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terça-feira, dezembro 20, 2011

Ex-delegado afastado por ajudar traficantes

O delegado federal Adauto Gomes da Silva Júnior foi afastado de suas atividades sob acusação de ter favorecido um traficante que era investigado pela própria unidade da Polícia Federal de Mossoró. O delegado teria passado informações sobre a investigação para o traficante e acabou sendo descoberto. Ele foi afastado do cargo e ficará sem receber salários, até que o processo seja concluído. Adauto é de Mossoró e já chefiou a Delegacia da Polícia Federal na cidade. Ultimamente ele trabalhava na PF em Natal.
O afastamento do delegado foi divulgado ontem pela assessoria de imprensa do Ministério Público Federal. De acordo com a nota da Procuradoria da República, a acusação contra Adauto Gomes é de violação do sigilo funcional, quando passou informações privilegiadas a um traficante, e colaboração com o tráfico de entorpecentes, já que seu fim seria evitar que o investigado fosse preso. A atitude do delegado, segundo o MPF, atrapalhou a investigação que objetivava desarticular uma organização criminosa de tráfico interestadual, que começou em 2010 e resultou na prisão de inúmeras pessoas.
A quadrilha vinha sendo monitorada pela Polícia Federal através de escutas telefônicas, feitas com autorização judicial. Em uma ligação entre Ikaro Mikael da Silva Jacome, "Cabeção", de 22 anos, um dos traficantes, e Karlla Micaelly Fernandes da Silva, foi descoberto o acesso dela a informações privilegiadas sobre uma operação que seria feita pela PF de Mossoró. No telefonema, ela informou que teria recebido informações de um "amigo" dizendo que a Polícia iria fazer "um raio-X em tudo". Até esse momento, esse tal amigo ainda era desconhecido pelos agentes que monitoravam o traficante.
A partir disso, foi pedida também a interceptação telefônica dela para descobrir quem seria esse tal amigo. Com base nas ligações feitas por essa mulher, os policiais chegaram ao delegado Adauto Gomes. Os policiais federais observaram que, minutos antes de realizar chamadas para Ikaro Jácome, Karlla Micaelly recebeu um telefonema de determinado número. As investigações verificaram várias outros contatos telefônicos com o mesmo celular, que consta no cadastro de informações dos servidores da PF como sendo do delegado Adauto Gomes da Silva Júnior, que acabou sendo descoberto.
Outro indício da ligação de Adauto com a informante do traficante aconteceu no dia 15 de março do ano passado, quando ele esteve em Mossoró, numa missão policial, e buscou informações no Núcleo de Operações de Inteligência da PF em Mossoró justamente sobre Ikaro Jácome. O interesse de Adauto sobre a investigação contra o referido traficante foi confirmado pelos policiais do Núcleo, que prestaram depoimento ao Ministério Público Federal. O traficante, com base nas informações do delegado, mudou sua postura para tentar fugir da investigação e evitar que fosse preso.
Ainda conforme a nota do Ministério Público Federal, após o alerta, "Ikaro Jácome passou a utilizar outros números de telefone celular, diminuindo a quantidade de conversas mantidas por telefone com seus sócios no tráfico, dificultando as investigações". Karlla também foi ouvida na investigação contra o delegado e confirmou que havia sido avisada por Adauto sobre a operação que seria feita em Mossoró de combate ao tráfico. Com isso, ela procurou Ikaro e o orientou a se desfazer do chip "grampeado". Foi aí que a PF passou a ter mais dificuldades para conseguir monitorá-lo.

MPF pediu a prisão do delegado Adauto Gomes
A Justiça Federal negou o pedido de prisão preventiva contra o delegado Adauto Gomes, feito pelo Ministério Público Federal. A Justiça negou a prisão, mas determinou o afastamento imediato do delegado. Adauto estava trabalhando na Delegacia de Combate a Crimes Fazendários em Natal.
Ainda segundo o texto que foi divulgado pelo MPF, os procuradores afirmaram na denúncia contra Adauto que ele havia atuado como informante do tráfico de drogas, utilizando-se da função de delegado da Polícia Federal e, consequentemente, tendo acesso a dados que eram totalmente restritos.
"Dessa forma, colaborou como informante de organização destinada à prática dos crimes previstos na lei de tóxicos", destacaram os procuradores através de nota divulgada.
A parte investigatória da conduta do delegado já foi concluída e o Ministério Público Federal o denunciou por violação do sigilo funcional e colaboração com o tráfico de drogas, crimes considerados de natureza extremamente grave.
O processo agora está na Justiça Federal e o delegado pode até ser expulso da PF.
A reportagem do DE FATO tentou contato com o policial ontem à tarde na Delegacia de Combate a Crimes Fazendários em Natal, mas foi informada que ele estava afastado de suas funções.
Não foi informado nenhum telefone de contato para que o policial se pronunciasse sobre a acusação que recai contra ele.
O advogado Gilmar Fernandes, que acompanhou Adauto em outro processo que respondeu por tortura (foi inocentado), afirmou que não iria se pronunciar até que seja oficializado no caso.

Fonte: Defato

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