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segunda-feira, janeiro 16, 2023

Dízimo golpista: 4 pastores donos de igreja são presos e 13 flagrados incitando ataques no DF

A Polícia Federal prendeu ao menos quatro pastores donos de igreja que participaram diretamente dos ataques golpistas de 8 de janeiro em Brasília. O levantamento da Lupa, produzido pela Lagom Data, cruzou dados da lista oficial dos 1.398 detidos e a CNAE, que reúne a Classificação Nacional de Atividades Econômicas de todas as organizações do país. 


Entretanto, o envolvimento de religiosos nesses eventos pode ter sido ainda maior. Outros 13 líderes religiosos aparecem na base de dados colaborativa Lupa nos Golpistas incitando ou aderindo às invasões ao Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto.


Este conteúdo foi produzido pela Lupa a partir da base de dados colaborativa de postagens antidemocráticas. Viu ou recebeu posts incitando os atos golpistas? Clique aqui e mande para a Lupa.

Agradecemos pela colaboração e pela ajuda. Com o apoio de todos, continuamos com o projeto colaborativo que busca entender como foram organizados os atos de vandalismo no DF.


Entre os já encaminhados às penitenciárias do Distrito Federal está Francismar Aparecido da Silva, que se apresenta como "pastor presidente” da igreja Ministério Evangelístico Apascentar. Aos 46 anos, o religioso coleciona na internet imagens de protestos bolsonaristas em que há cartazes convocando as Forças Armadas para “salvar” o Brasil. Nas postagens mais recentes no Facebook, Francismar questiona: "Se não tiver luta, como vai ter vitória?". Em resposta, ele colhe comentários com a palavra "amém". A igreja de Francismar tem sede em Itajubá (MG) e consta na Receita Federal como sendo uma entidade ativa.


Perfil do Facebook do pastor Francismar


João Marciano de Oliveira, de 47 anos, dono da igreja Jesus Cristo é a Razão do Meu Viver, em Ribeirão das Neves (MG), também foi preso na capital federal. No Facebook, ele prega "limpeza do STF" e posta fotos com elogios ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a sua mulher, Michelle. A entidade dirigida por ele está ativa.


Postagem feita pelo pastor João Marciano


O terceiro pastor detido é Donizete Paulino da Paz, de 56 anos. Ele é dono da Igreja Assembleia de Deus - Ministério O Deus das Nações, ativa e com sede em Luziânia (GO). Nas redes sociais de Donizete há apenas uma foto publicada, em que ele aparece pregando em um culto. 


Também aparece na lista o pastor Jorge Luiz dos Santos, de 57 anos, presidente da Igreja Evangélica Amor de Deus João 3:16, de Itaverava (MG). A instituição foi fundada em 14 de julho de 2016 e permanece ativa. A Lupa não localizou as redes sociais do religioso.


Postagens nas redes


Uma análise das denúncias feitas de forma espontânea e anônima à base Lupa nos Golpistas mostra que, pelo menos, outros 13 líderes religiosos foram flagrados incitando, celebrando ou mesmo aderindo à depredação em Brasília. Muitos deles usaram o nome de Deus para justificar suas participações.


"Estou no Senado Federal aqui, ó, missionário Felicio Quitito, servo do Deus vivo", exclama o pastor, enquanto se senta em uma das poltronas azuis que compõem a mesa do Congresso. "É isso aí. Jair Messias Bolsonaro, você vai estar voltando para esta nação e continuará o seu governo".


Na mesma gravação, Quitito ainda diz que "toda a obra da macumba e da feitiçaria caiu por terra", numa referência às religiões de matriz africana e às invasões dos edifícios públicos da capital. O missionário, cujo nome é Felício Manoel Araújo, também está na lista de presos divulgada pelo governo do Distrito Federal. 


Conhecido nas redes sociais, o pastor goiano Thiago Bezerra também esteve nos atos terroristas e transmitiu, em sua conta do Instagram, momentos do ataque. “Vou mostrar para vocês onde eu estou”, diz o pastor, exibindo uma multidão já dentro de um dos prédios dos três poderes. É possível ver, na gravação, que o local já estava depredado.


O pastor ainda pediu, durante uma live, que as pessoas seguissem uma conta reserva no Instagram, dando a entender que o perfil usado por ele poderia ser derrubado. “Gente, com urgência. Segue essa conta aqui [@ da conta]. Vocês já sabem do que eu estou falando”, afirmou. As duas contas usadas por Thiago Bezerra não estão mais disponíveis na plataforma.


Um dia após os ataques, contudo, o pastor fez uma live em seu canal do YouTube defendendo a narrativa que vem sendo compartilhada por bolsonaristas de que havia infiltrados da esquerda nos atos. “Tinham pessoas infiltradas no meio de patriotas. Porque em 70 dias de manifestação pacífica não houve quebradeira. Vocês não acham que tinha um circo preparado lá?”, argumentou.


O envolvimento de religiosos na convocação dos ataques também aparece no material recebido pela Lupa. Em postagem feita no Instagram, uma pessoa que se identifica como pastora Marta Nunes diz que "o mundo todo precisa saber que nossas eleições foram fraudadas", propondo uma greve geral.



No YouTube, o pastor Luciano Cesa, que foi candidato a deputado federal pelo Patriotas-RS, reclama do que chama ser censura, enquanto bebe um chimarrão diante de centenas de espectadores. Para evitar que seu vídeo fosse fisgado por sistemas de monitoramentos em redes sociais, Cesa soletra a palavra "direita" e diversas outras ligadas ao extremismo bolsonarista e, em seguida, convoca sua audiência a não ficar parada.



"Agora o povo tem que se manifestar. O próprio presidente [Bolsonaro] disse ‘o melhor está por vir’", alega. Nos comentários da transmissão ao vivo, há pessoas afirmando que lotarão Brasília, enquanto outros elogiam sua capacidade "de falar por entrelinhas". 

A Lupa tentou entrar em contato com todos os religiosos citados, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem. 

Nota da reportagem: Todos os nomes dos pastores presos citados nesta reportagem tiveram audiência de custódia marcada em algum momento. 

Em decorrência dos ataques em Brasília, a Lupa pede a colaboração de seus seguidores para montar uma base de dados que reúna postagens antidemocráticas feitas em redes sociais ou aplicativos de mensagem. Este é um projeto colaborativo que busca entender como foram organizados os atos de vandalismo. Se você viu ou ouviu alguma postagem convocando para os ataques, colabore preenchendo este formulário. O conteúdo será usado para fins jornalísticos e/ou de pesquisa, e pode ajudar em futuras investigações sobre as invasões de 8 de janeiro de 2023.


Fonte: Folha de São Paulo

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