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quarta-feira, junho 07, 2023

PF registrou, em operação sobre kits de robótica, encontros de casal preso com deputado federal e ex-secretário

A Polícia Federal registrou encontros entre um casal "especializado na prática de crimes de lavagem de capitais" e um deputado federal eleito pelo Distrito Federal, um ex-secretário de Santa Catarina e um ex-diretor do Ministério da Saúde.


O casal Pedro Magno Salomão e Juliana Salomão foi preso durante a operação Hefesto, deflagrada no último dia 2, que investiga suspeita de fraudes em licitação e lavagem de dinheiro em Alagoas por meio da compra de equipamentos de robótica com verba federal.


No último domingo (4), o Fantástico mostrou que a investigação flagrou trocas de dinheiro vivo envolvendo Pedro Salomão e um motorista do agora ex-assessor parlamentar Luciano Cavalcante. Mas a PF fez outras imagens de encontros envolvendo Pedro e Juliana Salomão.


Vigilância

Durante as investigações, a Polícia Federal suspeitou de transferências feitas por uma das empresas investigadas no caso e um dos seus sócios para três empresas do casal Salomão. Entre setembro de 2021 e maio de 2022, foram repassados mais de R$ 1,4 milhões para as empresas de Pedro e Juliana.


Segundo os mesmos relatórios de inteligência financeira, entre novembro de 2021 e abril de 2022, Pedro realizou nove saques em dinheiro das contas das empresas que receberam os valores. Os saques variavam entre pouco menos de R$ 38 mil e R$ 49 mil e somaram cerca de R$ 416 mil.


O relatório de inteligência destacou que "as transações sugerem indícios de burla da destinação dos recursos" e a PF decidiu seguir Pedro e Juliana Salomão. No relatório preliminar da investigação, a que a TV Globo teve acesso, os policiais descreveram alguns dos encontros registrados.


Encontro no saguão do hotel

Em 23 de novembro de 2022, a PF registrou visitas de Juliana a agências bancárias da capital federal e de Pedro a uma lotérica da cidade. Os policias anotam que Pedro deixou a lotérica carregando uma "pequena bolsa vermelha".


No dia 24, pela manhã, Pedro foi monitorado indo até um hotel de Brasília. No saguão do local, ele aguardou até que dois hóspedes se aproximassem e o encontrassem nos sofás do local. Segundo a Polícia Federal, eram Cristiano e Lucas Esmeraldino.


Durante a vigilância, PF identificou encontro entre Pedro Salomão e os irmãos Lucas e Cristiano Esmeraldino. — Foto: Reprodução


À época do encontro, Lucas -- que havia disputado a eleição para deputado federal em outubro, sem ser eleito -- ocupava o cargo de secretário-executivo de Articulação Institucional do governo de Santa Catarina. O posto é exercido na capital federal, e ele foi exonerado na troca de governo, em janeiro. Cristiano é seu irmão mais velho.


Segundo a PF, "neste encontro é possível verificar que Cristiano abre sua mala e Lucas passa a fazer uma espécie de proteção corporal para ocultar algo que Cristiano manuseava. Após isto, Lucas sai do local com duas malas e uma mochila, embarcando-as no Ford Focus Azul com placa oficial do Governo de Santa Catarina".


O relatório também aponta que Pedro Salomão teria se encontrado com Cristiano mais uma vez, no mesmo hotel, em 30 de novembro. Os investigadores não identificam se algo foi entregue por Pedro Salomão aos irmãos.


Por telefone, Lucas Esmeraldino negou à TV Globo conhecer Pedro Salomão e disse não se lembrar do encontro. "Devem estar me confundindo com outro Lucas, com outra pessoa", disse ele. "Eu não sei a vida particular de cada um, cada um tem que dar conta do seu CPF. Eu dou conta do meu CPF e cada um dá conta do seu", reforçou.


Dois relógios

Os agentes seguiram vigiando Pedro Salomão, que após o encontro no hotel passou por um prédio de escritórios da cidade e depois por uma agência bancária, onde trocou de carro com a esposa e de onde saiu com uma bolsa vermelha.


Após passar rapidamente em um café, Pedro Salomão seguiu para um centro de compras de Brasília. Ali ele se encontrou em uma churrascaria com um homem de boné azul, que já estava no local.


