Não estão claras quais são as chances de sucesso do sul-coreano Chung Mong-joon, que hoje anunciou sua candidatura à
presidência da Fifa.
A atitude mais temerária que seus concorrentes podem ter é subestimar a capacidade de o cartola asiático fazer amigos e influenciar pessoas.
Foi esse o comportamento do Japão na disputa para sediar a Copa de 2002. Fez pouco do vizinho, que acabou arrancando o Mundial compartilhado pelos dois países. A decisão foi encarada como triunfo pelos coreanos e malogro pelos japoneses.
Chung tem muito dinheiro, muita ambição e joga muito duro.
No atacado, que são os bambambãs da Fifa, e no varejo, com aqueles que supõe terem o poder de fazer cabeças, puxando a brasa para sardinhas lá ou cá.
Já contei certa vez e reproduzo agora a ousadia de Chung, 20 anos atrás:
No dia 12 de agosto de 1995, o dirigente número um do futebol sul-coreano, Chung Mong-joon, recepcionou por volta de dez jornalistas brasileiros em um almoço num hotel cinco estrelas de Seul. Brasil e Coreia jogariam poucas horas mais tarde na vizinha cidade de Suwon.
Enquanto não serviam a comida, e garrafas de uísque de boa procedência eram enxugadas, Chung entusiasmou-se e anunciou em inglês: “Se a Coreia vencer hoje, cada um de vocês vai ganhar de presente um Accent.”
Trata-se de um modelo da Hyundai, a gigante automobilística que tem em Chung um dos controladores e herdeiros. Houve constrangimento de uns poucos repórteres mais escrupulosos, que recusariam o jabá, e excitação da maioria.
Durante a refeição, acompanhada de honestos vinhos franceses, o anfitrião _também deputado, vice-presidente da Fifa, à época lobista-chefe na disputa contra o Japão para sediar a Copa-2002 e hoje cotado para concorrer à Presidência da República_ radicalizou: “Darei o carro mesmo se houver empate.”
Quando um petardo do Dunga selou a vantagem brasileira por 1 a 0, em raro gol do volante pela seleção, um radialista traiu a ira desferindo um soco na mesa da tribuna do estádio. Adeus, Accent.
Eu era um dos comensais a quem Chung ofereceu o automóvel. Não o aceitaria, é evidente, devido ao mais evidente ainda conflito de interesses.
O bilionário _a “Forbes'' confirma tal condição em 2015_ era então parceiro do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, nos confrontos intestinos da Fifa.
Falavam que ele bebia como gente grande. No almoço relembrado acima, notei que era verdade.
Se o Platini esperava um passeio, talvez tenha surpresa, caso a candidatura Chung não seja mero exercício de vaidade e jogo de cena.
Fonte: Uol
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