Prisões de lideranças do Sindicato do Crime (SDC/RN) e transferências de chefes e nomes influentes das organizações criminosas, além de ações de atuação do Estado em repressão à facção, são apontados como alguns dos fatores para o fim dos ataques no Rio Grande do Norte. A última ação criminosa ocorreu no dia 24 de março e fez parte de uma série de mais de 300 ataques que assolaram o Estado por mais de 10 dias. Interlocutores do Governo do RN não confirmaram a quantidade de lideranças presas, mas segundo os anúncios das prisões feitas pela Polícia Civil, foram pelo menos 17 lideranças presas em várias regiões do Estado e 20 transferências para presídios federais, conforme apurou a TRIBUNA DO NORTE.
Aliado a isso, foram identificadas e presas ou mortas em confrontos com a polícia pelo menos outras nove lideranças do Sindicato do Crime em estados como Paraíba, Ceará, Bahia e Rio de Janeiro.
Para o juiz titular da Vara de Execuções Penais de Natal, Henrique Baltazar dos Santos, a identificação das principais lideranças, seja elas encarceradas ou as da rua acabam desmobilizando as ações criminosas. Ele avalia ainda os custos para a facção manter a sequência desses ataques.
“Desde o início eu tinha dito que as facções não teriam fôlego para segurar isso por muito tempo. Custa caro, não só nos gastos para fazer, mas no que se perde de ganhar. Se você canaliza os esforços para enfrentar o Estado, custa caro e as facções não podem fazer isso a todo tempo. Depois também teve a reação estatal. Houve uma demora inicial, mas depois a polícia dedicou esforços nos enfrentamentos. Então junta isso com o recado que eles queriam dar de tentar emparedar o Estado. O enfrentamento resultou em muitas prisões”, cita.
Ainda segundo o magistrado, as transferências dos presos para unidades federais, como Rondônia e Mato Grosso do Sul, por exemplo, também gera desmobilização e acaba por trazer custos às facções criminosas. “Há toda uma despesa diferente para esse pessoal ter contato com familiares e advogados. Isso é caro. O sujeito que estava na rua tendo renda com tráfico, vai deixar de ter, pois foi preso”, acrescenta Baltazar.
“Não só as prisões das lideranças, mas as transferências para os federais. Isso é um contra estímulo: se eles faziam um movimento para controlar o sistema, que é o que me parecia de objetivo, a consequência foi não conseguir, ter mais gente presa e mais gente afastada, isso influenciou. Mas não podemos analisar de forma simplista: não podemos afirmar que eles não conseguiram o que queriam. Conseguiram a visibilidade para órgãos federais olharem as pautas dele. O Estado não pode afirmar que venceu essa guerra”, aponta o magistrado.
Para o secretário de Segurança e Defesa Social do Rio Grande do Norte, Coronel Francisco Araújo, a resposta das forças de segurança aos criminosos, com integração entre policiais, Ministério Público e Judiciário, além da chegada da Força Nacional, explicam o fim dos ataques.
“Atribuímos [a cessação] ao enfrentamento à criminalidade com a união de esforços de todas as forças de seguranças pública” disse. Segundo Araújo, 400 homens da Força Nacional seguem no RN e ainda não têm data para retorno. “As prisões de pessoas que são apontadas como líderes de determinados territórios são decorrentes de investigações. Lamentavelmente, alguns trocaram tiros com policiais. Essa soma de fatores, com prisões dessas lideranças, enfraqueceu esses grupos no tocante às ações no RN”, disse.
A motivação dos ataques, segundo interlocutores da segurança pública, seriam por regalias e melhorias nas condições de presídios do RN. Entre os pedidos estariam TV em celas, ventiladores e a regulamentação da visita íntima. Fontes da segurança pública disseram à TRIBUNA DO NORTE que a rigidez e o controle do sistema penal potiguar, sem acesso à celulares, por exemplo, também estão entre as motivações.
