A presidente Dilma Rousseff afirmou hoje que foram os rios da Bolívia, país vizinho a oeste de Rondônia, os responsáveis pela cheia histórica do rio Madeira, que já atingiu mais de
3.500 famílias em Porto Velho (RO).
"Nossa avaliação é que houve, de dezembro a fevereiro, um fenômeno [climático] em cima da Bolívia. Ocorreu uma imensa concentração de chuvas [lá]." Segundo a presidente, por isso, os rios bolivianos que desembocam no Madeira provocaram a cheia porque o país vizinho está acima do nível do rio Madeira. "Não temos essa quantidade de água [para resultar na cheia], mas sim os rios que formam o Madeira, nos Andes, o rio Madre de Dios e o Beni."
A petista esteve em Porto Velho e de lá sobrevoou a região afetada pelas águas do Madeira. Durante a visita, a presidente acolheu pedido de calamidade pública da prefeitura.
Para explicar a situação da cheia, Dilma usou uma fábula e defendeu as usinas Santo Antônio e Jirau, que estão sendo acusadas de serem as responsáveis pelo problema na região.
"É um absurdo atribuir às duas hidrelétricas a quantidade de água que vem pelo rio. E eu até uso a fábula do lobo e do cordeiro. O lobo [bebe água] na parte do cima do rio e diz ao cordeiro: "você está sujando minha água". O cordeiro respondeu: "não estou, não. Eu estou abaixo de você no rio". A mesma coisa é a Bolívia em relação ao Brasil. A Bolívia está acima do Brasil em relação à água", afirmou.
Do lado brasileiro, as duas usinas, obras construídas com recursos federais do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), são apontadas por ambientalistas e promotores como agravantes da cheia de Rondônia.
Neste semana, a Justiça mandou que Santo Antônio e Jirau banquem moradia e alimentos para os atingidos pela cheia do Madeira.
Acompanhada do ministros Francisco José Teixeira (Integração Nacional) e Arthur Chioro (Saúde), a presidente reforçou as promessas que havia feito há três dias, como a liberação do FGTS para os desabrigados, novas unidades de imóveis do Minha Casa Minha Vida, a anuência federal para abertura de estrada para chegar a cidades isoladas no Estado e seguro-defeso para ribeirinhos.
Dilma anunciou o acolhimento do pedido de estado de calamidade pública de Porto Velho. Segundo o Ministério da Integração Nacional, essa medida se refletirá sobretudo na fase de reconstrução da cidade. Até agora, R$ 5,8 milhões foram liberados pela União a Rondônia para socorro às vítimas.
O nível do rio chegou a 19,15 metros acima do nível normal. Segundo a Defesa Civil de Rondônia, 779 famílias estão desabrigadas e 1.699 desalojadas. Há, ainda, outras 1.300 que se anteciparam e deixaram suas casas e foram para residências de parentes e amigos, sem precisar de apoio do governo.
"Não é possível olhar para essas duas usinas e achar que elas são responsáveis pela quantidade de água que entra no Madeira. A não ser que a gente acredite na história da fábula do lobo e do cordeiro", disse a presidente.
A reportagem tentou, mas não conseguiu falar com a Embaixada da Bolívia em Brasília nem com o consulado do país vizinho em Guajará Mirim (RO).
"Problema Pequeno"
Após sobrevoar o rio Madeira, Dilma foi questionada sobre a crise do governo com o PMDB. Diante dos problemas enfrentados pelos moradores da região, disse a presidente, essa questão com a base aliada ficou pequena.
"Pode saber que sempre que você vê isso [cheia do Madeira], meus problemas passam a ser pequenos, os problemas de cada um de nós [também]. É a gente diante da natureza e da força dela. Mesmo assim a gente teima e tende a enfrentar."
A viagem de Dilma a Rondônia, governado por um peemedebista, Confúcio Moura, foi anunciada ontem. Hoje de manhã, a assessoria da Presidência divulgou a ida dela também para o Acre, Estado comandado pelo petista Tão Viana e que sofre com a cheia do rio Acre.
A presidente deixou Porto Velho às 13h30 (horário de Brasília) com destino a Rio Branco (AC). Ela sobrevoará a região e se reunirá com autoridades do Estado.
Reprodução Cidade News Itaú
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