Sentado na mesa de uma churrascaria a poucos metros do Centro de Treinamento do Palmeiras, na Zona Oeste de São
Paulo, Ricardo Gareca tirou proveito nesta sexta-feira dos últimos instantes de uma experiência curta, frustrante, mas ainda assim prazerosa pelo Brasil.
Uma experiência que, na opinião do próprio Gareca, não deve se repetir.
"Foram incríveis a torcida, as pessoas pelas ruas, aonde ia só recebia palavras de incentivo, são muito educados os brasileiros, me trataram muito bem. No clube do Palmeiras, os empregados, meus colaboradores e toda a diretoria me trataram muito bem", disse em entrevista ao ESPN.com.br o argentino. "Mas não sei se vão me dar outra oportunidade no Brasil."
Entrevista que ele prometeu na churrascaria, e cumpriu, menos de duas horas depois, por telefone. "Gostaria de conversar com você, só que com mais tempo, volto para a Argentina hoje, tenho que devolver esse telefone celular no qual você teria que me ligar, tenho que devolver a caminhonete, a chave do apartamento...", respondeu ele, a princípio.
O treinador foi contratado com grande expectativa pelo Palmeiras, que viu no seu sucesso pelo Vélez Sarsfield uma luz num caminho escurecido por seguidas decepções.
Comandante do Vélez por longos quatro anos, de 2009 a 2013, sendo tricampeão nacional, porém, Gareca não conseguiu no Palestra Itália mais que quatro vitórias, um empate e oito derrotas em 13 jogos e dois meses. Deixou o time segunda-feira passada, na beira da zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro.
Os resultados poderiam inibir o argentino a falar com a reportagem deste site.
Mas Gareca concedeu a seguinte entrevista ao ESPN.com.br:
Com que sentimento o senhor volta à Argentina depois de dois meses de trabalho no Palmeiras? Esperava-se que fosse muito mais, não?
Imagine que trabalhei seguidamente desde 2007 até 2013 - no Universitário, do Peru, de 2007 a 2008 e no Vélez, de 2009 a 2013 - e agora só durei dois meses. Cheguei em 16 de junho a São Paulo e não completei nem três meses. Estive muito pouco tempo à frente do Palmeiras.
Por que não conseguiu o sucesso do Vélez no Palmeiras?
Porque não consegui resultados. Os resultados foram muito ruins, e a diretoria preferiu deixar que eu abandonasse o cargo.
O senhor trabalhou muito tempo no Vélez, talvez o clube mais organizado da Argentina. O Palmeiras não é um exemplo de organização. Isso pesou para que não conseguisse o sucesso que teve na Argentina?
Foram muitos jogos juntos, o Palmeiras é grande, gostei da proposta, o desafio, Brasil, um país importante, junto com a Argentina são as ligas mais fortes. Gostei do desafio e aceitei.
Quando o senhor assinou com o Palmeiras, o presidente Paulo Nobre deixou claro que os resultados teriam que ser conquistados rápido, que você não tinha muito tempo?
Não falamos disso, penso que a intenção do Palmeiras e de Paulo Nobre era que eu continuasse, queriam que ficasse muito no Palmeiras, mas os resultados foram ruins e tomaram a decisão de me separar do time.
O que poderia ter sido diferente nessa passagem?
Não quero falar de coisas que poderiam ter sido diferentes, prefiro falar do que aconteceu, os resultados não foram bons e só isso. Não quero começar a falar agora do que podia ter sido melhor. Já foi, não tive resultados e volto pra Argentina.
Por que não vieram os resultados?
Porque não tive capacidade. O que eu queria transmitir ao time não consegui transmitir. Penso que foi isso.
É muito diferente trabalhar no Brasil e com os jogadores brasileiros do que trabalhar na Argentina com os argentinos?
Não, não. A única diferença de Brasil e Argentina é a quantidade de jogos, os jogos aqui no Brasil são contínuos. O resto é o mesmo.
Para alguns, o Palmeiras não tinha propensão para jogar ofensivamente, como você montou o time. O senhor acredita que poderia ter armado a equipe de forma mais cautelosa, com mais jogadores na defesa?
São opiniões, as respeito, mas tenho essa característica. Quero que meus times, e mais ainda em uma instituição como o Palmeiras, um grande, arrisquem. Pude ter me equivocado para a opinião dos demais, entendo, mas gosto do futebol assim.
O Palmeiras pode se manter na Série A jogando ofensivamente?
Não sei, tenho fé que o Palmeiras vai ficar na Série A, estou convencido de que tem jogadores para ficar na Série A. Sobre como tem que jogar, não falo, só falo do que eu gosto, não opino sobre o que gostam os demais.
O senhor gostaria de continuar trabalhando no Brasil?
Gosto do Brasil, gostei muito. Mas acho que vai ser difícil pela campanha do Palmeiras. Mas gostei muito daqui.
Não acredita que possa ter outra oportunidade aqui?
Não sei se vão me dar, sou estrangeiro, não sei se vão me dar a oportunidade.
Você acredita que por ser estrangeiro te trataram de forma diferente no Brasil?
Não, pelo contrario. Foram incríveis a torcida, as pessoas pelas ruas, aonde ia só recebia palavras de incentivo, são muito educados os brasileiros, me trataram muito bem. No clube do Palmeiras, os empregados, meus colaboradores e toda a diretoria me trataram muito bem
O futebol brasileiro deve mudar taticamente, deve evoluir?
Para mim, não. Vi times muito bem trabalhados taticamente no futebol brasileiro. Para mim, não.
O que te espera na Argentina, já existe alguma proposta, pode voltar para o Vélez?
Não tenho nada na Argentina. Volto pro meu país e tenho que esperar, analisar se tenho alguma proposta e se tiver, vou analisar.
Você indicou quatro jogadores argentinos que o Palmeiras contratou - Tobio, Allione, Mouche e Cristaldo. Eles estão preocupados com o futuro na equipe sem você no comando?
Tranquilo, tenho boa relação com eles, mas são profissionais e vão triunfar no Palmeiras com o tempo porque são bons jogadores.
Fonte: ESPN
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