O delegado Reginaldo Guilherme da Silva, titular da 22ª DP (Penha), informou na tarde desta terça-feira (16) que uma lata de combustível foi encontrada dentro do imóvel onde funcionava a redação do jornal Voz da Comunidade e a pousada do AfroReggae, na Favela da Grota, no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio. De acordo com o delegado, um perito encontrou a lata, mas ainda não sabe que tipo de combustível continha o recipiente.
Um homem, identificado como Wagner Moraes da Silva, de 20 anos, que sofreu queimaduras durante o incêndio na redação do jornal pode ter cometido o crime. Ele foi encontrado dentro da redação pelos policiais. O delegado afirmou que Wagner foi ouvido informalmente, mas ainda precisa colher outros depoimentos para tirar algumas conclusões.
“Ele disse que estava lá tentando apagar o princípio de incêndio. Mas como pode uma pessoa apagar um princípio de incêndio entrando pela janela? Então, realmente ele é, a princípio suspeito. Nós vamos investigar todas hipóteses, mas a mais provável é que ele tenha tentado simular um furto e provocado um incêndio criminoso naquela localidade", explicou Reginaldo, que acreccentou ainda que Wagner estava dentro do prédio:
"Ele tentou fugir, mas parece que houve uma explosão e ele se feriu, não conseguindo ir para muito longe do local", completou.
Wagner foi levado para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha. De acordo com a Secretaria estadual de Saúde, o paciente deu entrada na unidade com cerca de 30% do corpo queimado. Ele foi atendido, avaliado e segue em observação em unidade de tratamento intensivo. O estado de saúde do dele é considerado estável.
"Tudo leva a crer que foi um incêndio criminoso. Uma testemunha contou que o rapaz, que não é conhecido e nem é morador, teria entrado pelo basculante e tentado roubar objetos. Ele também teria tentado incendiar o prédio. Estamos apurando todas as vertentes", disse o delegado.
O coordenador do AfroReggae, José Junior, acredita que o incêndio foi criminoso e que o pastor Marcos Pereira, preso suspeito de estuprar fiéis, teria envolvimento com o ocorrido.
"Queriam de alguma maneira atacar o AfroReggae e acabaram atingindo também a redação do Voz da Comunidade. Desde que nós fizemos denúncias e que gerou a prisão do pastor Marcos, nós temos muitos problemas. E tudo isso é orquestrado por ele", declarou o José Junior.
O advogado do pastor Marcos Pereira, Marcelo Patrício, negou a acusação feita pelo coordenador do AfroReggae, José Júnior. Ele afirmou que a declaração é uma forma de tentar sensibilizar o judiciário, já que o pastor está em vias de ser libertado, após o processo de coação a que Marcos respondia ter sido anulado.
O advogado afirmou também que o pastor está isolado e só recebe visitas da família e dos dois advogados. “Mesmo se ele quisesse, não poderia dar essa ordem”, disse.
Imagens no Facebook
Em sua conta no Facebook, o estudante Rene Silva, dono do Voz da Comunidade, postou uma foto da redação destruída pelas chamas. "Nem tão bom dia assim, redação do voz da comunidade amanhece assim nesta terça-feira", escreveu o jovem.
O jovem de 19 anos disse que recebeu um telefonema de um amigo, vizinho da pousada, às 4h30, dizendo que estava vendo muitas fumaça saindo da redação. "Quando cheguei, os bombeiros já tinham controlado o fogo. O estúdio, equipamentos de rádio, de filmagem e ar condicionado foram destruídos. Mas temos os computadores, tablet e celulares, que por sorte levamos para casa. A Voz da Comunidade não vai se calar. É muito triste, mas vamos continuar dando voz aos moradores" , disse Rene.
A redação do jornal comunitário e a pousada, que seria inaugurada no dia 5 de agosto, ficam no mesmo prédio. O coordenador da ONG, Jose Junior, afirmou que vai prestar depoimento à polícia, que vai investigar o caso.
"Tínhamos acabado de reformar todo o espaço, estava tudo novo, o ar-condicionado, tudo novo", falou Junior, que postou em sua página no Twitter, uma imagem dos bombeiros em frente ao estabelecimento.
Mensagens de testemunha
José Junior disse que recebeu mensagens de testemunhas, por volta de 1h desta terça-feira (16), alertando que um grupo havia invadido o local. No entanto, Junior explica que só viu a mensagem no início da manhã, quando também tomou conhecimento do incêndio.
"Eu estava dormindo, e não vi essas mensagens que recebi por volta de 1h, só vi por volta de 5h, quando fui acordado com a notícia do incêndio", comentou.
O coordenador do AfroReggae pede também que a polícia investigue a pessoa ferida no incêndio. "Recebi algumas informações que diziam que esse cara estava no grupo que teria colocado fogo, mas outras também disseram que ele tentava apagar o incêndio", falou Junior, acrescentando que o homem foi encaminhado ao hospital.
Voz da Comunidade
Em novembro de 2010, durante a ocupação policial no Conjunto de Favelas do Alemão, o adolescente Rene Silva ganhou notoriedade ao relatar em tempo real, através das redes sociais, os acontecimentos do conflito. Quando ainda tinha 11 anos, o menino fundou o jornal Voz da Comunidade, que depois se tornou internacionalmente conhecido.
"Meu objetivo sempre foi prestar serviço à comunidade e ajudar de alguma forma. Usei a ferramenta do twitter para isso e vou continuar twittando porque precisamos de mais investimentos na comunidade, como educação, saúde, saneamento básico e segurança", disse o jovem, na época.
No fim de 2010, Rene ganhou a redação do Voz da Comunidade após participar do programa Caldeirão do Huck. O jovem também participou como pesquisador da novela "Salve Jorge" e do programa "Esquenta", da TV Globo.
Reprodução Cidade News Itaú