Os fiéis da Igreja Batista Regular de Caicó ficaram chocados ontem, ao saber que o homem que deveria dar exemplo usou parte do dinheiro arrecadado na igreja para financiar o assassinato do jornalista Francisco Gomes de Medeiros, "F. Gomes", ocorrido na noite de 18 de outubro de 2010, na frente de sua casa, em Caicó. Indiciado como um dos mandantes do crime, o pastor Gilson Neudo Amaral deu R$ 3 mil no "consórcio" organizado para pagar a execução do jornalista. Outros R$ 7 mil foram dados pelo tenente-coronel da Polícia Militar Marcos Antônio de Jesus Moreira, também indiciado como mandante, junto com o empresário e sócio do pastor, Lailson Lopes, "Gordo da Rodoviária". João Francisco dos Santos, "Dão", foi indiciado pela execução do crime, enquanto o advogado dele, Rivaldo Dantas de Farias, é apontado pela Polícia como autor de todo o plano do assassinato.
O fim das investigações, e alguns detalhes que não eram conhecidos ainda, foram anunciados ontem em entrevista coletiva à imprensa, em Caicó, com a delegada do Departamento Especializado em Investigação e Combate ao Crime Organizado (DEICOR), Sheila Freitas, o delegado geral de Polícia Civil, Fábio Rogério, e o promotor criminal de Caicó, Geraldo Rufino.
Sheila Freitas confirmou que F. Gomes foi assassinado por causa de sua atuação como jornalista. Todos os financiadores do assassinato odiavam o jornalista devido a reportagens dele na Rádio Caicó e no seu blog pessoal. Denúncias feitas por F. Gomes resultaram na exoneração do então major Moreira da direção do presídio de Caicó, assim como nas investigações contra o pastor e Gordo da Rodoviária, por suspeita de envolvimento com o tráfico de drogas.
"Todos, com exceção do soldado Evandro, tinham motivos", disse a delegada. O soldado Evandro Medeiros é acusado pela Polícia de "sumir" com a arma usada na morte do jornalista. "Temos todos os elementos para provar a culpa dos envolvidos, menos a arma, que foi passando de mão em mão. Mas acreditamos que num momento ela vai aparecer", disse Sheila Freitas.
A arma foi adquirida pelo advogado Rivaldo Dantas, que a passou ao seu motorista "Dão", responsável pela execução do jornalista. Ele foi apontado pela delegada como o elo entre todos os envolvidos e autor de todo o plano. "Ele (Rivaldo) também tinha motivos para ter raiva de F. Gomes. Ele foi o articulador de tudo", disse Sheila Freitas.
DENÚNCIA
Como o Ministério Público Estadual já havia denunciado "Gordo da Rodoviária" como mandante do crime e "Dão" como executor, o promotor Geraldo Rufino deve fazer um aditamento da denúncia, para incluir os outros envolvidos no crime no processo. Todos estão presos.
Vazamento prejudicou investigações
Logo na abertura da entrevista coletiva, a delegada do caso disse que, por muito pouco, o vazamento de informações sobre o caso não prejudicou o andamento do trabalho. O caso estava dado como encerrado, com a prisão de "Dão" e "Gordo da Rodoviária", mas uma carta anônima denunciou a existência de outros envolvidos no caso.
"Algumas notas que saíram na imprensa quase acabaram com todo o trabalho, mas, graças a Deus, conseguimos agir a tempo e identificar todos os responsáveis", disse. Uma reportagem publicada pelo Novo Jornal, em março, detalhava praticamente tudo que foi anunciado ontem de manhã pela equipe de investigadores.
Funcionários de rádio seriam envenenados
Uma informação dada pela equipe de investigadores surpreendeu os jornalistas presentes à coletiva de imprensa e os funcionários da Rádio Caicó, na qual F. Gomes trabalhava. Antes de decidir pela execução do jornalista, "Gordo da Rodoviária" chegou a elaborar outro plano: queria matar F. Gomes e outros funcionários da rádio envenenados.
O plano foi abortado porque uma das funcionárias da emissora era a mulher do acusado, que também poderia ser vítima do plano.
"Ele iria comprar um bolo, colocar veneno, e depois entregar na recepção da rádio, dizendo se tratar de uma cortesia de uma panificadora da cidade", explicou a delegada.
Suspeito se sentiu ameaçado
Considerado peça chave na investigação, "Gordo da Rodoviária" nega até hoje participação no caso, mas entregou todos os outros envolvidos assim que se sentiu ameaçado. Preso, ele passou a achar que poderia ser vítima de seus comparsas e decidiu abrir o jogo com a Polícia.
"Todo tempo ele deu as informações, mas sempre negando participação. Investigamos e confirmamos o que ele dizia, com uma diferença, que é o envolvimento dele no caso", comentou Sheila Medeiros.
Um chip telefônico, recuperado pela Polícia, também foi fundamental. Ele foi adquirido pelo advogado e entregue a "Dão", para que a comunicação entre eles fosse feita por esse celular. Depois do crime, eles tentaram destruir o chip, mas a Polícia o recuperou e conseguiu áudios da conversa entre a quadrilha.
Fonte: Defato
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