“Ao nosso ver, essas associações criminosas do RN têm um poder de fogo que não dura muito. Eles têm muitos chefes, criam várias lideranças e eles mesmos acabam com elas. É um poder paralelo fragilizado e que não aguenta pressão do próprio Estado. Algumas lideranças foram presas, outras mortas. Os ataques aconteceram aqui porque são ações voltadas a afrontar o Estado. O único estado do Brasil que de fato tem o controle prisional pelo Estado é o RN. Em outras unidades têm celular, não tem procedimento. Por isso esses presos querem ir para outros estados. O RN é referência e está tentando se organizar, a polícia está junto, quando o sistema está sob controle a polícia tem mais facilidade de fazer seu trabalho aqui fora”, explica a presidente do Sindicato dos Policiais Penais do RN, Vilma Batista.
A presidente do Sindppen disse “lamentar” a atuação e deliberações de órgãos de direitos humanos. Nesta semana, o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) sugeriu ao governo e ao CNJ a edição de um indulto emergencial para conceder o perdão a todas as pessoas acusadas por crimes sem violência ou grave ameaça no RN. A medida seria uma maneira de reduzir a superlotação dos presídios, segundo o documento.
“Tudo isso se iniciou no RN justamente pelo trabalho que a polícia faz aqui. Várias apreensões de drogas, armamentos, fuzis, então esse trabalho desfalcou e deu prejuízo às facções. E agora estão utilizando dessas falas desses mecanismos que vêm somente justificar e favorecer as ações criminosas. Quando eles falam em uma crise, que não existe pois o sistema está sob controle, eles estão criando uma crise para justificar isso e implantar políticas que favoreçam o crime organizadoo”, disse Vilma Batista.
Ordens para ataques partiram de vários estados
Os ataques que assustaram o Rio Grande do Norte durante o mês de março chamaram a atenção por dois fatores: terem partido de dentro de presídios potiguares, como o Complexo de Alcaçuz, e ainda de outros estados, como Paraíba, Bahia, Ceará e Rio de Janeiro.
Os dois casos mais recentes aconteceram nesta semana, com a prisão de Luiz Andemberg Virgílio Ferreira, o “Berg Curinga”, e de Andreza Cristina Lima Leitão, a “Bibi Perigosa”.
“Curinga” foi preso na manhã desta quarta-feira (05) em uma comunidade no bairro Lins de Vasconcelos, na zona Norte do Rio de Janeiro. Para encontrar o investigado, houve troca de informações entre policiais do RJ e do RN para chegar até o local exato do suspeito. O homem era apontado como o principal líder que ainda estava em liberdade do Sindicato do Crime após a morte de José Wilson da Silva Filho, conhecido como "Argentino", que no dia 15 de março trocou tiros com a Polícia Civil, em João Pessoa, na Paraíba.
A investigação aponta que Argentino distribuía armas e dinheiro para o grupo que fez os ataques. Já "Berg Curinga possuía seis processos criminais relativos a homicídios, roubos e organização criminosa, além de mandados de prisão. Ele é apontado como um dos principais mandantes dos atos criminosos ocorridos no Rio Grande do Norte.
Já no caso de “Bibi Perigosa”, presa no último domingo (02) na zona Oeste do Rio, ela é apontada como chefe da facção criminosa potiguar Sindicato do RN, herdada do marido, a quem tentou salvar de uma execução. Ela estava refugiada no RJ havia quase três anos, com o nome falso de Rafaela de Freitas Carvalho. Andreza nega as acusações. Segundo as investigações, Andreza ordenou do Rio a sequência de ataques em seu estado de origem.
No caso da Bahia, foram identificados, no dia 16 de março, pelo menos três homens identificados de ordenar os ataques de dentro da Penitenciária Lemos Brito, em Salvador. Os homens escondiam dentro de um chuveiro os itens usados na comunicação necessária para comandar os crimes: dois celulares, dois fones de ouvido e um carregador.
No dia 21 de março, policiais foram dar cumprimento a um mandado de prisão contra Francisco Alisson de Freitas, conhecido como “Nazista”, que atirou contra os agentes numa operação na zona rural de Icapuí-CE. Ele foi alvejado e faleceu no hospital após ser socorrido. “Nazista” comandava os ataques da facção no município de Mossoró.
Fonte: Tribuna do Norte
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