Um dos principais projetos desenvolvidos pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Lais/IFRN) pode fazer
pessoas com deficiência visual voltarem a “enxergar”. Batizado de “Visão Biônica”, o estudo está em fase de testes por voluntários e possui um grande impacto social, pois além de ajudar pessoas com cegueira total a se locomoverem com menor riscos de acidentes, ele também faz o mapeamento virtual de obstáculos, o que pode auxiliar a prática de políticas de acessibilidade por gestores municipais.
Segundo o coordenador do Lais/UFRN, Ricardo Valentim, o projeto permite uma visão parecida aos dos morcegos, que se guiam por meio da audição. Ele explicou que o equipamento é composto por um dispositivo que acompanha a pessoa com deficiência visual e possui três módulos de ultrassom, que são responsáveis por detectar a presença de obstáculos na altura da cabeça, cintura e no chão. O aviso é feito por um sinal sonoro e mensagens pre-gravadas que alertam sobre buracos, mesas ou caixas de ar-condicionado, por exemplo.
“A bengala é muito eficiente, mas possui lacunas táteis importantes, que geralmente não funcionam no alerta sobre esses tipos de riscos, cotidianos na vida de uma pessoa cega, por isso, desenvolvemos o protótipo que usam um conjunto de ultrassom. Ele percebe os objetos e calcula as distâncias entre o usuário e os obstáculos, evitando que o usuário bata a cabeça contra uma caixa de ar-condicionado ou caia em bueiros”, afirmou.
Ricardo disse também que, apesar de ser uma tecnologia assistiva muito sofisticada, ela é barata, uma vez que o protótipo custa R$ 60,00. E que, além de ser eficiente, ele ainda auxilia no mapeamento dos obstáculos que possam colocar a vida das pessoas, em especial as com deficiência visual, em risco. Esses dados podem ser usados por gestores das cidades para a correção dos problemas e ajudar ações de acessibilidade nos municípios.
“Estamos estudando isso há cerca de quatro anos e a nossa expectativa é que em mais três ou quatro meses, possamos aprimorar esse sistema, para melhorar a qualidade de vida das pessoas com cegueira e evitar assim, situações de riscos que possam comprometer até mesmo a vida delas. Esse equipamento proporciona uma segurança muito maior, a um baixo custo”, falou.
Protótipo é apresentado em workshop
Composto por três módulos de ultrassom, o equipamento é usado pelo funcionário público Sidney Soares, que fez a apresentação do protótipo na manhã desta segunda-feira (21), durante a abertura do 3º Workshop de Inovação Tecnológica em saúde, no auditório da biblioteca central da UFRN.
Para Sidney, as pessoas com deficiência visual enfrentam diariamente inúmeros perigos, que podem causar machucados e lesões graves ou permanentes e o projeto “Visão Biônica” pretende diminuir esses riscos. Ele disse ainda que o sensor instalado no final da bengala ajuda a localizar e desviar de obstáculos que muitas vezes não são detectados durante uma caminhada, como um bueiro, buraco nas caçadas ou outros perigos.
“Para uma pessoa com deficiência visual, é muito difícil sair de casa hoje por causa dos riscos de acidentes e um exemplo perto de nós é o de uma funcionária da universidade que já caiu duas vezes em um bueiro, sofrendo ferimentos graves. Sem contar nos constantes riscos de bater a cabeça em alguma coisa, já que a bengala não alcança esses tipos de obstáculos. É muito constante uma pessoa sofrer um corte, uma batida ou algo semelhante na cabeça, orelha ou outra parte do corpo”, explicou.
Para a reitora da UFRN, Ângela Paiva, o projeto “Visão Biônica” possui um alto nível de importância para a sociedade, já que é impossível fazer tecnologia sem pensar na saúde. “É a inovação que traz produtos e procedimentos novos para reforçar a saúde. Mais uma vez, a UFRN contribui para a solução de problemas que afligem a sociedade, como neste projeto desenvolvido pelo Lais, que foi fortalecido principalmente após a criação do curso de Engenharia Biomédica”, afirmou.
Reprodução Cidade News Itaú via Portal JH
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