Apesar de o catolicismo ser a religião com mais adeptos no Brasil, atingindo 64,6% da população segundo dados do IBGE/2010, o a maior área
ecleciástica do país e da América Latina, a região Xingu, no Pará, não tem padres suficientes para atender as demandas das comunidades. De acordo com o bispo Dom Erwin Kräutler, são apenas 27 padres para cobrir as 800 comunidades espalhadas em um território de 365 mil quilômetros quadrados.
O problema levou Kräutler a apresentar ao Papa Francisco, no Vaticano, a possibilidade de padres casados atuarem nessas localidades excluídas. Pelas regras da Igreja Católica, quem decide se casar não deixa de ser padre, mas perde o direito de celebrar alguns rituais da religião.
"Não se trata de opor-se ao celibato de quem tiver feito essa opção consciente e madura. Trata-se da Eucaristia e da escolha de pessoas que seriam ordenadas para presidi-la", afirma o bispo. "Torna-se urgentemente necessário criar estruturas em nossa Igreja para que os 70% de comunidades, que hoje estão excluídas da celebração eucarística dominical, possam participar da fração do pão”, afirma.
"Causa-nos uma profunda dor ver milhares de [pessoas das] nossas comunidades excluídas da eucaristia dominical. A maioria delas só tem a graça de celebrar o Memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor uma, duas ou três vezes ao ano", explica o bispo.
Para o religioso, a condição de pai de família não interfere na atuação como padre. "Do ponto de vista teológico não há nenhum óbice [obstáculo] a pessoas que presidem a Eucaristia exercerem durante a semana sua profissão e serem pais de família. Esta, inclusive, é a tese do bispo emérito de uma diocese da África do Sul, Dom Fritz Lobinger", esclarece Dom Erwin.
A situação da região foi apresentada ao Papa Francisco em uma audiência particular no dia 4 de abril. "Por enquanto não se trata de uma proposta, mas de um pedido de solução para as nossas comunidades. Naquela oportunidade ele [Papa] pediu que os bispos do Brasil apresentassem propostas concretas e corajosas para serem discutidas a fim de chegarmos a uma solução", afirma o bispo do Xingu.
A questão apresentada primeiramente ao Papa foi exposta no dia 6 de maio de 2014 durante a última Assembleia Geral da CNBB. Dom Erwin acredita que o assuntovai entrar em pauta novamente na próxima Assembleia da CNBB em abril de 2015.
Dom Erwin Kräutler
Bispo da prelazia do Xingu, Dom Erwin Kräutler é austríaco naturalizado brasileiro desde 1978 e há 34 anos atua em favor das comunidades na Amazônia em seu trabalho como religioso. Além de bispo do Xingu, ele é presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), organismo vinculado à CNBB.
Fonte: G1
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