Um relatório elaborado pela Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico pôs o Brasil entre os países com maior proporção de jovens que estão fora da escola e sem trabalhar.
Vinte anos é só o começo para quem se prepara para entrar na faculdade.
“Eu ficava entre biologia, medicina veterinária. Meus pais sempre deram oportunidade de eu ter um tempo para pensar e a carreira que eu escolher, eles estariam me apoiando”, diz a estudante Kailane Moreira Franco.
Para quem já cuida de dois filhos, 20 anos é uma vida.
"De 2020 para cá, nunca mais estudei, não tive oportunidade, né? Porque engravidei dele, aí depois veio ela. Não teve como estudar. Eu tinha um sonho de ser ou delegada ou advogada”, conta a dona de casa Marisa Costa Alves.
Para a estatística, Marisa é uma nem-nem: jovem que não estuda nem trabalha. O sociólogo Fausto Augusto Júnior prefere chamar de "sem-sem".
“O nem-nem dá impressão que o jovem não quer estudar, que o jovem não quer trabalhar. A escolha de sair da escola não é uma escolha, é uma imposição social. Do mesmo jeito que não encontrar emprego não é porque ele não procurar emprego, é porque não tem emprego para esse jovem”, afirma o diretor técnico do Dieese.
Para a economia, é mais que um drama.
“É uma tragédia macro, microeconômica. A gente vive mais e nós estamos produzindo cada vez menos jovens. E uma parte grande desses jovens que a gente tem vai ser incapaz de sustentar os idosos”, explica Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia da USP.
No ranking de 37 países analisados pela OCDE, o segundo lugar é do Brasil na proporção de jovens fora da escola e sem trabalho - atrás só da África do Sul.
De perto, o Brasil parece até dois países. No mais pobre, onde está a maior parte da população, a proporção de jovens que não estudam nem trabalham fica bem acima da média; e no Brasil onde ficam as famílias mais ricas, ao contrário, é bem menor. O que perpetua o cenário de desigualdade.
Economistas e sociólogos se preocupam: dizem que é preciso cuidar dessa fase de transição para o mercado de trabalho. Não só para garantir o futuro dos jovens, mas do país.
“O Brasil é o eterno país do futuro. O problema é que, com o tempo, nós estamos envelhecendo e daqui a pouco nós podemos ser o país do passado”, diz o sociólogo.
“A nossa escola, o ensino médio, tem que se tornar um ensino profissionalizante. Porque, assim, as crianças que estão vindo, quando terminarem o ensino médio, já vão ter um emprego, um trabalho, vão ter uma ocupação”, afirma Hélio Zylberstajn.
Qual será o final dessas histórias?
“Eu me imagino no laboratório fazendo pesquisas e, quem sabe, ajudando em vacinas futuras”, diz a estudante Kailane.
"A solução não é desistir, né? Porque tudo está em tempo ainda”, afirma Marisa.
Fonte: g1
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