segunda-feira, junho 05, 2023

Após matar Jeff Machado, produtor dopou os cães do ator, diz garoto de programa

Jeander Vinícius da Silva Braga, preso na sexta-feira (2) pela morte do ator Jeff Machado, afirmou à polícia que o produtor Bruno de Souza Rodrigues — também indiciado pela morte e que está foragido desde quinta-feira (1º) — dopou os oito cães de Jeff ao sair da casa dele com o corpo da vítima num baú.


Jeff Machado e seus cães: amor incondicional pelos animais — Foto: Reprodução/Redes sociais


Na primeira vez que falou à polícia, Jeander afirmou que um miliciano identificado apenas como Marcelo assassinou o ator — o que a polícia tinha descartado antes de prendê-lo. Agora, o garoto de programa, que também é padeiro e pedreiro, negou a existência de Marcelo.



O g1 também teve acesso às conversas sobre os cães que, segundo a polícia, Bruno trocou com Diego Machado, irmão da vítima, com o WhatsApp de Jeff. Os diálogos, sempre em texto, foram travados no início de fevereiro — quando parte dos cães já tinha sido encontrada.


O destino dos setters


Os sete cães resgatados. Gilberto Gil, o oitavo, nunca foi encontrado — Foto: Reprodução


No depoimento, Jeander disse que no dia 25 de janeiro — dois dias após dopá-los — Bruno o chamou para levar os cachorros a um terreiro desativado em Santa Cruz. O produtor tinha contratado um “táxi dog” para o transporte.


O terreiro era do pai de santo Jorge Augusto Barbosa Pereira, ex-namorado de Jeander ouvido como testemunha. À polícia, Jorge falou que, dias depois, “recebeu uma ligação de uma vizinha reclamando muito do barulho dos latidos dos cães e do cheiro de fezes” e entrou em contato com Jeander para resolver.



A polícia acredita que Bruno abriu o portão do terreiro e atiçou os cães para fora.


ONG descobriu de quem eram


O primeiro animal resgatado, em 30 de janeiro, foi o setter Cazuza — todos tinham nomes de ídolos da MPB. O cão, muito cansado, vagava por Santa Cruz e chamou a atenção de uma moradora, que acionou a ONG Indefesos.


Em 31 de janeiro, um segundo cão de Jeff, Vinícius de Moraes, foi encontrado em condições parecidas com as de Cazuza em Santa Cruz. Na quarta, 1º de fevereiro, foram achados ainda Nando Reis e Tim Maia, o que despertou a desconfiança sobre o "despejo" de setters em Santa Cruz.



Uma amiga da ONG informou na página deles que essa raça é restrita no Brasil e que os criadores costumam usar chips de identificação nos animais.


Foi assim que se chegou à identidade do dono dos quatro cães: todos pertenciam ao ator Jeff Machado. Ele começou a ser procurado para resgatar os bichos ou ser responsabilizado pelo abandono.


No dia 3 de fevereiro foram achadas as pets Elis Regina, em Paciência, também na Zona Oeste, e Rita Lee, essa já sem vida, vítima de um atropelamento, no mesmo bairro.


No dia 4, foi a vez de Caetano Veloso ser localizado, em Campo Grande, mesmo bairro em que foi encontrado o corpo de Jeff. O animal estava bastante machucado. Gilberto Gil nunca foi encontrado.


Com a repercussão do caso, então tratado como abandono, Bruno passou a falar com o irmão da vítima, tentando se passar por Jeff.


Na trama inventada, o ator estava em São Paulo, gravando.


Bruno e Jeff: ele acompanhou o irmão do ator à delegacia para registrar queixa. — Foto: Reprodução


Os diálogos

“Os bichos que estão me deixando preocupados, porque 4 fugiram. Aí tô aqui, mas com a cabeça lá”, escreve Bruno, fingindo ser Jeff, em 2 de fevereiro.

"Tomei a pior atitude pra vir pra SP e tô sendo massacrado no RJ. Vontade de largar tudo aqui e voltar pra vida triste que tinha lá. Só pra não ficarem me acusando de abandono de animal", prossegue.


“Não faz isso, nego. Segue o teu caminho. Pedra vai ter sempre”, responde Diego.


“Estão me acusando de abandono, estão falando em processo. Vou ignorar”, emenda Bruno. Diego concorda: “Não dá ibope!”


