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domingo, maio 28, 2023

Dados da deep web, ‘scripts’ de atendimento e dívidas: veja como bandidos aplicam o golpe do falso empréstimo consignado

A Polícia Civil realizou quase 400 prisões relacionadas ao golpe do falso empréstimo no Rio de Janeiro desde o início de 2023. Segundo a polícia, os golpistas usam dados retirados da deep web para realizar os crimes e lucram até meio milhão por mês. Entre as técnicas dos bandidos, há manuais inclusive para convencer vítimas já lesadas a caírem no mesmo golpe.


Um dos escritórios fechados pela 31ª DP (Ricardo de Albuquerque) — Foto: Reprodução


De acordo com o delegado André Prates, da 31ªDP (Ricardo de Albuquerque) só na distrital, 177 pessoas já foram presas até o fim de maio. Um levantamento do g1 contabilizou ao menos 390 prisões no estado só em 2023. Prates explica que agora os bandidos agora têm alcance nacional.



“As fraudes passaram a não ter dimensão geográfica, eles realizam fraudes em todo o território nacional. Principalmente, eles buscam vítimas de outros estados para evitar serem descobertos”, explica André Prates.


O escritório estava enfeitado para o Carnaval com o tema: 'Carnaval de milhões' — Foto: Reprodução


O objetivo dos bandidos é despistar a polícia e por isso agora as investigações são feitas em parceria com delegacias de todo o Brasil.


Como o golpe funciona

Ainda de acordo com o delegado, os bandidos usam dados da deep web para chegar até às vítimas e possuem um manual de como fazê-las cair no golpe.


“Eles usam dados das vítimas adquiridos na deep web e entram em contatos com essas pessoas pelo telefone se passando por correspondentes bancários. Eles fazem propostas vantajosas de liberação rápida de novos empréstimos ou renegociação de antigos”, afirma ele.



“Os golpistas solicitam os dados pessoais, bancários e fotografias da vítima, sendo comum enviarem um formulário através de um link do Whatsapp e abrem contas nos nomes das vítimas. A partir disso eles fazem a contratação [de um empréstimo] sem a permissão da vítima”, completa o delegado.


O novo empréstimo contratado sem o consentimento da vítima pode ser parcelado diretamente na fonte de pagamento da vítima por anos.


Vítima sofreu golpe dentro de casa


Maria Izileia Machado — Foto: Reprodução/TV Globo


A pensionista do INSS conta que mesmo depois de dois meses de ter sofrido o golpe do falso empréstimo e denunciado o caso nada foi resolvido ainda. A idosa Maria Izileia Machado continua com uma dívida de mais de R$ 100 mil para pagar.



Em março, uma mulher foi até a casa dela para conseguir aplicar o golpe. Ela se passou por uma funcionária do INSS, entregou papéis à idosa e pediu para tirar uma foto dela e da identidade.


Somente isso foi o suficiente para conseguir fazer uma dívida de 80 parcelas de R$ 1,3 mil na pensão que dona Maria recebe. Ao todo, o empréstimo ficou em R$ 104 mil.


“Ela pediu para beber água, conversou aqui comigo e ainda saiu comemorando que tinha conseguido bater a meta do mês”, conta a pensionista.

De acordo com o delegado, a estimativa é que eles lucram de R$ 200 a R$ 500 mil por mês com as fraudes. O perfil das vítimas é justamente idosos e pensionistas do INSS que tenham margem de crédito pré-aprovado ou algum empréstimo já contratado.


Os bandidos passaram seis meses ligando para dona Maria, até que uma representante foi até a residência dela.


Golpistas tentaram aplicar outro golpe na idosa: ofereceram renegociação da dívida — Foto: Reprodução


Mesmo depois do caso ser exposto e denunciado à polícia, os golpistas tentaram novos contatos. Dessa vez, oferecendo uma renegociação da dívida.


Uma mulher entrou em contato pelo Whatsapp para fazer a proposta. Ela enviou os dados do empréstimo e as informações pessoais da dona Maria.


“Uma perturbação bárbara, eles sabem certinho o valor que pegou, querem que eu faça uma portabilidade. Ainda é um novo golpista. Vamos levar na delegacia”, conta.

Segundo a idosa, ela só está conseguindo pagar as contas porque faz salgados para vender e a renda extra deu conta de suprir as necessidades básicas.


“Mesmo assim, eu estou com metade do meu pagamento descontado de uma vez só”, declara.


Inicialmente, ela tentou resolver com o INSS, mas não conseguiu. Depois, com a Defensoria Pública, mas a reunião ficou marcada para outubro.


“Como que eu ia ficar com essa dívida descontando do meu pagamento até outubro? Eu tive que contratar um advogado particular para tentar resolver”, afirma ela.


Um vizinho da idosa caiu no mesmo golpe, conforme ela conta. Ele teve as contas pessoas mexidas, além do empréstimo.


“Mexeram em todas as contas dele ainda, ele chegou a infartar quando descobriu. Tinha acabado de se aposentar”, relata ela.


O manual do golpe


Script de atendimento do golpe do consignado — Foto: Reprodução


As investigações da Polícia Civil apontam que os bandidos seguem manuais de atendimento para conseguir a confiança das vítimas. Veja alguns exemplos:


Para situações em que a vítima já tenha sofrido algum golpe, eles fingem que vão reverter a situação.


“Já foi descontado alguma parcela, o senhor sabe me informar? Por se tratar de uma possível fraude, essas informações são necessárias para que o setor jurídico abra uma investigação, onde entraremos com uma liminar contra o banco”, indicava um dos documentos encontrados em escritórios fechados.


Em outro manual, eles fingiam estar cancelando um empréstimo suspeito para conseguir os dados da vítima - e então realizar um empréstimo no nome dela. Uma outra opção usada pelos golpistas é fingir estar cancelando um cartão consignado.



Uma outra forma que os bandidos encontraram foi fingir ser do governo para atualizar o CadÚnico, ou até mesmo um programa novo do governo federal: o suposto Viver Melhor.


Além dos manuais, os criminosos também recebem instrução de respostas caso a vítima perceba o golpe, como mostra a imagem abaixo.


Com o artifício da persuasão, eles convencem as vítimas, que acabam caindo nos golpes, segundo a polícia.


Formas de responder a vítima caso ela desconfie do golpe do empréstimo — Foto: Reprodução


Fonte: g1

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