a especialista de Oxford.
São notificados casos em que o bebê nasce com a cabeça com uma circunferência menor que 33 cm.
Segundo a médica, o tamanho da cabeça não necessariamente influencia na gravidade dos problema que a criança vai ter.
Bebês com microcefalia costumam ter problemas de desenvolvimento – dificuldades psicomotoras (para andar e falar) e cognitivas (como retardo mental).
O Ministério da Saúde recomendou que as mulheres planejem a gravidez e conversem com médicos.
Também recomenda que grávidas usem roupas de manga comprida, calças e repelentes apropriados para gestantes.
Fonte: G1
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