Soro vencido é aplicado em criança de Mirandiba, no Sertão; polícia investiga

Um soro glicosado vencido foi aplicado na veia de uma menina de 2 anos de idade em Mirandiba, no Sertão pernambucano. Esta afirmação é do pai da criança, o

policial militar Juscélio Paulino, e foi confirmada pelo delegado Silvander Ponte, que apreendeu a bolsa de soro, já pela metade, e outras três - todas com prazo de validade até novembro de 2013.

O caso é investigado desde a sexta-feira (28) e aconteceu na Unidade Mista Ana Alves de Carvalho, no Centro da cidade. "Umas 18h30, liga minha esposa desesperada porque percebeu que o soro era vencido. Eu estava a caminho e liguei para o delegado, que presenciou o soro vencido injetado na veia da minha filha", contou Juscélio Paulino.

Ele afirma ainda que o delegado Silvander Ponte conversou com a mulher responsável pela farmácia. "A funcionária diz que pediu de empréstimo o soro ao Hospital Regional de Salgueiro [também no Sertão]. O que eu acho muito pouco provável. Ela diz que tem muito conhecimento e pede medicamento a hora que quer, mas não soube informar a quem e nem apresentou nota do soro ao delegado", relatou. "E ela [a funcionária] não é capacitada. A função seria de um farmacêutico".

A redação entrou em contato com a direção da Unidade Mista Ana Alves de Carvalho, porém, não obteve êxito. Os números de telefone que constam no site do Ministério da Saúde e no Guia de Saúde de Pernambuco não completam a chamada (segundo a assessoria da Secretaria Estadual de Saúde, este guia atualmente não tem substituto no portal). O G1 conseguiu o número de um orelhão vizinho à unidade, porém, a diretora teria saído e nenhum funcionário atendeu ao chamado.

A diretora do Hospital Regional Inácio de Sá, em Salgueiro, também não foi encontrada para comentar a informação passada pelo pai da criança.

Estado da criança

Juscélio Paulino informou que a criança deu entrada na unidade mista na quarta-feira (26) com problemas na barriga, mas não era febre nem diarreia. Mesmo assim, o médico deixou-a internada. Na quinta (26), um enfermeiro da unidade teria orientado a família a pedir alta e levar a menina a outra unidade; assim o pai o fez, porém, o médico teria dito que não havia necessidade. Na sexta-feira (28), houve o procedimento com o soro.

A menina, que completa três anos nesta quinta-feira (3), passa bem e não teve reações. "Até o momento não. Mas a pediatra que está acompanhando agora alertou que podem aparecer algumas reações porque o soro vencido pode estar com bactéria ou fungo", falou o pai.

Investigações

O delegado Silvander Ponte explicou que, junto à promotora do município, está tentando identificar se há uma tipicidade penal em administrar medicamento vencido. "Felizmente não houve uma fatalidade, a morte. Se tivesse lesado, seria lesão corporal; se fosse morte seria considerado homicídio [em ambos os casos, a averiguar se doloso ou culposo]. Os pais ainda não informaram se houve lesão", comunicou.

Como as investigações estão no começo, não há como precisar alguns detalhes nem quando o inquérito será finalizado, segundo o delegado. "A Vigilância Sanitária pode ser acionada e o medicamento apreendido pode ser encaminhado à perícia policial".

Ponte disse ainda que, "mesmo que não fique devidamente tipificado, existe a responsabilidade civil do hospital e dos funcionários, que podem passar por processo administrativo. E eu posso remeter o procedimento ao Ministério Público [de Pernambuco], que pode entrar com um inquérito civil". Por fim, comunicou que a família também pode entrar com ação de responsabilidade civil contra a unidade mista.

Reprodução Cidade News Itaú via G1