A Polícia Civil do Distrito Federal concluiu que o assassinato de dez pessoas da família da cabeleireira Elizamar da Silva foi motivado pela posse de uma chácara avaliada em R$ 2 milhões, na região do Paranoá. Antes dos crimes, no entanto, as terras já eram alvo de uma disputa na Justiça, movida por outra família de Brasília.
De acordo com o advogado Cristiano Fernandes, o terreno de 5,2 hectares — do tamanho de cerca de cinco campos de futebol — é de propriedade da família que entrou na Justiça há mais de 40 anos, mas estava sendo ocupado indevidamente por Marcos Antônio Lopes de Oliveira, Renata Juliene Belchior e Gabriela Belchior desde 2019. Eles foram mortos na chacina e eram sogro, sogra e cunhada da cabeleireira Elizamar.
"O terreno está formalizado. Tem uma escritura pública, registrada em cartório no nome da família", diz o advogado.
Segundo Fernandes, um caseiro que cuidava das terras com contrato de trabalho assinado pela família repassou a vaga de forma irregular para outra pessoa, que passou a ocupar o terreno (veja detalhes abaixo).
Em 2019, o local teria sido repassado da mesma forma para Marcos Antônio. Ao g1, o advogado da família de Elizamar, João Darc's Fernandes Costa, afirmou que eles não conheciam os detalhes envolvendo o processo judicial, que estava sob responsabilidade de Marcos Antônio.
Ocupações irregulares
O g1 teve acesso à escritura pública do terreno, que traz o nome de Álvaro Pedro Cardoso Ávila (veja acima). Segundo o documento, a terra foi comprada em 1982, à época, por 5 milhões de cruzeiros.
O advogado Cristiano Fernandes afirma que a herdeira do terreno fez uma locação com a avó, proprietária das terras, para uso do local. Lá, ela exerceu a profissão de veterinária.
No entanto, com o tempo, a família deixou de ir à chácara com frequência e passou a usá-la apenas aos fins de semana. Para fazer a manutenção do local, eles contrataram um caseiro, afirma Fernandes.
"Ele ficou lá entre 2012 e 2019, com contrato de trabalho, carteira assinada e todos os direitos trabalhistas pagos. Depois, ele simplesmente resolveu sair", conta o advogado.
No entanto, antes de ir embora, Fernandes afirma que o homem redigiu um contrato de cessão da vaga de trabalho. Segundo o advogado, ele não tinha autorização para isso.
"Como se você trabalhasse, decidisse ir embora e colocasse alguém no seu lugar, sendo que seu chefe teria apenas que aceitar", explica.
Quando a família descobriu que outra pessoa estava morando no local, pediu para que o homem saísse. Mas Fernandes alega que, em seguida, a região foi novamente ocupada de forma irregular.
"Dois meses depois, ele saiu, mas fez a mesma coisa que o caseiro, e o Marcos [sogro da cabeleireira Elizamar] começou a ocupar o terreno em meados de 2019", diz o advogado.
Disputa judicial
O advogado Cristiano Fernandes explica que a família da proprietária do terreno pediu que Marcos Antônio deixasse a chácara, o que não aconteceu. Por isso, a família decidiu acionar a Justiça.
"Entramos com uma ação de reintegração de posse e fizemos um boletim de ocorrência. Tentamos uma liminar, que não foi deferida porque já tinha mais de um ano [de ocupação]. Pelo Código de Processo Civil, o juiz não pode dar liminar com mais de um ano e um dia. Ele tem que ouvir o réu e decidir depois", diz Fernandes.
O próximo passo do processo foi uma audiência, em 2022. No entanto, o contrato de locação do terreno pela herdeira já tinha terminado, e a proprietária da chácara havia falecido. Por isso, a família precisou desistir do processo inicial e entrar com um novo, que incluía o espólio, além dos pedidos iniciais.
Após a tragédia que acabou com a morte dos familiares de Elizamar, a defesa da família da proprietária do terreno recomendou que os processos fossem encerrados e os herdeiros tomassem a posse de volta da chácara.
Maior chacina da história do DF
A Polícia Civil afirmou que dez pessoas, inclusive três crianças, foram mortas para que não houvesse herdeiros para o terreno dos familiares de Marcos Antônio. As vítimas do crime são:
Elizamar Silva, de 39 anos: cabeleireira;
Thiago Gabriel Belchior, de 30 anos: marido de Elizamar Silva;
Rafael da Silva, de 6 anos: filho de Elizamar e Thiago;
Rafaela da Silva, de 6 anos: filha de Elizamar e Thiago;
Gabriel da Silva, de 7 anos: filho de Elizamar e Thiago;
Marcos Antônio Lopes de Oliveira, de 54 anos: pai de Thiago e sogro de Elizamar;
Renata Juliene Belchior, de 52 anos: mãe de Thiago e sogra de Elizamar;
Gabriela Belchior, de 25 anos: irmã de Thiago e cunhada de Elizamar;
Cláudia Regina Marques de Oliveira, de 54 anos: ex-mulher de Marcos Antônio;
Ana Beatriz Marques de Oliveira, de 19 anos: filha de Cláudia e Marcos Antônio.
Já os suspeitos de envolvimento no crime são:
Gideon Batista de Menezes;
Horácio Carlos Ferreira Barbosa;
Fabrício Silva Canhedo;
Carlomam dos Santos Nogueira;
Carlos Henrique Alves da Silva;
Um adolescente de 17 anos.
Para os investigadores, os criminosos acreditavam que, sem herdeiros, poderiam assumir a posse das terras e vendê-las posteriormente. A polícia ainda não identificou se já havia um possível comprador.
Fonte: g1
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