Três doleiros foram presos, nesta terça-feira (29), no Recife, suspeitos de participar de um esquema de operações ilegais de câmbio e remessas ilegais de divisas ao exterior.
Há suspeita de envolvimento de outros cinco doleiros, que atuam no Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e em Minas Gerais, além de empresários. A Operação Grande Truque, que desarticulou a quadrilha suspeita de aplicar golpes ao Sistema Nacional Financeiro, foi realizada por 180 agentes da PF e servidores da Receita Federal. A quadrilha teria movimentado R$ 100 milhões nos últimos 4 anos, conforme as investigações.
A quadrilha atuava, principalmente, com subfaturamento de importações, em que o valor declarado à Receita Federal e ao Banco Central era inferior ao da mercadoria. Segundo a PF, eles praticavam a chamada operação dólar-cabo, onde são remetidas divisas para instituições financeiras no exterior sem conhecimento da Receita ou do Banco Central.
De acordo com a PF, se o produto custava, por exemplo, R$ 1 milhão, a quadrilha declarava um valor inferior aos órgãos aduaneiros. O restante da quantia era remetida a países como Bélgica, Itália, Portugal e Inglaterra através de uma rede de doleiros no Brasil e no exterior. Com isso, o grupo diminuía o valor do imposto devido.
“Fizemos buscas também em uma casa de câmbio em um shopping do Recife e também em uma empresa de transporte de valores de cunho nacional, onde está sendo apreendido dinheiro em espécie, principalmente moedas estrangeiras, como euro, dólar, dólar canadense, uma quantidade de iene e também libra esterlina", explicou o superintendente da PF em Pernambuco, Marcelo Diniz.
A estimativa inicial da Polícia Federal é que, na empresa de transporte de valores, foram apreendidos cerca de R$ 30 milhões. “Os doleiros usam essa empresa para fazer custódia de câmbio paralelo, que não estão registradas no Banco Central”, esclareceu o delegado federal Wagner Menezes. “Essa empresa vai ter que justificar que tinha autorização [do Banco Central] para manter esse dinheiro em custódia. Só quem mantém dinheiro em custódia é banco, empresa de valores pode apenas transportar", complementou Diniz.
As investigações começaram em 2010, quando a Polícia Federal recebeu a denúncia de uma movimentação suspeita no valor de R$ 4 milhões. "Ao começarmos a investigar, constatamos que essa pessoa não estava trabalhando sozinha, estava associada a uma ampla rede de doleiros com a finalidade de mandar dinheiro para o exterior sem registrar na Receita e no Banco Central. A especialidade deles é fazer esse dinheiro chegar a qualquer canto do planeta sem que o sistema aduaneiro saiba", afirmou o delegado Wagner Menezes.
Clientes orientais
A investigação aponta que os principais clientes desse esquema seriam empresários orientais, em especial chineses, e do ramo têxtil. Ainda conforme o delegado, uma empresa belga, de propriedade de um brasileiro, está sendo investigada. "A gente identificou também que eles firmavam contrato com cidadãos alemães, que emprestavam dinheiro mediante promessa a remuneração no futuro”, apontou Menezes.
A superintendente da Receita Federal no estado, Renata Gasparini, disse que ainda não tem como saber o valor total que teria sido sonegado pelo grupo. "Sabemos apenas a movimentação total. Vamos ter que fazer uma averiguação das remessas feitas, comparadas às importações para poder ter esse valor".
As investigações continuam e a expectativa da Polícia Federal é que mais empresários sejam indiciados. "A gente está lidando com cifras ocultas, algumas delas [empresas] estão tentando trabalhar de forma clandestina, outras com uma empresa de fachada. O que a gente sabe é que é uma rede muito ampla, são dezenas de pessoas que atuam em diversos estados e fora do país", detalhou Marcelo Diniz.
Ao todo, foram cumpridos 24 mandados de busca, 11 de condução coercitiva e três de prisão preventiva, distribuídos entre as cidades do Recife, de Paulista, Pombos, Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe, Jaboatão, Goiana e Olinda. No Rio de Janeiro, foram dois mandados de busca e apreensão e um de condução coercitiva, mesmo número de Minas Gerais.
Os suspeitos detidos são investigados por práticas de evasão de divisas, instituição financeira clandestina, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Se forem condenados, eles podem pegar até 23 anos de reclusão.
Reprodução Cidade News Itaú via G1 RN
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