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quarta-feira, outubro 25, 2023

O que fazer para evitar que besouro metálico derrube mais árvores

Nesta terça-feira (24), mais duas árvores caíram depois de ação do 'besouro metálico' em Fortaleza — Foto: Gabriela Barroso/Arquivo Pessoal

Em Fortaleza, a ameaça dos besouros metálicos tem derrubado árvores da mesma família botânica há pelo menos três anos. Nesta terça-feira (24), mais duas mungubeiras caíram pela ação dos insetos, também conhecidos como baratão-verde-metálico ou mãe-do-sol. Enquanto não há inseticida para conter o Euchroma gigantea, as soluções recomendadas incluem nutrição das árvores, podas e cortes.


A presença do besouro assusta porque as larvas dele perfuram a madeira e enfraquecem a base das árvores, que chegam a perder galhos ou cair por completo. O dano é significativo porque cada larva pode possuir uma cabeça de dois centímetros, o que gera vários buracos na estrutura da planta.


O besouro tem sido avistado em Fortaleza há dez anos e começou a provocar quedas de árvores de grande porte nos últimos três anos, como detalha Leonardo Jales, ambientalista e membro do Movimento Pró-Árvore. Como explica, o besouro tem atacado árvores da família Malvaceae e da subfamília Bombacoideae.


Espécies de árvores atacadas em Fortaleza:


Mungubeira (amazônica)

Paineira ou samaúma (amazônica)

Barriguda-do-sertão (nativa)

Xixá (nativa)

Baobá (africana)

O ambientalista esclarece que, até agora, os insetos conseguiram derrubar apenas mungubeiras e samaúmas da cidade. Espécies como xixá, baobá e barriguda-do-sertão não caíram, mas tiveram a presença dos besouros, acendendo um sinal de alerta para riscos no futuro.


Nesta terça-feira (24), mais duas mungubeiras foram ao chão pela ação do inseto gigante: uma no Parque Adahil Barreto, no bairro Dionísio Torres, e outra em uma rua do bairro Passaré. Com elas, já são pelo menos dez quedas de árvores da cidade neste mês de outubro.


Identificar e monitorar


A invasão do besouro metálico, nativo da Amazônia, desperta a preocupação de quem acompanha o tema. Ele tem se espalhado pelas cidades brasileiras sem a presença e o controle dos predadores naturais. Além da perda das árvores, o problema representa riscos para pessoas e patrimônio nos casos de quedas.


Embora grupos de pesquisadores em São Paulo e Minas Gerais tenham buscado desenvolver um controle químico, ainda não existem inseticidas para combater o besouro metálico, comenta o Lamartine Soares, professor do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (UFC).


Assim, monitorar a saúde das árvores que podem ser atingidas é uma das principais estratégias para tentar contornar o problema.


“A solução é remover, de maneira imediata, os indivíduos (árvores) que apresentam sinais e sintomas mais acentuados. Se estiver na fase inicial, é possível reduzir o peso da copa, investindo em nutrição dessa planta, entrando com adubação para tentar fortalecer o indivíduo. E avançando os sinais e sintomas, aumentando a presença do inseto nesse processo de monitoramento, é preciso recomendar a supressão”, explica o pesquisador.

Qualquer pessoa pode identificar se uma árvore está sendo atacada pelo baratão-verde-metálico. Além dos sinais visíveis, a planta que está sendo enfraquecida pela ação das larvas do inseto soltam uma substância pegajosa no tronco com um odor forte e característico.



Como identificar a presença do inseto nas árvores:


As ponteiras apresentam desfolha

As folhas da planta danificada ficam menores e amareladas

Na base da planta, começa a aparecer gomose, que é como se fosse uma secreção que a espécie contaminada desenvolve para se proteger do invasor, com um odor malcheiroso

Em estado avançado, há descamação na base da planta. Ou seja, o tronco desfarela e raízes superficiais quebram facilmente

O primeiro semestre do ano traz mais preocupações: além de ser um período de mais reprodução do inseto, os ventos e as chuvas aumentam os riscos de queda das árvores.


Como alerta o ambientalista Leonardo Jales, a poda ou o corte das árvores não pode ser feito sem autorização da Prefeitura. Em Fortaleza, o cidadão pode solicitar o serviço quando houver necessidade de corte de até nove árvores.


Estes serviços podem ser solicitados pelo telefone 156 ou pela abertura de processo nas Centrais de Acolhimento nas 12 Regionais da Prefeitura de Fortaleza.


Exemplo de Minas Gerais


Alguns passos adotados em Belo Horizonte são vistos pelos especialistas como positivos para aplicação no Ceará. Um deles é fazer um levantamento das condições de todas as árvores urbanas e, a partir destes dados, definir quais precisam ser cortadas para conter infestação e evitar acidentes, aponta Leonardo Jales.


Na capital mineira, foram identificadas cerca de 1,8 mil mungubeiras atacadas pelo besouro metálico em 2017. A gestão municipal de Belo Horizonte decidiu fazer o corte destas árvores.


Segundo o ambientalista, não há sinais de que a Prefeitura de Fortaleza planeje fazer levantamento semelhante. Ele aponta, ainda, que esse caminho ajudaria também a identificar as espécies que mais se adaptam à cidade, priorizando as espécies nativas no lugar de espécies de outras regiões, como a mungubeira.


"A melhor solução, ao modo de ver do movimento ambiental, é sempre privilegiar o plantio de árvores nativas. E sempre priorizar um plantio diverso, com diferentes espécies de árvores nativas, e nunca fazer plantios com a mesma espécie em larga escala, como acontece com a munguba", comenta Leonardo.

Conforme o professor Lamartine Soares, a praga atual de besouros metálicos é possivelmente explicada pela dispersão das mungubeiras pelas cidades brasileiras. Desta forma, os insetos conseguiram migrar junto com elas e saíram das suas zonas naturais de ocorrência.



Procurada pelo g1, a Autarquia de Urbanismo e Paisagismo de Fortaleza (UrbFor) informou que o plantio de novas mudas de mungubeiras foi temporariamente suspenso até que se possa determinar uma forma eficaz de controlar a população de insetos e preservar a saúde das árvores.


Conforme o órgão, a presença dos besouros metálicos foi detectada pelas equipes técnicas em vistorias realizadas na capital. Este monitoramento das árvores é feito diariamente de forma espontânea nas 12 regionais da cidade.


"Quando detectada necessidade de serviços na árvore, seja para correção, manutenção, limpeza, tratamento de parasitas ou para desobstrução de semáforos, placas de trânsito e iluminação pública, os engenheiros agrônomos produzem um laudo técnico detalhando o tipo de trabalho que deve ser feito em prol da saúde da planta", complementa a nota.

A UrbFor informa que a localização das árvores, o fluxo de veículos e pessoas e a urgência na execução também são aspectos levados em conta.


Saiba onde solicitar serviços à Prefeitura de Fortaleza:

Solicitação de podas e cortes de árvores: ligar para o telefone 156 ou abrir processo nas Centrais de Acolhimento das 12 secretarias executivas regionais.


Solicitar recolhimento de árvores caídas em logradouros públicos: fazer contato pelo número de WhatsApp (85) 98682-2269. Por meio deste contato, o solicitante pode enviar fotos e vídeos, além do endereço da ocorrência.


Fonte: g1

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