De acordo com o relatório, algum tempo depois um veículo "estaciona em frente à mesa, momento em que o indivíduo de boné azul aponta para o veículo. Pedro então se levanta, dirige-se ao veículo indicado, abre a porta traseira e, aparentemente, retira algo de dentro de sua bolsa vermelha (...) e coloca no interior do veículo prata, retornando à mesa e se despedindo do homem de boné azul."



Depois, o homem de boné azul vai até o veículo, que estava durante todo o período com um motorista, e parte. Os investigadores identificaram o homem como sendo Gilvan Máximo (Republicanos-DF), à época deputado federal eleito e hoje no exercício do mandato.


Segundo a Polícia Federal, Pedro Salomão se encontrou com o deputado Gilvan Maximo (Republicanos-DF) em um restaurante. — Foto: Reprodução


Ainda segundo a polícia, o carro em que Pedro Salomão deixou algo estava em nome de Danilo Ribeiro Machado. Os investigadores apontam que Danilo e Gilvan aparecem juntos em fotos de redes sociais de Danilo. O g1 apurou que há um secretário parlamentar com este nome no gabinete de Gilvan na Câmara dos Deputados.


A PF não identificou o que teria sido entregue no encontro mas, por meio de sua assessoria, Gilvan Máximo disse que ao g1 que vendeu dois relógios a Pedro Salomão, que decidiu pagar pelos itens em dinheiro.



"Vendi dois relógios, de minha propriedade, a Pedro Magno. Mas não tenho ideia porque ele decidiu fazer os pagamentos em dinheiro. Na época dos fatos, também não tinha nenhuma razão para desconfiar da idoneidade do comprador. Espero que ele prove a sua inocência ao final da investigação aberta contra ele", afirmou.

Churrascaria

Um terceiro registro feito pelos investigadores acontece no dia 26 de novembro. Pedro Salomão vai a uma agência bancária, onde faz grandes saques em dinheiro, e no fim do dia segue à mesma lotérica dos dias anteriores. Lá, entra inclusive em área restrita a funcionários.


No dia seguinte, pela manhã, Salomão passa por mais uma agência bancária -- onde faz novos saques -- e segue para uma churrascaria na região central de Brasília. Lá, segundo a Polícia Federal, fica dentro do carro no estacionamento até que outro veículo se aproxima.


Os investigadores apontam que o motorista do carro que chega "vai ao encontro de Pedro Magno no seu veículo (...) e recebe algum 'objeto de Pedro Magno' e logo após receber esse “objeto, o condutor do veículo deixa esse “objeto” no veículo e ambos se deslocam para o interior da churrascaria”. O encontro também foi registrado em vídeo.


Registro feito pela PF - segundo os investigadores, entre Pedro Salomão e Laurício Monteiro. — Foto: Reprodução


Dentro do restaurante, os investigadores identificaram o condutor do veículo como sendo Laurício Monteiro Cruz. Ele foi diretor de Imunização e Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde entre 2020 e 2021. Segundo a PF, o carro em que ele chegou pertence à sua esposa.


Em julho de 21, Lauricio foi exonerado após ter dado aval para que um reverendo e a entidade presidida por ele negociassem 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca em nome do governo brasileiro com a empresa americana Davati. O negócio não foi realizado e a operação foi investigada pela CPI da Covid após acusações de pedidos de propina.



À época do encontro com Pedro Salomão, Laurício trabalhava na Diretoria de Vigilância Ambiental em Saúde da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Ele segue no cargo.


Por telefone, ele afirmou à TV Globo que não conhece Pedro Salomão e que não recebeu nenhum objeto no estacionamento da churrascaria. Laurício disse ainda que não tem nenhum envolvimento na investigação.


Investigações continuarão

A rotina de saques levou a PF a considerar Pedro e Juliana Salomão "especializados na prática de crimes de lavagem de capitais, ocultando e dissimulando bens, direitos e valores provenientes de desvios de recursos públicos das mais variadas naturezas e oriundos de diversos entes públicos."


"Tais movimentações demonstram sérios indícios de que Pedro e Juliana (através de intensa movimentação financeira em suas empresas) seriam possivelmente operadores de considerável e amplo esquema de lavagem de capitais em vários estados da Federação, ocultando e dissimulando bens, direitos e valores provenientes de práticas delitivas cometidas por diversos núcleos criminosos, com ou sem conexão entre si", dizem os investigadores.

Segundo a polícia, os fatos encontrados pelos investigadores também serão apurados e podem dar início a outras investigações a partir do compartilhamento de informações.


fonte: g1

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