O Conselho Regional de Medicina do Rio, o Cremerj, informou nesta terça-feira (17) que abriu uma sindicância para apurar o que houve no caso da jovem de 24 anos que teve a mão amputada após o parto.
"Neste momento, o conselho está verificando os fatos junto aos responsáveis técnicos do grupo NotreDame Intermédica. Após a conclusão da sindicância, um processo ético-profissional (PEP) poderá ser instaurado para julgar o ocorrido. O Cremerj reitera que o caso será apurado com rigor e celeridade.", informou em nota.
A situação aconteceu em outubro de 2022, quando ela deu entrada para dar à luz de parto normal no Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, teve uma hemorragia no pós-parto e precisou colocar um acesso para medicação na mão esquerda.
Esse acesso resultou em uma nova complicação, que levou a amputação do membro.
No entanto, até hoje a jovem e sua família não sabem que complicação foi essa, se ela poderia ter sido evitada e por que a família não foi informada desde o início.
O caso foi registrado na 41ª DP, no Tanque, na quinta-feira(12), e já está sendo investigado pela Polícia Civil que finaliza o laudo do corpo de delito da jovem.
Vergonha de sair de casa
Ao g1, ela contou que, mesmo após três meses amputação, ela ainda tenta se adaptar a nova rotina em casa, com os filhos - ela é mãe de três meninos de 8 e 4 anos, além do bebê de 3 meses, e com seu próprio corpo.
"Tem um mês que tive coragem de olhar para o meu braço sem mão. Não gosto de olhar. Ainda não me aceito nessa nova versão. Também não saio de casa, tenho vergonha que olhem pra mim. Acho que está todo mundo me olhando", disse a mulher, que não quis ser identificada.
Por causa da perda da mão, ela não pode dar banho no filho mais novo. Também não pode amamentar nos primeiros dias, já que ficou 17 dias internada no hospital.
“Tem certas coisas que eu não posso fazer com ele, que eu já tinha feito com os meus dois outros filhos. Também não sei como vai ficar no meu trabalho quando eu voltar. Era fiscal em um mercado e precisava das duas mãos para exercer a função", contou.
Atualmente, ela está de licença-maternidade.
A mulher conta com a ajuda da mãe e do marido para tentar superar esse momento difícil.
"Mexeu com a vida de todo mundo. A gente teve que se readaptar para poder ajudá-la, já que não consegue fazer muita coisa sozinha", afirmou a mãe da jovem.
Ela contou ainda que precisou ter mais cuidado com as crianças logo que voltou para casa, para que os filhos mais velhos não pensassem que a culpa da mãe estar sem a mão era caçula.
"Era para ser um momento feliz", disse.
O caso
Uma jovem de 24 anos se internou no Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá, para dar à luz de parto normal. Ela teve uma hemorragia logo após o procedimento, uma chamada inversão uterina, e recebeu um acesso venoso na mão esquerda.
O local inchou e foi ficando roxo. O único cuidado aplicado na região, de acordo com a família, foi uma bolsa de gel quente que, em dado momento, chegou queimar a jovem.
Ela foi transferida para o Hospital da Mulher Intermédica de São Gonçalo, da mesma rede, onde teria um CTI para recebê-la. Lá, foi constatada a gravidade do problema na mão, com possível quadro de trombose - que nunca foi confirmado -, e foi preciso amputar o membro pra salvar o braço.
A jovem ainda precisou voltar ao hospital, cerca de 45 dias depois do parto e já sem a mão, para se submeter a uma curetagem por sucção - raspagem da cavidade uterina - porque o hospital teria esquecido algum material dentro do corpo.
"Cerca de 45 dias depois do parto, minha filha teve um sangramento, uma hemorragia. Foi para o hospital, e lá disseram que ela teria que se submeter a uma nova cirurgia, pois esqueceram alguma coisa dentro dela, mas não souberam dizer o que era porque não tinham um exame de imagem para analisar antes. Foram direto fazer a curetagem por sucção, e ela teve que ficar mais dois dias internada", conta a mãe da mulher.
A advogada que cuida do caso afirmou que já entrou na Justiça contra a unidade de saúde, e que um inquérito policial foi registrado na 41ª DP (Tanque), para dar início às investigações sobre o que aconteceu.
“Isso foi uma sequência de erros que devem ser todos apurados, nas esferas criminal, administrativo e cível. Vamos pedir as reparações de que têm a responsabilidade civil: dano estético, dano moral e material. E vamos fazer um levantamento da parte da imprudência, negligência e imperícia, que é a parte criminal”, destacou a advogada Monalisa Gagno.
O que diz o hospital
Por meio de nota, o Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá afirmou que se solidariza com a vítima e lamenta o ocorrido. A unidade afirmou ainda que vai apurar o caso e os procedimentos adotados durante o atendimento da jovem e disse estar à disposição para esclarecimentos.
A Polícia Civil informou que o caso foi registrado como lesão corporal culposa, que está ouvindo testemunhas e que pediu os documentos médicos para ajudar nas investigações.
Fonte: g1
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