No dia seguinte, 3 de fevereiro, o falso Jeff volta a mandar mensagem para o irmão: “A pressão do RJ tá grande. Se entrarem em contato com a mãe, você acalma ela, pra não ficar preocupada”, pede. “Diz a ela que falou comigo e que eu tô bem.”


“Respira”, rebate Diego. Vai dar tudo certo. Controla tuas emoções. É hora de controlar tudo isso”, aconselha.


De tarde, Diego pergunta: “Jeff, consegue me ligar? Tais aonde? Preciso falar contigo.”


Bruno despista. “Assim que acalmar aqui eu tento. Tá tudo bem?”, diz, afirmando estar “em São Paulo”, “no estúdio”, “trabalhando com produção e marketing”. “Quando sair te ligo”, promete.



Minutos depois, o falso Jeff afirma que o “celular caiu na privada” e “não consegue escutar nada direito”.


“Só te peço pra blindar a mãe, pra ela não ficar preocupada. Ela me ligou várias vezes e eu estava megaocupado”, pede a Diego.


“Não vou admitir que acreditem que abandonei meus cachorros. Se ela perguntar se falou comigo, diz que falamos sim, que conseguiu falar comigo por ligação. Avisa que no final de semana do dia 11 [de fevereiro] estarei no RJ.”


Mais tarde, Diego fala que Patrícia Triacca, criadora de setters e amiga de Jeff, começou uma mobilização para salvar os animais do ator.


“Por favor, se falar com essa maluca da Patrícia, diz a ela que conseguiu falar comigo por telefone, que tô bem e que volto dia 11”, escreve Bruno.


“Ela está pedindo dinheiro”, responde Diego.


“Eu mando pra eles. Se puder me ajudar, faz só isso por favor. Já vai me ajudar muito”, prossegue o falso Jeff.


Diego então acerta pagar R$ 800 e ser reembolsado.


Horas depois, ainda no 3 de fevereiro, Diego muda o tom do diálogo, ao saber do mau estado dos setters.


“Estão perguntando se tais normal. Só falo contigo se me ligar. É sério. Eles não estão brincando, ONG envolvida. Se não dar satisfação eles podem ir na sua casa. Você está jogando tudo fora. Elas dizem que tem provas que você abandonou. Isso é verdade?”



“Não deixa a mãe saber de nada. Não quero ela mal. Não quero ela passando mal por minha causa”, recebe Diego.


O irmão responde: Jeff, deu! Quando puder, me liga. Teus cachorros nessa situação e você aí? Eles querem te pegar. Acabasse com tua carreira!”


No fim da noite, como o irmão não telefonou, Diego volta a mandar mensagens. “Jeff, por favor cara, o que você quer da gente? Para nem da satisfação? Até amanhã, se você não ligar, vou acionar a polícia e estou indo até o Rio”, diz.


“Deixa o telefone pra tocar. Eu vou sair e vou te ligar. Prometo de verdade”, fala Bruno.


No 4 de fevereiro, Diego vai para a polícia dar queixa de desaparecimento — e Bruno o acompanha.


“Tem noção que ele foi comigo à delegacia para registrar a queixa? E que ele sabia o tempo todo onde o Jeff estava? Que Jeff dizia que ele era o melhor amigo dele, e ele teve o carão de entrar com a gente lá? É muita crueldade e frieza”, disse Diego Machado ao g1.


“Ele conversava com a mãe, mentiu e mentiu muito. Disse que pegou dinheiro para ração dos cães. Eu mandava dinheiro para cuidar dos cachorros, quando eles foram aparecendo. Disse que Jeff tinha HIV, tenho exames do Jeff aqui, não tem nada disso”, disse, indignado.


O encontro dos cães abandonados em bairros da Zona Oeste foi fundamental para a família pôr fim a uma dúvida: de que não era Jeff quem falava com eles pelo WhatsApp.


A mãe do ator, Maria das Dores, já desconfiava do modo de se expressar da pessoa, mas não tinha como provar que não era o seu filho e que ele estava, de fato, desaparecido. O abandono dos cães foi prova fundamental para a polícia ir atrás de Jeff, tomando como data do desaparecimento do ator o dia 28 de janeiro.


O despejo de cães pela Zona Oeste também apontou uma direção sobre onde poderia estar Jeff.


Fonte: g1

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