Advogados de Jair Bolsonaro afirmaram em entrevista coletiva que o ex-presidente pagava despesas em dinheiro vivo para pequenos fornecedores e fornecedores informais, sem CNPJ.
Os advogados chamaram a imprensa para falar sobre as investigações da Polícia Federal que mostram mensagens de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, determinando a funcionários que gastos da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e de parentes fossem feitos em dinheiro vivo.
Essa prática, segundo a Polícia Federal, dificulta a identificação de quem enviou o dinheiro.
Para a defesa de Bolsonaro, não houve irregularidade.
“Como funcionava? Quando existente CNPJ do fornecedor, o presidente pagava os boletos, e todos os extratos serão apresentados pela defesa. No caso de pequenos fornecedores ou fornecedores informais ou não possuidores de CNPJ, o presidente sacava valores, que eu tenho nesta planilha de todos os meses. E eu colocarei à disposição da imprensa oportunamente”, afirmou o advogado e ex-secretário de Comunicação Social Fábio Wajngarten.
O advogado afirmou ainda que Bolsonaro não usava o cartão corporativo, a que todo presidente tem direito, para gastos d a família.
"O cartão corporativo jamais foi utilizado para pagamento de qualquer custo, ou qualquer compra."
'Pão duro'
A imprensa também questionou a defesa de Bolsonaro sobre mensagens em que Cid determina a funcionários da Presidência pagamentos em nome de Michelle Bolsonaro, ex-primeira dama.
Wajngarten disse que conversou com Michelle e perguntou por que ela não solicitou um cartão de crédito para Bolsonaro. A resposta de Michelle, segundo o advogado, é que Bolsonaro é "pão duro".
"Perguntei à dona Michele há meia hora [sobre o porquê de não ter pedido um cartão para o marido] e ela me respondeu que 'meu marido sempre foi muito pão duro'”.
Mauro Cid Barbosa foi preso no início deste mês por suspeita de falsificar o comprovante de vacinação dele, de familiares, de Bolsonaro e da filha do ex-presidente.
Mensagens de Cid
As mensagens obtidas pela PF mostram ainda Mauro Cid indicando às assessoras que depositassem valores em uma conta bancária de Michelle. As informações foram reveladas em reportagem do site "UOL" e confirmadas nesta segunda-feira (15) pela TV Globo.
As mensagens incluem recibos de depósitos financeiros, enviados por ajudantes de ordens da Presidência em um grupo de aplicativo de mensagens.
Nesse grupo, os funcionários que atendiam Bolsonaro e Michelle pediam a quitação de despesas da então primeira-dama e de parentes dela – e enviavam, em seguida, os comprovantes de pagamen
Em uma dessas mensagens, a assessora Giselle da Silva pede que Mauro Cid fizesse pagamentos mensais a Rosimary Cardoso Cordeiro – amiga de Michelle Bolsonaro.
A Polícia Federal identificou seis depósitos do tipo para Rosimary, entre fevereiro e maio de 2021. Os valores somam R$ 10.133,06.
A PF encontrou, ainda:
seis comprovantes de depósitos feitos por Mauro Cid diretamente para Michelle entre março e maio de 2021, com valor total de R$ 8,6 mil;
mais seis depósitos entre março e maio de 2021, totalizando R$ 8.520, para Maria Helena Braga, que é casada com um tio de Michelle.
A troca de mensagens entre ajudantes de ordens da Presidência da República incluiu ainda o boleto de uma despesa médica dessa tia da ex-primeira-dama no valor de R$ 950,27.
Segundo a PF, esse documento gerou um "alerta" de Mauro Cid no Grupo.
"Mauro Cid encaminha orientação do Exmo. Sr. Presidente da República, no sentido de o pagamento do boleto GRU [Guia de Recolhimento da União] ser feito em dinheiro para 'evitar interpretações equivocadas'", indica o relatório policial.
Já em setembro de 2021, uma assessora de Michelle Bolsonaro envia no mesmo grupo de mensagens um outro boleto de plano de saúde. Desta vez, referente a Yuri Daniel Ferreira Lima, irmão de Michelle, no valor R$ 585.
Em seguida, Mauro Cid envia, também no grupo, o comprovante de pagamento.
No relatório obtido pela TV Globo, a Polícia Federal afirma que fica "evidenciado" que os recursos "saíram da conta pessoal do Exmo. Sr. Presidente da República Jair Bolsonaro".
No fim do mês, a assessora encaminha um novo boleto do plano de saúde de Yuri Daniel para Mauro Cid. E diz que o pagamento foi solicitado por Michelle.
Desta vez, no entanto, Mauro Cid responde com uma mensagem de áudio. O conteúdo da fala consta do documento da PF:
"Não tem como mandar esse tipo de boleto. Quando for assim, me manda só o pedido do dinheiro e vocês pagam por aí, porque isso não é gasto do presidente. Nem da dona Michelle! É, deve ser de um terceiro que ela está pagando aí, a conta desse terceiro aí!", diz Cid no áudio transcrito.
A assessora pergunta, então, se poderia buscar o dinheiro em espécie. Mauro Cid concorda.
PF vê desvio de dinheiro público
No relatório, a Polícia Federal afirma ao STF que as transações descritas e solicitadas nesse grupo de mensagem indicam desvio de dinheiro público para atender despesas da Presidência da Repúblic
"No período compreendido no ano de 2021, em Brasília, por diversas vezes, Mauro Cesar Cid, na condição de ajudante de Ordens da Presidência da República, pessoalmente ou por intermédio de servidores da Ajudância de Ordens, e outras pessoas não identificadas (supridos), desviou e/ou concorreu para desviar dinheiro público oriundo de suprimento de fundos do Governo Federal, em valor total ainda a ser apurado, destinado originalmente ao atendimento de despesas da República", diz o relatório.
fonte: g1
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