Há exatamente um ano, o papa Bento 16 surpreendeu o mundo ao renunciar. Era a primeira vez que o chefe da Igreja Católica
deixava o cargo em 600 anos.
Uma segunda surpresa foi que, depois de passar um período curto descansando na residência de verão do papado em Castelgandolfo, perto de Roma, ele decidiu residir novamente dentro das muralhas da Cidade do Vaticano, onde um antigo convento foi adaptado para abrigá-lo.
Como o ex-pontífice e o papa atual podem habitar o mesmo espaço?
Quando papas rivais eram eleitos por questões políticas em partes diferentes da Europa na Idade Média, a confusão e o conflito se estabeleciam na Igreja.
Mas nesse caso houve uma transição excepcionalmente suave de um papado para o outro.
Tocando Mozart
O papa emérito, título inédito na história da Igreja, vive a apenas alguns metros de seu sucessor, o papa Francisco.
Os dois papas se visitam ocasionalmente e conversam frequentemente por telefone ou carta.
O papa Bento, que nos oito anos anteriores foi uma das mais importantes figuras públicas do mundo, agora deliberadamente adota um perfil mais discreto.
"Ele vive discretamente sem uma vida pública, mas isso não significa que está isolado", disse o padre Federico Lombardi, porta-voz oficial do Vaticano.
O papa emérito de 86 anos passa seu tempo de maneira quieta: lendo, rezando, estudando, lidando com a correspondência e recebendo visitantes ocasionais.
Ele também toca Mozart e Beethoven no piano que trouxe do apartamento papal do Palácio Apostólico.
As mesmas quatro empregadas laicas que arrumavam seus aposentos quando era papa continuam a manter rua agora modesta residência.
Elas já foram fotografadas ao lado de Bento 16, na caminhada diária do papa, que usa uma bengala para percorrer os bem cuidados jardins do Vaticano, atrás da basílica de São Pedro - um oásis de tranquilidade situado no coração de Roma, mas protegido do barulho e do trânsito caótico da capital italiana.
Negócios como sempre
Logo antes do Natal, o papa emérito foi o convidado de honra em um almoço oferecido pelo papa Francisco na Casa Santa Marta - a residência de hóspedes do Vaticano, que Francisco escolheu para viver. Era a celebração do aniversário de 77 anos de Bento 16.
Escrevendo dias depois para o teólogo dissidente suíço Hans Kung - com quem teve uma discussão séria anos atrás, banindo o teólogo de uma universidade católica, onde ele lecionava - o ex-cardeal Ratzinger mostrou uma atitude muito mais conciliatória do que tinha quando exercia posições de poder no Vaticano.
"Sou grato por estar vinculado a uma grande identidade de visões e a uma amizade profunda com o papa Francisco", escreveu depois o professor Kueng. "Minha única tarefa final é apoiar seu papado com minhas preces".
À primeira vista, quase nada mudou dentro do Vaticano no período entre os dois papas.
Algumas nomeações importantes - como a do secretário de Estado - foram feitas pelo papa Francisco, mas o ritmo semanal de negócios dentro do menor Estado soberano do mundo continua como antes.
Bispos de todo o mundo continuam a prestar contas a Roma do que está acontecendo em suas dioceses. Chefes de Estado e de governo são recebidos em audiências privadas pelo papa Francisco.
O público da audiência geral do papa às quartas-feiras e sua bênção regular de domingo aos fiéis na praça de São Pedro praticamente dobrou desde a renúncia do papa Bento 16.
Isso reflete a popularidade internacional crescente de seu sucessor, o primeiro papa das Américas, que sem surpresa foi declarado personalidade do ano pela revista Time, além de ser tema de reportagens de capa das revistas "New Yorker" e "Rolling Stone".
O arcebispo Georg Gaenswein, secretário privado do papa emérito por quase uma década, continua a viver na residência do ex-pontífice.
Ele é uma das poucas pessoas que vê os dois papas diariamente, uma vez que Gaenswein também é responsável por organizar os compromissos diários do papa Francisco.
"Eu tento ser uma ponte entre os dois papa, e até agora isso tem funcionado bem. Espero que os dois chefes estejam satisfeitos", disse o arcebispo à agência Reuters.
Reprodução Cidade News Itaú
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