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terça-feira, junho 06, 2023

Xixi na cama? 10% dos jovens de 5 a 17 anos têm o hábito; médicos falam o que pais devem fazer

Um em cada 10 crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos não consegue controlar o xixi na cama. O problema, chamado cientificamente de enurese noturna, ainda é visto com preconceito até pelos pais. Um estudo conduzido pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, por exemplo, aponta que 60% dessas pessoas ficam de castigo enquanto outras 40% sofrem punições físicas.



— É preciso educar os pais com responsabilidade porque essas punições podem causar estresse familiar e sofrimento adicional à criança. Ela não faz xixi na cama porque quer, mas porque não aprendeu ainda o momento de ir ao banheiro ou pedir para urinar. Ela tenta parar para agradar os pais e começa a achar que o problema é dela quando não é. É apenas uma característica que pode ser tratada — afirma o urologista e secretário-geral da Sociedade Internacional de Continência da Criança (ICCS) Ubirajara Barroso Jr.


Causas

Segundo Ubirajara, entre as principais causas para a enurese noturna é que algumas pessoas têm um limiar de ativação muito grande da área do “despertador do cérebro” (locus ceruleus). Ou seja, precisam de muito estímulo para despertar e acordar e, por este motivo, não despertam facilmente e acabam fazendo xixi.


— Se a bexiga quando enche envia ao cérebro uma mensagem, mas o locus não desperta, a pessoa, consequentemente, vai urinar. Outro aspecto é que quando isso acontece, a glândula que produz o hormônio antidiurético (ADH) para de trabalhar, o que desestimula a retenção urinária e faz com que a criança tenha vontade de fazer xixi à noite — explica o médico.


Além da dificuldade de despertar e do aumento da produção urinária noturna, outra causa é hereditária. Se os pais também tiveram enurese noturna na juventude, a probabilidade de os filhos desenvolver a condição é mais de 75%.


Sensores e estimulação elétrica

O primeiro tratamento indicado pelos médicos é comportamental. Isso significa, por exemplo, fazer a criança e o adolescente se hidratar mais durante o dia para não sentir sede à noite. O espaço entre o jantar e o horário de dormir deve ser de duas horas no máximo. A refeição também não deve ter muito sal, pois ele ajuda a absorver o líquido do organismo que vai ser eliminado de madrugada e auxilia na sede. Além disso, não se deve consumir cafeína, pois ela facilita a contração da bexiga durante a noite.


— Muitos pais têm o hábito de dar leite aos filhos antes de dormir, o que é contraindicado, pois ajuda a encher a bexiga e consequentemente aumenta a vontade de fazer xixi durante a noite, possibilitando que eles façam na cama — explica Marcos Giannetti Machado, membro do Departamento de Uropediatria da Sociedade Brasileira de Urologia.


Giannetti afirma que os pais não podem deixar o controle de quando é o momento de fazer xixi apenas nas mãos da criança e que ela precisa ser “monitorada, orientada e supervisionada”. O médico também afirma que não é recomendado acordar a criança de madrugada em determinadas horas, pois além de acordar o filho, os pais também precisam se levantar da cama, o que pode fazer o rendimento da família no dia seguinte cair.


— O recomendado é que os pais reduzem o aporte de líquido para a criança após o jantar e fazer a criança acordar cedo, porque ela não foi feita para dormir até tarde e a vida dela precisa começar cedo. Uma criança que dorme as 22h, por exemplo, deve acordar no máximo 07h. Os riscos de ela esvaziar na cama diminuem drasticamente — diz Giannetti.



Outra recomendação que o urologista sugere é ir ao banheiro antes das refeições. Segundo Giannetti, a criança precisa fazer xixi até sete vezes por dia, se cada refeição a criança beber um pouco de líquido como café da manhã, almoço, jantar, lanche da tarde e entre o café da manhã e o almoço, o ciclo da bexiga se regula durante o dia e ela vai aprendendo qual é o melhor momento de ir ao banheiro.


Entretanto, são poucos os casos bem-sucedidos com essas mudanças. Na maioria das vezes é necessário tratamentos específicos com o uso de medicamentos, como a desmopressina, fármaco que atua como se fosse um hormônio antidiurético. Ele possui poucos efeitos colaterais e a maioria das crianças aceitam bem o remédio. Ele atua absorvendo a água do organismo e diminuindo a enurese noturna.


Um dos tratamentos mais modernos são os alarmes. Com sensor de umidade ativado por gotas de urina, um alarme sonoro é disparado acordando a criança e os responsáveis que levam o filho até o banheiro


Dispositivo promissor

Um novo dispositivo brasileiro criado em parceria com o urologista americano Andrew Kirsch, acaba de ser selecionado para a sessão de inovações tecnológicas do Congresso Americano de Urologia, em Chicago.


Chamado de Soluu, o aparelho tem um apetrecho de estimulação da musculatura do assoalho pélvico acoplado nele por estimulação elétrica transcutânea que tem como objetivo contrair os músculos do assoalho. Ou seja, quando a criança estiver apertada para fazer xixi, o aparelho, além de emitir um som para acordá-la, ele aciona uma neuroestimulação que fecha o esfíncter, impedindo o escape da urina.


Tipos de enurese

Existem dois tipos de enurese noturna. A primeira chamada de monossintomático é quando a criança só faz xixi na cama e não tem sintomas durante o dia. Neste caso, não há danos à saúde física, porém, o paciente pode apresentar vergonha, tristeza, sentimento de imaturidade e a sofrer com baixa autoestima, além de se sentir diferente dos demais.



O outro tipo são as não monossintomáticas, ou seja, a criança além de fazer xixi na cama, começa a apresentar sintomas durante o dia, como incontinência urinária, aumento de frequência na urina e urgência para fazer xixi. Neste caso, elas têm risco aumentado de infecção urinária e lesão renal. Em ambos os casos, o tratamento é necessário, porém, o segundo é mais grave.


— O tratamento do xixi na cama é recomendado para crianças acima de 5 anos. Após os 7 anos o tratamento passa a ser obrigatório. Isso porque estudos mostram que a partir dessa idade, a criança começa a sofrer, se isola, se sente diferente dos demais e começa a atingir a autoestima, além de a chance de a criança recuperar o controle do esfíncter sozinha se tornar menor — diz Barroso.


Fonte: g1

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