Na semana em que a pancadaria entre os candidatos à Presidência chegou ao auge até aqui, a presidente Dilma Rousseff (PT) e a
ex-senadora Marina Silva (PSB) esquentaram a campanha com acusações sobre o papel dos bancos em suas candidaturas – a petista insinuou que Marina é “sustentada por banqueiros” e ouviu em resposta que seu governo criou a “bolsa-banqueiro”. Levantamento com base nas prestações parciais de contas das companhas revela que Dilma foi quem mais se beneficiou do setor bancário até o momento. O montante recebido pela petista é praticamente a soma do que receberam Marina e Aécio Neves (PSDB). Duas instituições, contudo, não colocaram um centavo na campanha petista, segundo os documentos entregues pelo PT à Justiça Eleitoral: o Itaú, banco do qual Maria Alice Setubal, a Neca, uma das coordenadoras de campanha de Marina e principal alvo de Dilma, é herdeira, e o Santander, que divulgou a investidores um texto que apontava riscos de uma eventual vitória da presidente-candidata para a economia.
Dilma e o PT receberam de bancos doações que ultrapassam 15,8 milhões de reais – mais do que o dobro da contribuição destinada ao PSB de Marina, que arrecadou 6 milhões de reais. À margem da celeuma entre as adversárias, Aécio Neves e o PSDB angariaram o segundo maior montante: 10,1 milhões de reais. As somas representam os valores declarados como receita por candidatos, direções nacionais dos partidos e respectivos comitês financeiros para presidente da República. Doações que transitaram de um desses caixas para outro foram eliminadas, de forma a evitar dupla contagem.
Nas contas petistas, empresas do grupo BTG Pactual contribuíram com 8,2 milhões de reais. É mais da metade de tudo o que Dilma e o Direção Nacional do partido ganharam do setor bancário. Outros 5,9 milhões saíram dos cofres de subsidiárias do Bradesco – o equivalente a 37% do total. Empresas da família Safra doaram 1,65 milhão de reais, e a holding que controla o Banco Fator, 50.000 reais.
As empresas do Bradesco doaram a maior fatia do caixa de Aécio Neves e da Direção Nacional do PSDB: 3,7 milhões de reais. O BTG Pactual destinou 2,15 milhões de reais, e o Itaú, 2 milhões de reais. Empresas do grupo Safra transferiram 1,15 milhão de reais aos tucanos, enquanto os bancos BMG e Boa Vista Interatlântico depositaram, respectivamente, 700.000 e 400.000 reais ao terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto e a seu partido.
O banco Itaú foi até agora o maior doador da campanha do PSB, com 2 milhões de reais – o partido só prestou contas até aqui da verba arrecadada no período em que o cabeça de chapa era Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 13 de agosto. A quantia é a mesma doada a Aécio. As empresas da família Safra depositaram 1,4 milhão de reais nos cofres pessebistas. O banco espanhol Santander repassou 1,1 milhão de reais, quase a mesma quantia do Bradesco: 1 milhão de reais. A Agiplan financeira foi responsável por meio milhão de reais.
Em todos os levantamentos, a reportagem considerou apenas as doações em nome das empresas e suas subsidiárias ou controladoras. Não estão na conta contribuições de pessoas físicas – como as recebidas pelo PSB: de Neca Setubal (200.000 reais) e João Moreira Salles (10.000 reais), ambos das famílias controladoras do Itaú Unibanco, tampouco de executivos que trabalharam ou ainda trabalham diretamente com o setor financeiro, como Ricardo Augusto Gallo (20.000 reais), ex-BankBoston.
Rusgas
Até agora o Itaú não depositou nenhum centavo na campanha de Dilma, embora já tenha distribuído 4 milhões de reais entre seus principais adversários. Dilma também não recebeu contribuições do Santander, que acabou por demitir a funcionária responsável pelo texto distribuído aos correntistas sobre a eventual reeleição de Dilma.
O PT adotou como estratégia de campanha fazer críticas diretas à relação de Marina com o Itaú. O presidente executivo do banco, Roberto Setubal, já declarou publicamente que a eleição da ex-senadora seria uma “evolução natural”. Herdeira do banco, Neca também virou alvo da militância petista e de dirigentes do partido. Ela é uma das coordenadoras da campanha e colaboradora de Marina para propostas sobre Educação.
Em reunião pública do PT na semana passada, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, atacou a influência de Neca no programa de governo de Marina: “Não dou cheque em branco para o Itaú”. A campanha de Dilma passou a criticar o que classifica como riscos do projeto de Marina, que pretende dar mais autonomia ao Banco Central. O discurso de “terror” pregado pelo PT afirma que a proposta vai provocar “desemprego” e é “hostil à classe trabalhadora”.
Contra-ataque
Marina reagiu: na terça-feira, disse que o governo Dilma promoveu a “bolsa-banqueiro”, por causa das altas taxas de juros da economia, que contribuem para elevar os lucros dos bancos. Dilma, então, voltou à carga e acusou indiretamente a adversária de ser “sustentada” por banqueiros. Na quarta-feira, Marina lembrou que Neca apoiou publicamente em 2012 a candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo – e não foi ‘satanizada’ pelo PT na ocasião.
Além da proximidade de Marina com Neca, os rendimentos da ex-senadora com palestras a empresas e bancos foram parar na mira da campanha de Dilma. O comitê petista pediu ao Ministério Público uma investigação sobre a declaração de bens entregue pela ex-ministra à Justiça Eleitoral. Marina lucrou ao menos 1,6 milhão de reais com palestras. Todas as doações foram registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), conforme previsto em lei. A real dimensão de quanto as instituições financeiras destinam para bancar campanhas eleitorais só poderá ser verificada no fim de novembro, quando termina o prazo para que partidos e candidatos prestem contas completas sobre os gastos nas eleições deste ano.
Fonte: Veja
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