O Profissão Repórter desta terça-feira (19) alerta para os riscos do uso do cigarro eletrônico. Também conhecido como vape ou pod, o dispositivo deixa a saúde do usuário exposta a perigos que vão desde o pulmão até o sistema cardiovascular. Sua venda é proibida em território nacional pela Anvisa desde 2009, mas seu comércio, das portas das baladas à 25 de março, não é impedido.
O número de usuários de cigarro eletrônico quadruplicou no Brasil em quatro anos: saltou de 500 mil em 2018, para 2,2 milhões de usuários em 2022 segundo o IPEC.
O cigarro eletrônico é uma febre principalmente entre os jovens. De acordo com uma pesquisa da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, realizada com 10 mil brasileiros, quase 20% dos jovens entre 18 e 24 anos já experimentaram cigarros eletrônicos. Segundo o IBGE, quase 17% dos estudantes de 13 a 17 anos já experimentaram o vape.
Risco para a saúde e morte pelo vape
Diversos médicos alertam para as consequências que o uso do cigarro eletrônico leva para o usuário. A utilização do aparelho é sinônimo de perigo.
“O cigarro eletrônico dispensa e oferece nicotina em muito maior concentração e facilidade de uso que o cigarro convencional. Dão uma alta dependência, intensa e precoce”, conta a cardiologista Jaqueline Scholz, do Instituto do Coração (Incor) em São Paulo.
Em Juazeiro (BA), Crisleide morreu por EVALI, lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico. Veja no vídeo abaixo.
“O vape é extremamente perigoso. Eu acho que a gente tem dados suficientes de que essa inflamação é uma coisa imediata, pode acontecer de forma abrupta como a EVALI, mas outras doenças de grande prazo provavelmente vão acontecer e a gente vai ter esse problema mais pra frente", diz o pneumologista David Coelho, que fez o diagnóstico de Crisleide.
Venda por atacado na 25 de março
Apesar de clandestino, os números do comércio do vape são gigantes. Segundo a Receita Federal, a venda do produto movimenta cerca de R$ 7,5 bilhões por ano no Brasil.
Dos ambulantes nas portas de balada à 25 de março, a venda do produto ocorre livremente. No maior comércio popular de SP, o cigarro eletrônico é vendido por atacado.
“Cada dia tá aumentando cada vez mais (as vendas). Muita gente compra aqui, principalmente atacado. Tem cliente que pega cinco, seis mil (vapes) de uma vez só. A 25 tá tomada de cigarro eletrônico, tem em todo lugar”, conta uma lojista.
Debate pela regulamentação
Recentemente a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) abriu uma consulta pública, com duração de dois meses, sobre a liberação do uso de cigarros eletrônicos no Brasil.
A regulamentação do dispositivo começou a ser discutida no Congresso após a senadora Soraya Thronicke (Podemos) apresentar um projeto sobre regras de fabricação e liberação da venda.
“Muitos consumidores querem esse mercado regulamentado para ele ter a segurança do que ele está consumindo. (Há) muita gente com problemas de saúde por conta dos dispositivos eletrônicos, mas, na verdade, a gente não tem quem sequer responsabilizar. Você entende o limbo que nós estamos vivendo?”, diz Soraya.
Segundo Jaqueline Scholz, do Incor, a legalização da venda do vape “seria uma desgraça para saúde pública brasileira”, que ainda busca tratar os mais de 20 milhões de dependentes do cigarro convencional.
A indústria do fumo (Abifumo) defende a regulamentação da venda do vape sob a justificativa de dar uma opção "de menor risco" para os adultos fumantes.
Influenciadores de vape
A juventude também consome conteúdo relacionado ao vape nas redes sociais, que tem seus próprios influenciadores. O Profissão Repórter conversou com um grupo de jovens que têm o aparelho como elemento central do conteúdo que produzem.
"Como isso aqui é mais fácil, é só você pegar da bolsa e fumar, não precisa você acender. Mas a gente quer fumar mais por mídia mesmo”, diz a influenciadora Mirely Gomes, de 20 anos.
Do grupo de jovens influenciadores, Kevin Dener, de 18 anos, é o que mais usa o cigarro eletrônico. Ele conta que faz uso do dispositivo há 4 anos e destaca a dificuldade em parar. Segundo Dener, ele usa cerca de 10 mil pushes por semana, o equivalente a quase 6 maços de cigarro comum por dia.
Fonte: g1
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