terça-feira, janeiro 21, 2014

Família de jovem gay diz que está convencida sobre suicídio

Isabel Cristina Batista, mãe de Kaique, se emociona ao falar do suicídio do filho. (Foto: Lais Cattassini/G1 São Paulo)A família do adolescente gay Kaíque Augusto dos Santos, de 17 anos, encontrado morto em 11 de janeiro sob o Viaduto Nove de Julho, no Centro de São Paulo, disse nesta
terça-feira (21) estar convencida de que ele se matou. Os parentes contestavam a versão da polícia, que registrou o caso como suicídio, e cobravam a investigação da morte.
O advogado Ademar Gomes, que representa a mãe do jovem, disse que a família não irá mais contestar a versão oficial. Inicialmente, os parentes suspeitavam de um crime de homofobia porque o corpo estava sem os dentes e tinha marcas que pareciam de espancamento. "A polícia agiu corretamente por registrar caso como suicídio, pois não tinha indícios de que era um homicídio, registrou como suicídio e continuou investigando", afirmou  Gomes em entrevista nesta terça-feira.
A cabeleireira Isabel Cristina Batista, mãe de Kaique, afirmou que não suspeitava da depressão do filho, mas chegou à conclusão de que o adolescente se suicidou. "Nunca rejeitei meu filho", disse. "Se tivesse conhecimento, tentaria solucionar."
O diário de Kaique é o principal indício de que a causa da morte foi um suicídio, mas, segundo o advogado Ademar Gomes, conversas com testemunhas e a investigação policial também indicam que Kaique não foi assassinado. "Ele demonstra [em seu diário] uma tendência ao suicídio", afirmou. Segundo Isabel, Kaíque era um rapaz alegre.

Queda de viaduto
A Polícia Civil afirmou, na semana passada, que sinais aparentes de tortura podem ser resultado da queda do viaduto. A perfuração na perna teria sido causada por uma fratura exposta. Os dentes e os dedos quebrados, além do traumatismo craniano, podem ter ocorrido na queda. A análise preliminar aponta que ele caiu em pé e bateu no meio-fio.
O diário do adolescente, que estava na casa da família com quem ele estava morando na região do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo, tinha textos de despedida, segundo a polícia. Em alguns, Kaíque demonstra animação; em outros, mostra-se decepcionado com algumas pessoas. Em muitos trechos, a letra de Kaique é ilegível.
Em um texto recente, Kaíque escreve que tomaria "uma atitude, uma decisão" até segunda-feira (13). A seguir, é possível ler a frase: "Adeus às pessoas que amo". Depois deste texto, ele escreveu pelo menos outros três no diário, sem fazer referência a uma despedida, segundo a polícia.
Kaíque foi a uma festa gay em uma boate na região central de São Paulo há 10 dias. Os amigos contam que ele saiu da boate para procurar os documentos que estariam perdidos e sumiu. Na madrugada de 11 de janeiro, a polícia recolheu o corpo embaixo do viaduto, perto da boate. O boletim de ocorrência foi feito com base no relato do policial que encontrou o corpo. O delegado que assinou o boletim de ocorrência o registrou como suicídio.
O estado do corpo do jovem, porém, levou sua família a acreditar que ele foi assassinado. "Arrancaram todos os dentes  e espancaram muito a cabeça dele. Ele foi vítima de homofobia. Nós acreditamos nisso. Não tem prova, mas a gente acredita que foi isso", disse Tainá Uzor, irmã do jovem. Hoje, a família acredita que as lesões que o corpo apresentava foram causadas pela queda.
Os parentes da vítima ficaram dois dias procurando o rapaz em hospitais e no Instituto Médico-Legal (IML). Por estar sem documentos, o corpo ficou até terça-feira (14) no IML como indigente.
Manifestação
Manifestantes ligados ao movimento LGBT protestavam na noite desta sexta-feira (17), no Centro de São Paulo, pedindo o esclarecimento da morte do adolescente.
Amigos e militantes se reuniram no Largo do Arouche. Além de homenagear Kaique, pediam o fim da homofobia. Thiago dos Santos Duarte, 21 anos, afirma que esteve com o jovem horas antes de o adolescente ser encontrado morto. Ambos estavam na "Festa dos Pesados", promovida pelo espaço PZA, casa noturna no Centro de São Paulo, na noite do dia 11.
Thiago revela que se despediu de Kaique por volta de 6h30 de sábado e viu o garoto ir embora sozinho. "Ele estava feliz, alegre, super sorridente", recorda. Thiago afirma que Kaique havia consumido bebida alcoólica durante a balada, mas não estava embriagado quando saiu. "Ele tinha bebido, mas estava consciente." O rapaz rechaça a hipótese de suicídio levantada pela Polícia Civil. "Ele não tinha motivos para isso."

Protesto no Largo do Arouche, em São Paulo, após morte de jovem gay (Foto: Cris Faga/Fox Press Photo/Estadão Conteúdo)

Reprodução Cidade News Itaú

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!