Páginas

domingo, março 18, 2012

Lucro rápido com a venda de drogas tem atraído cada vez mais traficantes

favela_de_mossoro
A disseminação assustadora das drogas, em especial o crack, deixa a sociedade estática, sem saber a quem apelar. Os pais e responsáveis pelas famílias temem pelos filhos, pela violência que caminha no rastro da droga, lamentando o destino dos milhares de viciados que perambulam pelas ruas e bairros das cidades brasileiras, tornando a população impotente diante do quadro que cada dia mais se torna comum de se ver.
Especialistas garantem que prender viciados ou acabar com o crack por meio da repressão é ingenuidade. Cadeias lotadas, polícia corrompida, violência urbana, judiciário sobrecarregado, traficantes poderosos, mortes de adolescentes e droga barata são realidades de centenas de cidades que não têm uma política pública capaz de cortar o "mal pela raiz".
"A venda de crack tem que ser atacada antes que o produto chegue à boca de fumo de um bairro da periferia ou das favelas, onde milhares de viciados morrem todo o dia na luta constante para alimentar um desejo de consumir crack cada vez mais frequente", disse o delegado Denys Carvalho da Ponte, titular da Delegacia Especializada em Narcóticos (Denarc) de Mossoró.
De acordo com o delegado, a venda de crack tem se propagado pelos mais diferentes locais e atingido milhares de famílias, que não sabem como reagir ou pelo menos o que fazer para amenizar o problema.
Porém, um dos fatores que mais atraem adeptos à comercialização das drogas é o retorno rápido que a vendagem produz na hora de fracionar o produto e vender para os viciados nas bocas de fumo.
"Infelizmente a droga tem um retorno rápido, porém a legislação brasileira tem se adequado à propagação das drogas e tem criado mecanismos que prolongam o traficante por muito tempo na cadeia", destacou o delegado.
Dados da Polícia Federal enviados à Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que há um ganho assustador com as drogas. Para se ter uma ideia, o relatório diz, por exemplo, que um grama de cocaína no fornecedor vale R$ 10,00 no atacado e nas ruas custa R$ 50,00, na boca de fumo, gerando um lucro de 500%. Já o lucro do crack, no entanto é menor, o traficante graúdo repassa o grama por R$ 8,00 e as bocas de fumo revende por R$ 30,00, quase 300% de lucro. O que faz toda a diferença do crack é o tamanho da clientela em potencial. As classes C, D e E correspondem a 84% da população do país. 
Alerta
Vender drogas tem atraído muitos adeptos em Mossoró. As constantes prisões de acusados de tráfico comandando boca de fumo tem sido noticiário quase que diário nos meios de comunicação da cidade, entretanto também cresce o número de autuações por parte da polícia repressora e investigativa.
Vender droga pode ser um caminho perigoso, alerta Denys Carvalho: "Olha, um homicídio simples pode causar uma prisão de até 20 anos e o tráfico de drogas pode prolongar o elemento mais tempo de que isso na prisão. O artigo 33 da Lei 11.343/2006 prevê que o sujeito preso por tráfico de drogas pode cumprir uma pena de cinco a 15 anos, porém, se o flagrante vier junto com porte de arma e associação para o tráfico, como dispõe o artigo 40, a pena é aumentada de um sexto a dois terços", concluiu o delegado.

"O tráfico é um caminho sem volta e envolve toda a família", diz delegado

O delegado titular da Denarc, Denys Carvalho da Ponte, explica ainda que o tráfico de drogas tem atraído muitos "soldados do crime", pela facilidade de lucros rápidos, entretanto tem se caracterizado um caminho sem volta e envolvido toda a família.
"Quando um traficante cai (é preso) a companheira dele vai continuar vendendo drogas e, por sua vez, quando ela é detida também, outro membro da família assume o gerenciamento da boca de fumo e assim por diante. É um caminho sem volta e compromete toda a família", contou.
Para comprovar a veracidade das afirmações do delegado, a reportagem do O Mossoroense procurou a direção do Centro de Detenção Provisória (CDP) feminino, onde mais de 70 mulheres estão detidas.
De acordo com uma agente penitenciária, 96% das detentas são acusadas de tráfico de drogas, devido terem sido flagradas dando continuidade ao comércio de drogas iniciado pelo companheiro, que também está preso ou morto.
"É muito comum recebermos mulheres acusadas de tráfico, aqui no CDP. Elas vêm dos mais variados bairros e municípios, onde foram flagradas traficando em substituição aos companheiros e maridos", disse a agente.
Ainda de acordo com Denys Carvalho, o mês de março começou a todo vapor para a Denarc. Nove prisões e quatro armas foram apreendidas pelos agentes, sendo que dos detidos, dois foram por força de mandado judicial e sete flagrantes caracterizando um verdadeiro combate à criminalidade.
"A Denarc, com a chegada de novos policiais e uma estruturação bem melhor que dispomos atualmente, motivou os policiais que estão realizando um trabalho impecável", concluiu.

Traficante diz que lucro das drogas é uma armadilha para atrair adeptos

Um homem de 43 anos, que durante muito tempo chefiou uma boca de fumo no bairro Belo Horizonte, em Mossoró, explicou que o lucro fácil com a venda de drogas é uma armadilha que atrai as pessoas, pelo menos foi o que aconteceu com ele, que teve de mudar de cidade porque incomodava outros traficantes mais fortes.
Ele relata que tudo começou em um dia quando na sua casa não tinha nada para comer e de valor havia apenas um televisor de 14 polegadas. "Foi então que decidi vender o aparelho de televisão no Vuco-Vuco, por R$ 150,00. Então um amigo me deu a ideia de investir em pedras de crack, o que realmente fiz", explicou.
Na ocasião, ele começou a adquirir bens móveis e imóveis e passou a despertar a cobiça de outros traficantes. E na disputa por território teve de se mudar para outro município, depois que tentaram matá-lo.
Daí em diante, o homem conta que sua vida e de sua família se tornou um inferno. Perseguições, tentativas de homicídio, ameaças e até prisão sofreu por conta das drogas. "O que ganhei com o tráfico ficou na mão dos advogados. Hoje tento levar uma vida normal, vivo escondido em uma cidade cearense, porém cada vez que retorno a Mossoró tenho medo de morrer", desabafou.

Fonte: O Mossoroense

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!