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terça-feira, março 26, 2013

Ex-coordenador assume ao MP que sabia dos dedos de silicone de Ferraz


Médico Jorge Cury chega a depoimento no Ministério Público de Ferraz (Foto: Carolina Paes/G1)Médico Jorge Cury chega ao Ministério Público
de Ferraz (Foto: Carolina Paes/G1)
Em depoimento ao Ministério Público, na manhã desta terça-feira (26), o ex-coordenador do Samu de Ferraz de Vasconcelos disse que sabia da existência dos dedos de silicone para fraudar o controle de ponto de funcionários, mas negou que fosse o responsável pela confecção das próteses.
O médico Jorge Cury é suspeito de chefiar a fraude no controle de presença de médicos com o uso de dedos de silicone no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No dia 10 de março, a médica Thauane Nunes Ferreira foi flagrada fraudando o sistema.

As informações passadas por Cury durante o depoimento, que durou cerca de três horas, foram divulgadas pelo Ministério Público no fim da tarde desta sexta-feira. O médico ainda informou aos promotores Daniel Magalhães de Albuquerque Silva e Sérgio Ricardo Gomes de Moura que nunca usou os dedos de silicone e que não houve prejuízos financeiros para a prefeitura porque os plantões teriam sido cumpridos e a prestação do serviço não teria sido afetada.
De acordo com os promotores, Cury também colocou à disposição do Ministério Público os sigilos telefônicos, bancários e fiscal.
O médico não falou com a imprensa nem antes e nem depois do depoimento. O G1 também tentou contato por telefone durante a tarde, mas o celular de Cury apenas chamava.

Na manhã desta segunda (11) ambulâncias deixavam o Samu de Ferraz. (Foto: Carolina Paes/G1)Fraude de controle de ponto acontecia no Samu de
Ferraz. (Foto: Carolina Paes/G1)
Na semana em que a fraude foi descoberta, o secretário municipal de Segurança, Carlos César Alves, disse que os médicos do Samu tinham que repassar o valor ganho pelos plantões não trabalhados a Jorge Cury.  A vantagem dos profissionais seria a flexibilização da agenda para poder trabalhar em outros locais. “Cada médico que participava do esquema pagava R$ 1,2 mil por turno de 24 horas aos fins de semana para o Jorge Cury”. Alves ainda afirmou que o pagamento era feito por transferência bancária.
Desde que o caso começou a ser investigado, o médico Jorge Cury se manifestou apenas no dia em que um vídeo foi gravado mostrando a médica Thauane usando dedos de silicone. Ele negou envolvimento nas irregularidades. “Isso é um absurdo! Sou funcionário da prefeitura há 25 anos. Eu nunca soube disso. Passo no Samu todo domingo e nunca faltava funcionário. Hoje que não fui aconteceu isso.”
O Ministério Público ainda informou nesta terça que Aline Cury, filha do ex-coordenador e uma das médicas afastadas do Samu, deve ser ouvida na segunda-feira (1º), às 9h30.

Dedos de silicone seriam usados por médicos e enfermeiro para fraudar ponto eletrônico. (Foto: Gladys Peixoto/G1)Dedos de silicone eram usados para fraudar controle
de presença. (Foto: Gladys Peixoto/G1)
Investigação
No dia 15 de março, Cury foi intimado a depor no Ministério Público pela primeira vez, quando Thaune também foi ouvida. O médico alegou estar internado e não compareceu. Neste mesmo dia, a médica confirmou ao MP o que já havia dito à polícia. Contou que era forçada a participar do esquema com os dedos de silicone.
Nesta terça-feira (26), a médica prestou depoimento à Câmara Municipal, que abriu uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar o caso.
Segundo o presidente da CEI, Roberto Antunes de Souza (PMDB), Thauane disse em seu depoimento que o esquema funcionava desde fevereiro de 2012 e que seis médicos participavam da fraude. Ele disse ainda que a médica afirmou que foi Jorge Cury quem providenciou os dedos de silicone e que os moldes foram feitos dentro do Samu. A médica justificou que participava do esquema para não perder o emprego, disse o vereador.
Além do Ministério Público e da Câmara de Ferraz de Vasconcelos, a Polícia Civil também apura o caso. O delegado de Ferraz de Vasconcelos Wagner Lombisani começou a ouvir alguns funcionários do Samu. O Ministério da Saúde também faz auditoria no serviço.
A Prefeitura de Mogi das Cruzes informou que o médico Jorge Cury era concursado para trabalhar na rede municipal, mas foi exonerado. A demissão ocorreu em julho de 2012 depois que a administração municipal descobriu que o profissional acumulava cargos, já que ele trabalhava em outras três cidades.
Afastados
Na quarta-feira (20), o prefeito de Ferraz de Vasconcelos determinou o afastamento de mais dois médicos do Samu: Caio José Losito Mantovani e Ronnie Muniz de Oliveira. A identidade deles foi divulgada na terça-feira (19) após perícia feita no cartão de ponto e nos dedos de silicone, localizados com a médica Thauane Nunes Ferreira no dia 10 de março.
A determinação partiu do prefeito Acir Filló, por meio de uma portaria. Segundo ele, os dois serão investigados por meio de uma sindicância aberta pela adminstração municipal. Caso a fraude seja comprovada, os médicos envolvidos poderão ser exonerados.
Além dos médicos que foram afastados,  prefeitura já tinha impedido que outros cinco socorristas trabalhassem: a médica Thauane Ferreira dos Santos, que foi flagrada com usando os dedos de silicone para marcar a presença dos colegas, o coordenador do Samu, Jorge Cury e os médicos Rodrigo Gil de Castro Jorge, Felipe de Moraes e Aline Cury.
Outro lado
A reportagem do G1 tentou entrar em contato com os médicos Rodrigo Gil de Castro Jorge, Felipe de Moraes, Aline Cury e Thauane Nunes Ferreira, mas não conseguiu. Caio José Losito Mantovani e Ronnie Munis de Oliveira também não foram localizados.
Em nota à produção do Fantástico, enviada no domingo (17), o advogado de Felipe de Moraes disse que o médico "não participou de nenhum esquema de fraude e que nunca recebeu dinheiro sem que tivesse trabalhado nos plantões."
Entenda o caso
Em 10 de março, a Guarda Municipal gravou imagens do momento em que a médica Thauane fraudava o sistema. Com a médica, foram apreendidos seis dedos de silicone e comprovantes impressos pelo equipamento que controla o horário dos funcionários. Ela chegou a ser detida por falsificação de documento público, mas foi solta porque a Justiça concedeu um habeas corpus. Em depoimento ao Ministério Público, Thauane contou como era o esquema e apontou que ele seria chefiado pelo então coordenador do Samu, Jorge Cury.

Reprodução Cidade News Itaú

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