A Polícia Federal afirma que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) agiu com "consciência e vontade" e pediu ao seu então ajudante de ordens, Mauro Cid, a falsificação de cartões de vacinação contra Covid-19 dele e da filha.
Nesta segunda-feira (18), a PF indiciou o presidente pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informações, por participação no esquema.
O relatório da corporação teve o sigilo retirado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do caso, nesta terça (19). A defesa de Bolsonaro diz que o indiciamento é "absurdo" (veja mais abaixo).
Segundo a PF, "os elementos de prova coletados ao longo da presente investigação são convergentes em demonstrar que Jair Messias Bolsonaro agiu com consciência e vontade determinando que seu chefe da Ajudância de Ordens intermediasse a inserção dos dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde em seu benefício e de sua filha".
O relatório também afirma que, em colaboração premiada, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro confirmou que o pedido de falsificação dos dados veio do ex-presidente.
Mauro Cid disse à PF que contou a Bolsonaro que tinha conseguido cartões falsos para si mesmo, a esposa e as filhas. E que o ex-presidente, ao saber da informação, ordenou que ele também obtivesse os documentos para Bolsonaro e para a filha dele.
O ex-ajudante de ordens disse que pediu ajuda ao advogado Ailton Barros, que foi candidato a deputado estadual no Rio de Janeiro pelo PL, em 2022. Já Ailton teria conseguido a inserção dos dados falsos por meio do então secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos Brecha.
"O colaborador confirma que pediu os cartões do ex-presidente e sua filha sob determinação do ex-presidente Jair Bolsonaro e que imprimiu os certificados; que solicitou a inserção de dados no sistema ConecteSUS de sua esposa, filhas, ex-presidente Jair Bolsonaro e de sua filha, Laura Bolsonaro", diz a PF.
Ainda segunda a investigação, Cid disse que os certificados foram impressos e entregues em mãos a Bolsonaro.
A PF encontrou registros de impressão dos documentos em impressoras instaladas no Palácio da Alvorada. No dia em que Cid diz ter passado os certificados ao ex-presidente, a presença dele no local foi confirmada por registros internos.
Segundo o inquérito, "não há nos autos, elementos que indiquem que Mauro Cesar Cid, Ailton Barros e João Carlos Brecha se uniram em unidade de desígnios para inserir os dados falsos à revelia do então Presidente da República Jair Bolsonaro".
"Ao contrário, conforme demonstrado, todas as pessoas beneficiárias das inserções falsas realizada pelo grupo criminoso tinham não apenas plena ciência, como solicitaram/determinaram as inserções falsas nos sistemas do Ministério da Saúde", diz o relatório.
Indiciamento
Os indiciados no inquérito são:
Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República;
Mauro Barbosa Cid, coronel do Exército e ex-ajudante de ordens da Presidência da República;
Gabriela Santiago Cid, esposa da Mauro Cid;
Gutemberg Reis de Oliveira, deputado federal (MDB-RJ);
Luis Marcos dos Reis, sargento do Exército que integrava a equipe de Mauro Cid;
Farley Vinicius Alcântara, médico que teria emitido cartão falso de vacina para a família de Cid;
Eduardo Crespo Alves, militar;
Paulo Sérgio da Costa Ferreira
Ailton Gonçalves Barros, ex-major do Exército;
Marcelo Fernandes Holanda;
Camila Paulino Alves Soares, enfermeira da prefeitura de Duque de Caxias;
João Carlos de Sousa Brecha, então secretário de Governo de Duque de Caxias;
Marcelo Costa Câmara, assessor especial de Bolsonaro;
Max Guilherme Machado de Moura, assessor e segurança de Bolsonaro;
Sergio Rocha Cordeiro, assessor e segurança de Bolsonaro;
Cláudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, servidora de Duque de Caxias;
Célia Serrano da Silva.
Segundo a PF, o grupo incluiu informações falsas em um sistema do Ministério da Saúde, para beneficiar o ex-presidente, parentes e auxiliares dele.
Com o indiciamento pela Polícia Federal, caso segue para análise do Ministério Público Federal (MPF), que vai decidir se apresenta ou não denúncia contra o ex-presidente.
O que diz a defesa de Bolsonaro
O advogado de Bolsonaro Fabio Wajngarten disse considerar "lamentável" a divulgação da informação. Em outra publicação no "X", antigo Twitter, Wajngarten classificou o indiciamento como absurdo e disse que não teve acesso ao material. Veja a íntegra:
"Na minha humilde opinião o indiciamento de hoje, que até o presente momento a defesa técnica sequer teve acesso, é tão absurdo quanto o caso da baleia. O mundo inteiro conhece a opinião pessoal do Presidente Jair Bolsonaro quanto ao tema da vacinação, muito embora ele tenha adquirido mais de 600 milhões de doses. Ademais, enquanto exercia o cargo de Presidente, ele estava completamente dispensado de apresentar qualquer tipo de certificado nas suas viagens. Trata-se de perseguição política e tentativa de esvaziar o enorme capital político que só vem crescendo
Por falar em capital político, vamos ver com lupa quais candidatos querem surfar a onda desse enorme capital político, mantendo-se indiferente à essa perseguição. Ao final, recomendarei ao grupo político do Presidente que jamais permita que essa relação unilateral e desequilibrada seja ativo eleitoral de quem quer que seja. Aos oportunistas de ocasião, tenham a certeza, que mais ainda agora, gafanhotos terão vida curta. Política é grupo, coesão e solidariedade", falou Fabio Wajngarten.
Fone: g1
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