As delegacias distritais da Polícia Civil na capital do Estado enfrentam graves problemas de estrutura e efetivo. Essas DPs representam os caminhos permitidos à população para a realização de denúncias e registro de crimes. Os problemas são de ordem física em imóveis improvisados pelo Estado para o funcionamento da polícia judiciária. Também há barreiras na quantidade de policiais disponíveis para a realização do trabalho de investigação de delitos. As consequências do descaso são desastrosas para a população, que vê a Polícia Civil como uma instituição distante e ineficaz.
Por uma semana, a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE percorreu as 15 delegacias distritais da capital. Nelas, encontrou servidores indignados com as condições de trabalho. Encontrou também imóveis nos quais os ambientes de trabalho oferecidos não ultrapassam o mínimo. Registrou a entrega de computadores que chegavam às unidades para retirá-las do isolamento em que eram obrigados a conviver. Dentre todas, os servidores que acreditavam ter uma boa estrutura diziam: "pelo menos não é a pior das delegacias aqui em Natal. Funciona, mas boa não é não".
A placa verde na esquina é o único indicativo de que ali perto existe uma Delegacia de Polícia. A rua de barro leva a uma propriedade deteriorada. O portão de madeira pintado na cor azul está caindo. A cerca de arame farpado sobre o muro está quebrada e enferrujada. Os veículos apreendidos se espalham pelo terreno, que pede por limpeza. Se não fossem pelos dois homens que portam o distintivo da Polícia Civil, cidadão algum reconheceria o local como uma delegacia. Este é o retrato da 13ª DP localizada na Redinha, zona Norte de Natal.
"Não se pode chamar isso aqui de delegacia", sentencia um dos agentes que terá a identidade preservada pela reportagem. A casa inserida no amplo terreno sedia a estrutura do Governo do Estado voltada para a investigação e combate da criminalidade naquela região da cidade. Na recepção, a foto da governadora Rosalba Ciarlini está emoldurada por cima de uma bandeira do Estado do Rio Grande do Norte.
Além da deficiência na estrutura física do local, há deficiência de efetivo explicitada pela falta de escrivães. Profissionais de outras DPs se deslocam para a Redinha sempre que há necessidade. Faltam agentes para dar cumprimento ao trabalho de investigação realizado. "A quantidade é insuficiente", nas palavras dos próprios servidores.
A 13ª DP é o pior dos cenários das delegacias distritais na capital. Mas outras unidades não se distanciam muito. As deficiências estruturais se repetem e os servidores clamam pelo reforço no efetivo policial.
Na entrada da 2ª DP, em Brasília Teimosa, zona Leste da cidade, o "cartão de visitas". A placa enferrujada do Governo do Estado que identificava o local caiu da parede onde estava afixada e agora no chão, acumula água.
Os problemas de estrutura são explícitos também na 7ª DP, no bairro das Quintas. Lá, as paredes repletas de infiltrações e descascadas formam um ambiente desagradável para a população. Na parte de trás do prédio, há problemas com o esgoto e o entulho se amontoa pelo terreno.
Entrevista - Djair Oliveira
‘A estrutura das delegacias é péssima’
Djair Oliveira, presidente do Sindicato dos Policiais Civis e Servidores da Segurança Pública, conversou com a reportagem da Tribuna do Norte e tem seu próprio diagnóstico a respeito do quadro das delegacias. Para ele, as delegacias da capital são péssimas. Segue a entrevista:
Tribuna de Norte - Como o Sinpol analisa a estrutura das delegacias distritais da capital?
Djair Oliveira - A estrutura das delegacias, principalmente as distritais, é péssima. Não há investimentos no sentido de alterar essa realidade há um bom tempo. O aparelhamento tem sido esquecido. Desafio que seja mostrado alguma delegacia que possa ser considerada aparelhada. O que foi feito foi a distribuição de viaturas, e ainda assim, em número insuficiente.
A atual gestão do Governo do Estado tem mostrado empenho para alterar essa situação?
Nesse governo, a situação só piorou. O policial não se sente motivado para trabalhar, porque não há suporte para isso. E a previsão é ruim. Estimamos que até junho deste ano, mais de 400 policiais deem entrada na aposentadoria. O número representa quase um terço do efetivo total da Polícia Civil.
No final do mês de janeiro, a governadora nomeou delegados, escrivães e agentes. A convocação ocorreu no sentido de suprir o quadro em virtude daqueles servidores que haviam se aposentado ou morrido. A nomeação foi importante para a Polícia Civil?
Precisa dar posse às mais de 500 pessoas aprovadas e formadas para serem policiais. Os pouco mais de 70 que foram chamados são uma gota de água no oceano. Ainda existem 4 mil vagas previstas para a Polícia Civil. E quando o concurso foi feito em 2009, o objetivo era começar a suprir essas vagas e não igualar espaços do quadro, deixados por mortos e aposentados. Falta seriedade para suprir as vagas. Isso é vergonhoso.
O número da convocação representa a realidade de deficiência no quadro da polícia?
Esses dados foram maquiados. Podemos mostrar como a quantidade de aposentados e mortos foi superior à convocação realizada para suprir esse número. Havia pelo menos 130 vagas e o Governo chamou apenas 70 policiais. Podia citar vários casos de agentes e escrivães que morreram e não aparecem na lista de substituição da Secretaria de Segurança.
O Sinpol também se posicionou contra o fechamento das delegacias no período noturno. Por que isso?
O fechamento das delegacias à noite é um fato que só prejudica a população. A vítima tem que se deslocar até uma das delegacias de plantão abarrotadas de gente e às vezes acaba desistindo de registrar a ocorrência.
Fonte: Defato
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