O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, apontado como líder do Comando Vermelho, afirmou em interrogatório no Tribunal do Júri do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Estado do Rio), onde é julgado nesta terça-feira (12) por dois homicídios e uma tentativa de homicídio cometidos há quase 11 anos, que não fazia parte da maior facção do tráfico de drogas no Rio de Janeiro antes de ser preso. "Basta ser preso que você tem que optar por uma facção. (...) Minha facção sou eu", afirmou o réu.
Os dois homicídios pelos quais Beira-Mar é acusado teriam sido ordenados de dentro do presídio Bangu 1, no complexo penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio, no dia 27 de julho de 2002. As vítimas eram integrantes da quadrilha do líder da facção Comando Vermelho, e teriam morrido por praticarem crimes sem a autorização do chefe, segundo denúncia do Ministério Público. Na escuta telefônica questionada pela defesa do réu, Beira-Mar teria planejado a vingança e ainda ordenado que outros dois traficantes do grupo fossem poupados.
Beira-Mar admitiu ter sido traficante de drogas e se intitulou como responsável pelas bocas de fumo da favela Beira-Mar, em Duque de Caxias. "Nunca fui santo. Já fiz algumas coisas", afirmou. Segundo ele, os dois assassinatos ocorreram durante uma teleconferência com grupos rivais de traficantes, da qual ele participou por viva-voz. De acordo com o traficante, era comum utilizar celulares clandestinos em Bangu à época: "Tínhamos vários telefones à disposição".
A reunião era para tentar resolver um conflito que já havia matado dez pessoas inocentes na favela, de acordo com o réu. Ele contou que, durante a conversa, dois dos bandidos da gangue rival iniciaram a troca de tiros que culminou na morte de dois deles. "Eu estava quietão na minha", disse, ressaltando que foi procurado por moradores da comunidade para resolver o conflito.
Antes de começar o interrogatório, ele jogou um beijo para o neto, que está no tribunal. Seis testemunhas foram arroladas para o julgamento --duas de defesa e quatro de acusação--, mas elas "não responderam positivamente às intimações", segundo o Tribunal de Justiça. Dessas, a mais importante seria o homem que sobreviveu à tentativa de homicídio, mas ele não foi localizado pelo TJ. Com isso, o a sessão foi direto para o interrogatório do réu.
Outros dois traficantes foram cotados pela defesa para serem testemunhas, mas como ambos estão em presídios de segurança máxima, os advogados desistiram pela dificuldade logística. Um deles é Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, apontado pela polícia como um dos principais líderes da facção criminosa Comando Vermelho.
O advogado do réu, Wellington Corrêa da Costa Júnior, pediu a suspensão do julgamento, alegando que a escuta telefônica que seria a principal prova do processo não está anexada aos autos, mas o juiz Murilo Kieling determinou que a sessão continuasse.
Testemunhas com medo
Originalmente, o julgamento de Fernandinho Beira-Mar deveria ocorrer na 4ª Vara Criminal de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, mas o medo das pessoas que compõem o corpo de jurados fez com que a Justiça transferisse a audiência para o Fórum da capital.
De acordo com o texto da decisão do desembargador da 3ª Câmara Criminal, Valmir de Oliveira Silva, a pedido do magistrado da comarca de Duque de Caxias, havia "provas fundadas e sérias da influência do acusado no município", o que justificativa o temor dos componentes do júri.
"O temor que toma conta dos jurados é compreensível. Não resta dúvida de que o requerido é capaz de influenciar decisivamente no veredicto do Tribunal Popular Local impendido que o julgamento seja feito com a imparcialidade necessária e adequada", afirmou o magistrado.
Viagem
Nesta terça-feira (12), Beira-Mar chegou ao Rio em um avião da Polícia Federal, e teve escolta de agentes do Depen (Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça). Ele chegou ao tribunal de helicóptero, às 11h.
Em setembro de 2012, Luiz Fernando da Costa, que passou por cinco Estados nos últimos anos, foi transferido para a penitenciária federal de segurança máxima de Catanduvas, na região oeste do Paraná --onde já tinha ficado outras duas vezes.
Reprodução Cidade News Itaú
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