Um raro fóssil de mosquito, com 46 milhões de anos, e a barriga cheia de sangue seco foi encontrado no leito de um rio no estado americano de Montana, revelaram cientistas esta segunda-feira (14).
Trata-se de "um fóssil extremamente raro, o único do tipo no mundo", disse Dale Greenwalt, principal autor do estudo publicado no periódico National Academy of Sciences.
Instrumentos inovadores detectaram vestígios inconfundíveis de ferro em seu abdômen cheio de sangue, mas de qual criatura provinha o sangue é um mistério, uma vez que o DNA não pode ser extraído de um fóssil tão antigo.
No filme "Jurassic Park - Parque dos Dinossauros", de 1993, cientistas extraem DNA de dinossauro do abdômen de um mosquito preso em âmbar, uma resina vegetal.
Não só a cena é ficcional, já que ninguém conseguiu extrair DNA de um fóssil tão antigo, como Greenwalt disse que o mosquito exibido no filme era um macho e mosquitos machos não se alimentam de sangue.
Feitas estas ressalvas, o cientista afirmou: "como muito do que se vê na ficção científica, (o filme) meio que previu algo com o que nós poderemos nos deparar no futuro".
Para Greenwalt, o sangue encontrado no fóssil pode ter sido de uma ave, já que o mosquito ancestral lembra um inseto moderno do gênero 'Culicidae', que gosta de se alimentar de nossos amigos emplumados.
"Mas isto seria pura especulação", disse Greenwalt, bioquímico que trabalha como voluntário no Museu Smithsonian de História Natural em Washington.
Embora seja muito mais 'jovem' do que o mais antigo fóssil de mosquito conhecido (honra que recai sobre um mosquito de 95 milhões de anos preso em âmbar e encontrado em Mianmar), para o entomologista Lynn Kimsey, da Universidade da Califórnia, esta é "uma descoberta muito excitante".
"Ter uma fêmea de mosquito de verdade cheia de sangue associada com machos na mesma formação fóssil é altamente improvável", disse Kimsey, que não participou da pesquisa.
"Aqui, os autores conseguiram usar espectrômetro de massa para elucidar o conteúdo abdominal e, consequentemente, a dieta de sangue em um fóssil com cerca de 40 milhões de anos", acrescentou, descrevendo a pesquisa como "impressionante".
Greenwalt disse ter ficado fascinado com insetos fossilizados alguns anos atrás.
Ele se informou sobre o assunto com o estudante de mestrado Kurt Constenius, que descreveu suas descobertas de insetos fossilizados ao longo de um leito de rio remoto de Montana, em um obscura publicação geológica mais de duas décadas atrás.
Greenwalt e Constenius discutiram a área onde os fósseis foram encontrados, que fica perto do Rio Flathead, ao longo da fronteira oeste do Parque Nacional Glacier.
Nos últimos anos, Greenwalt foi para lá todo verão para coletar peças de xisto de uma área que está erodindo lentamente, expondo sedimentos de um antigo lago.
"A rocha está em camadas muito finas, de um milímetro ou dois", explicou Greenwalt.
"Com uma lâmina, eu consigo dividir esta rocha ainda mais e expor estas superfícies virgens e é onde eu encontro os fósseis", acrescentou.
O fóssil descrito no periódico PNAS não resultou das expedições de Greenwalt, mas de uma coleção de insetos fossilizados que estavam esquecidos no porão de Constenius desde 1980, e que ele e sua família tinham doado para o museu Smithsonian.
"Assim que o vi, soube que era diferente", disse Greenwalt à AFP.
O mosquito em si mede apenas 0,2 polegada (0,51 cm). De alguma forma, a frágil criatura comeu sua última refeição, preenchendo seu abdômen até quase explodir como um balão.
Então, talvez quando o mosquito sobrevoava um lago repleto de algas, ele tenha ficado preso neste muco, sido envolvido por micróbios que impediram sua degradação e, finalmente, acabou afundando, ficando preso no sedimento no fundo do lago.
Três dúzias de fósseis de mosquito foram coletadas no sítio de fósseis do noroeste de Montana, mas nenhum outro apresentou sinais de conter sangue.
Especialistas usaram uma técnica denominada espectrometria de massa não destrutiva para identificar a fonte do ferro em seu abdômen como heme, molécula ferruginosa que permite à hemoglobina do sangue transportar oxigênio.
Contudo, o método só pode ser usado em superfícies planas e não seria útil para analisar mosquitos preservados em âmbar, afirmou.
Reprodução Cidade News Itaú
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