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terça-feira, agosto 08, 2023

Relatora da CPI dos Atos Golpistas propõe acareação entre Torres e delegado da PF sobre operação para eleições no Nordeste

Anderson Torres presta depoimento à CPI dos Atos Golpistas — Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

A relatora da CPI dos Atos Golpistas, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), propôs nesta terça-feira (8) que a comissão faça uma acareação entre o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o delegado da Polícia Federal Leandro Almada da Costa.


Torres e Almada descreveram de forma diferente uma reunião que ocorreu na Bahia, cinco dias antes do segundo turno das eleições de 2022. Além deles, o encontro contou com o então diretor-geral da PF, Márcio Nunes.


A PF apura se, na ocasião, Torres pediu que a corporação desse suporte à Polícia Rodoviária Federal (PRF) para interromper o fluxo de eleitores na Região Nordeste a fim de prejudicar a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).



A acareação, prevista no Código de Processo Penal (CPP), acontece quando testemunhas ou acusados apresentam versões diferentes sobre o mesmo fato. Então, um novo depoimento é realizado com a presença das duas partes na tentativa de esclarecer as declarações.


O pedido, já apresentado formalmente por Eliziane, ainda precisa ser analisado pela CPI.


Questionado se aceitaria, Torres respondeu que "não tem problema" em realizar o novo depoimento, desta vez na presença de Almada.


Versões

Em depoimento à CPI nesta terça, Anderson Torres disse que foi à Bahia visitar obras da reforma da Superintendência da Polícia Federal no estado.


Mas, de acordo com Eliziane, Almada havia dito que o encontro serviu para tratar de detalhes sobre a "concentração de militares" em "pontos centrais de votação" no Nordeste — região em que Lula venceu a disputa contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).



"O senhor Almada já depôs na Polícia Federal, inclusive por duas vezes, acerca dessa própria reunião. E, nos depoimentos, ele é claro e taxativo que de fato o foco dessa reunião foi voltar-se para um planejamento e organograma em relação a essas ações nesses locais próprios de votação por parte da Polícia Federal. Ou seja, o senhor está me dizendo que ele mentiu nesse depoimento", declarou a relatora da CPI.

À relatora do colegiado, Torres respondeu que o encontro tratou das eleições, mas que foram discutidos os "principais locais" de votação.


"Senadora, na verdade não foi isso. A gente tratou da forma que eu estou dizendo para a senhora. Nós tratamos sobre eleição, falamos sobre os principais locais. Ele [Almada] disse que não tinha como atuar no estado inteiro", disse.

"Nós, inclusive, sugerimos que, onde ele não conseguisse atuar, a PRF atuasse, para ter uma capilaridade das forças federais na maioria dos municípios, para que se apresentasse ao juiz eleitoral, ao promotor eleitoral, para que as forças federais se fizessem presentes. A nossa conversa com ele foi só essa, nada além disso", completou.


Anderson Torres prestou depoimento à CPI nesta terça usando uma tornozeleira eletrônica.


Em 8 de janeiro, Torres ocupava o cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, mas estava em viagem de férias nos Estados Unidos.


O ex-gestor é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta omissão na montagem do esquema de segurança no dia da depredação dos prédios dos três poderes.


Torres chegou a ficar preso por cerca de quatro meses, mas depois foi solto por ordem do ministro Alexandre de Moraes, que impôs, no entanto, o uso de tornozeleira eletrônica.


Investigação da PF

Segundo apuração do âncora César Tralli, da GloboNews, uma investigação da Diretoria de Inteligência Policial da PF (DIP), em Brasília, contradiz a versão apresentada por Torres.


O inquérito ouviu delegados federais que estavam na Bahia quando houve a visita.


As apurações apontam que Torres mentiu quando disse o motivo da viagem era visitar uma sede da PF em Salvador. Segundo o DIP, o objetivo da visita foi tratar de segurança reforçada durante o 2º turno das eleições presidenciais.



Segundo a investigação da PF, Anderson Torres abriu a conversa dizendo que estava preocupado com crimes eleitorais, que o primeiro turno tinha sido problemático, que teve notícias de compra de voto na Bahia no primeiro turno. E que seria importante a PF reforçar a presença nas ruas – disponibilizou ainda efetivo da PRF para apoiar a PF.


Segundo o inquérito, os delegados da PF que comandavam a Bahia perceberam – pelo tom e teor da conversa – o suposto objetivo do ex-ministro. Na sequência do encontro, ainda conforme a investigação, eles saíram para almoçar.


O almoço atrasou e o grupo quase desistiu de visitar a obra na sede da PF. Ou seja, pelas apurações feitas durante a investigação em curso, o escopo da viagem de Anderson Torres a Salvador nunca foi visitar a reforma do prédio da PF.


Fonte: g1

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