Dois suspeitos de participação em um esquema de tráfico de mulheres foram detidos nesta quinta-feira (17), em Inhangapi, nordeste do Pará, e trazidos para Belém. Segundo as investigações, eles teriam atuado como aliciadores de seis mulheres que embarcariam para o interior de São Paulo, onde seriam levadas para boates de prostituição em Americana e Campinas.
Na madrugada desta quinta, o paulista Roger Rocha, de 44 anos, foi preso em flagrante momentos antes de embarcar para Sao Paulo com as paraenses, no Aeroporto de Belém. De acordo com a polícia, Roger há anos aliciava mulheres do Pará e as levava para a prostituição no sudeste do país. Ele negou que as jovens iriam atuar como prostitutas: segundo ele, as vítimas trabalhariam como garçonetes e balconistas.
Denúncia
O cabeleireiro José Guedes, de 21 anos, e o travesti Natasha, de 28 anos, foram presos em Inhangapi, após as vítimas terem citado a participação de Guedes no crime. Segundo as investigações, ele teria cedido a casa para Roger trazer as meninas de Castanhal e Inhangapi. “Ele teve participação direta em todo o processo de cooptação, de convencimento das vítimas, que dormiram na casa dele até o dia do embarque”, diz a delegada Sandra Veiga, da Delegacia da Mulher, que apura o caso.
As mulheres e Roger teriam chegado à casa de Guedes na segunda-feira (14), e saído do local na noite de quarta (16), para ir até Belém, de onde embarcariam para São Paulo. Após o flagrante contra Roger Reis, a Polícia Civil de Castanhal foi acionada para fazer a prisão de Guedes, que foi detido em casa, junto com o travesti Natasha, que negou participação no crime, mas confessou que estava na casa durante os dias em que o grupo de mulheres e Roger estavam hospedados.
Já o cabeleireiro alegou que desconfiou de que as mulheres estariam indo para São Paulo para se prostituir, mas negou envolvimento no esquema. “Uma das meninas era minha amiga de infância, fomos criados juntos, então ela apareceu em casa com esse rapaz de São Paulo, que se apresentou como Toni, e depois as outras meninas apareceram procurando por eles dois. Eles saíram, foram jantar, se divertir, e depois voltaram para cá”, relata Guedes.
Segundo a delegada Sandra Veiga, as vítimas iriam embarcar apenas com a roupa do corpo e sem nenhuma documentação, sinais que evidenciariam o tráfico humano. “Elas tinham o que vestiam e no máximo uma ou duas peças na mochila. Estavam sem dinheiro e sem os documentos, que estavam em posse do aliciador. Eram todas de famílias muito pobres, em vulnerabilidade, e essas famílias nem sabiam que elas iriam viajar”, diz.
O suspeito de traficar as mulheres, Roger Reis, atuaria no crime há anos no Pará. "Ele trabalharia com terras em Marapanim, e por isso viria muito ao Pará. Sabemos que ao menos duas das seis vítimas já haviam sido aliciadas por ele há 3 anos. Então a suspeita é que ele costumava levar essas mulheres do Pará para a prostiuição em São Paulo. Não sabemos exatamente se elas iriam todas para um mesmo local, ou se ele fornecia toda uma região com essas mulheres traficadas", diz Sandra.
Exploração é rotina
Casos de tráfico de mulheres, de acordo com Sandra, são recorrentes no Pará. “Não só para São Paulo, como para outros estados. É uma situação recorrente, o que não é recorrente é a denúncia, porque se tem a impressão de que a mulher vai viajar pra se prostituir porque quer", disse Sandra Veiga.
Porém, segundo a delegada, o problema é que a vítima não tem consciência do risco desta atividade. "Mas elas não têm noção do risco em que estão sendo colocadas. Elas são seduzidas a irem, são feitas promessas de uma vida de dinheiro e conforto. Mas quando chegam lá, longe da família e sem dinheiro, elas são escravizadas. Essas mulheres não são as criminosas, elas são as vítimas. Os criminosos são todos aqueles envolvidos no transporte dessas mulheres a outro estado. Quem a convence, quem faz promessas, quem paga pela passagem, quem fornece a casa onde elas ficam. Todos eles são os exploradores”, destaca.
O próximo passo das investigações se desdobra em parceria com a Polícia Civil de São Paulo. “Sabemos que lá já havia gente esperando pelas mulheres, e elas seriam levadas para uma casa. Precisamos chegar até eles, que são a ponta do esquema . Sabemos que mulheres desaparecidas em Bujaru foram levadas para a prostituição em São Paulo”, conta.
As vítimas foram ouvidas e liberadas para voltarem para as suas cidades. Elas ainda prestarão depoimento e serão atendidas por profissionais da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh). “Precisamos ouvi-la para saber como esse aliciamento funciona em cada um dos municípios, até conseguirmos chegar a mais envolvidos no esquema”, diz Sandra.
Entenda o caso
As prisões aconteceram após denúncia anônima encaminhada à Divisão Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM). Segundo a denúncia,um grupo de mulheres seria traficado para São Paulo a partir de Belém na quarta-feira (16). Com esta informação, uma equipe da polícia começou a fazer levantamento no aeroporto para checar o horário dos voos do dia.
Uma ação conjunta da Delegacia do Aeroporto e da Companhia de Policia Turística, que tem base no Aeroporto Val-de-Cans, monitoraram todos os voos e grupos que embarcavam. As companhias aéreas também foram acionadas sobre o embarque.
Durante o dia, não houve embarque. Já a noite chegou informação de que um voo sairia no início da madrugada desta quinta (17), 1h, com destino a São Paulo. Então, a Delegacia da Mulher enviou equipes para ficar de vigilância, até que, por volta de meia noite, o grupo suspeito chegou ao aeroporto: um homem, com as características físicas apontadas na denúncia e um grupo de seis mulheres.
Ao pedir para verificar a documentação das moças, elas informaram que a identidade estava em posse do homem, que era o responsável por comprar os bilhetes e documento das mulheres. Ele foi autuado em flagrante por tráfico interno de pessoas e deve ser encaminhado para a Central de Triagem da Susipe em Americano, na Região Metropolitana de Belém, ainda nesta quinta.
A Polícia Civil acredita que os suspeitos presos no Pará fazem parte de uma rede de exploração sexual, e informou que vai continuar investigando, em parceria com a polícia de São Paulo, para localizar outras pessoas associadas ao crime.
Reprodução Cidade News Itaú
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