quarta-feira, dezembro 20, 2023

Febre entre jovens, mercado bilionário e perigo à saúde: o consumo desenfreado de cigarro eletrônico no Brasil

O Profissão Repórter desta terça-feira (19) alerta para os riscos do uso do cigarro eletrônico. Também conhecido como vape ou pod, o dispositivo deixa a saúde do usuário exposta a perigos que vão desde o pulmão até o sistema cardiovascular. Sua venda é proibida em território nacional pela Anvisa desde 2009, mas seu comércio, das portas das baladas à 25 de março, não é impedido.


O número de usuários de cigarro eletrônico quadruplicou no Brasil em quatro anos: saltou de 500 mil em 2018, para 2,2 milhões de usuários em 2022 segundo o IPEC.


O cigarro eletrônico é uma febre principalmente entre os jovens. De acordo com uma pesquisa da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, realizada com 10 mil brasileiros, quase 20% dos jovens entre 18 e 24 anos já experimentaram cigarros eletrônicos. Segundo o IBGE, quase 17% dos estudantes de 13 a 17 anos já experimentaram o vape.


Veja como cigarro eletrônico faz parte da rotina de jovens influenciadores — Foto: Reprodução/TV Globo

Risco para a saúde e morte pelo vape


Diversos médicos alertam para as consequências que o uso do cigarro eletrônico leva para o usuário. A utilização do aparelho é sinônimo de perigo.


“O cigarro eletrônico dispensa e oferece nicotina em muito maior concentração e facilidade de uso que o cigarro convencional. Dão uma alta dependência, intensa e precoce”, conta a cardiologista Jaqueline Scholz, do Instituto do Coração (Incor) em São Paulo.


Quarta (e atual) geração do cigarro eletrônico, também conhecido como vape. — Foto: Reprodução/Profissão Repórter


Em Juazeiro (BA), Crisleide morreu por EVALI, lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico. Veja no vídeo abaixo.


“O vape é extremamente perigoso. Eu acho que a gente tem dados suficientes de que essa inflamação é uma coisa imediata, pode acontecer de forma abrupta como a EVALI, mas outras doenças de grande prazo provavelmente vão acontecer e a gente vai ter esse problema mais pra frente", diz o pneumologista David Coelho, que fez o diagnóstico de Crisleide.


Venda por atacado na 25 de março


'A 25 de março está tomada de cigarro eletrônico’: vídeos mostram as vendas no comércio popular — Foto: Reprodução/TV Globo

Apesar de clandestino, os números do comércio do vape são gigantes. Segundo a Receita Federal, a venda do produto movimenta cerca de R$ 7,5 bilhões por ano no Brasil.


Dos ambulantes nas portas de balada à 25 de março, a venda do produto ocorre livremente. No maior comércio popular de SP, o cigarro eletrônico é vendido por atacado.


“Cada dia tá aumentando cada vez mais (as vendas). Muita gente compra aqui, principalmente atacado. Tem cliente que pega cinco, seis mil (vapes) de uma vez só. A 25 tá tomada de cigarro eletrônico, tem em todo lugar”, conta uma lojista.


Debate pela regulamentação

Recentemente a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) abriu uma consulta pública, com duração de dois meses, sobre a liberação do uso de cigarros eletrônicos no Brasil.


A regulamentação do dispositivo começou a ser discutida no Congresso após a senadora Soraya Thronicke (Podemos) apresentar um projeto sobre regras de fabricação e liberação da venda.


“Muitos consumidores querem esse mercado regulamentado para ele ter a segurança do que ele está consumindo. (Há) muita gente com problemas de saúde por conta dos dispositivos eletrônicos, mas, na verdade, a gente não tem quem sequer responsabilizar. Você entende o limbo que nós estamos vivendo?”, diz Soraya.

Segundo Jaqueline Scholz, do Incor, a legalização da venda do vape “seria uma desgraça para saúde pública brasileira”, que ainda busca tratar os mais de 20 milhões de dependentes do cigarro convencional.


A indústria do fumo (Abifumo) defende a regulamentação da venda do vape sob a justificativa de dar uma opção "de menor risco" para os adultos fumantes.


Influenciadores de vape

A juventude também consome conteúdo relacionado ao vape nas redes sociais, que tem seus próprios influenciadores. O Profissão Repórter conversou com um grupo de jovens que têm o aparelho como elemento central do conteúdo que produzem.


"Como isso aqui é mais fácil, é só você pegar da bolsa e fumar, não precisa você acender. Mas a gente quer fumar mais por mídia mesmo”, diz a influenciadora Mirely Gomes, de 20 anos.


Veja como cigarro eletrônico faz parte da rotina de jovens influenciadores — Foto: Reprodução/TV Globo

Do grupo de jovens influenciadores, Kevin Dener, de 18 anos, é o que mais usa o cigarro eletrônico. Ele conta que faz uso do dispositivo há 4 anos e destaca a dificuldade em parar. Segundo Dener, ele usa cerca de 10 mil pushes por semana, o equivalente a quase 6 maços de cigarro comum por dia.


Fonte: g1

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